16 setembro 2016

Ceteris paribus

Pascal Boyer

O pensamento de qualidade requer estilo intelectual. O estilo consiste principalmente em evitar alguns erros cruciais, os quais, infelizmente, são tão difundidos quanto prejudiciais. Pensar requer o uso de instrumentos adequados, e o instrumento sobre o qual quero lhe falar é, talvez, o mais modesto de todos. Uma ferramenta tão discreta em algumas teorias que algumas pessoas nem notam sua existência. Ainda assim, esse instrumento é usado; e não apenas isso, se ele não for usado você não pode ‘fazer’ ciência. E, sob o meu ponto de vista, você nem ao menos pode pensar sobre qualquer problema, científico ou não, de um modo que realmente faça sentido. Deixe-me ir ainda mais adiante. Existe uma diferença entre aqueles que usam esse instrumento e aqueles que não o fazem. A comunicação entre os dois grupos de pessoas é sempre difícil. O instrumento tem um nome em latim que o torna respeitável e misterioso, ceteris paribus, e uma tradução em português que é, de fato, mais enganosa por ser tão simples: tudo o mais (ou outra coisas) sendo invariável. Se você despender algum tempo pensando sobre o que essa frase significa realmente, e como pode ser usada, logo perceberá alguns aspectos importantes do estilo intelectual.
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Fonte: Brockman, J. & Matson, K., orgs. 1997. As coisas são assim. SP, Companhia das Letras.

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