Tempestade
Medeiros e Albuquerque
Andam por certo na
floresta escura
sátiros ébrios sacudindo
os troncos...
Há pavorosos e terríveis
roncos
na goela estéril da
montanha dura...
Chove... Desabam
catadupas brutas
no dorso negro e funeral
da terra...
Chispas rebrilham de medonhas
lutas
de mil titãs em temerosa
guerra...
A luz estende pelo ar
funéreas
mortalhas brancas de
esmaiada tinta;
dos astros louros e
gentis – extinta,
não brilha a chama nas
soidões etéreas.
O mar... o mar alucinado,
doudo,
urra, empolando os
vagalhões irados,
que sobre as praias
arremessa a rodo,
com lastimosos, com
plangentes brados...
E há quem agora a
tiritar, medroso,
trema e, de prantos
rorejando a prece,
a Deus implore que a
bonança apresse,
que se desfaça o temporal
iroso!
Oh! não!... Há sempre sob
o firmamento
muito rugido! muita dor
profunda!
Ninguém abafa o perenal
lamento
que em vão de prantos a
miséria inunda!
Tu, pois, Tormenta – p’ra
que enfim acabe
da Dor o negro pesadelo
infando –
vê se, em teus braços
colossais o alçando,
fazes que o Cosmos com
fragor desabe!
Vê se do Nada à solidão
sombria
arrojas tudo com furor
insano!
– Bem pode ser que na
amplidão vazia
então se apague o sofrimento
humano...
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