Variação I
Ana Hatherly
a manhã acontece quando
no movimento aparente da sucessão
dos dias e das noites a
terra de súbito ilumina o sol não
tão de súbito porém que o
dia acontece lentamente acontece
tudo lentamente porém só
de súbito se torna real e súbito
é tudo o que foi lentamente
acontecendo até ao momento de
explodir em realidade
súbita de súbito é manhã como de súbito
brota uma fonte e tão
subitamente intermitente como o dia
a fonte é uma súbita
intermitência fenómeno que se explica
pelo principio do vaso de
tântalo e toda a magia de uma
fonte resulta do súbito
escoamento do ramo maior de um
sistema de comunicantes
cujo sifão escorvado permite a
passagem do formoso líquido
de um vaso para outro existente
pelo seu fluir e origem
da origem fluente e como leonor
é um produto da sucessão
dos dias e das noites e do facto
de erguer-se de seu leito
onde esteve intermitente durante
a noite escura e
subitamente irrompe a fonte o dia e leonor
poisa o pé no chão frio
vaso onde nasce a verdura e na ponta
de seus dedos estremecem
os filamentos das nervuras das
folhas e leonor treme e seus
nervos estremecem até ao registo
das sensações e a
mensagem da verdura está na origem de
seus nervos motores
transmitirem ordens por seu corpo
e os belos músculos
flectem em sua perna para trás
em sua coxa para cima em
seu ventre para dentro
em seus ombros para
diante e em sua cabeça para baixo
e os músculos orbiculares
recebem a mensagem da verdura
e quase cerram as suas
belas pálpebras
e sua pupila se contrai e
um arrepio
em seus seios endurece a
rosada floração de seus mamilos
e tudo isto acontece na
intermitência do mecanismo da
sensibilidade só
porque é manhã e surge o
dia
e brotam as fontes e há verdura
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