Partida ou fuga?
Pável Bassínski
Na noite de 27 para 28 de
outubro [8 para 9 de novembro] de 1910, no pequeno município de Krapívenski, na
província de Tula, aconteceu um fato incrível, extraordinário, mesmo para um
lugar tão incomum, como Iássnaia Poliana, propriedade do mundialmente famoso escritor
e pensador russo Lev Nikoláievitch Tolstói. O conde, de 82 anos de idade, fugiu
às escondidas de sua casa, tomando rumo desconhecido, acompanhado de Makovítski,
seu médico particular.
[...]
Tolstói foi-se embora
para morrer. Foi um ato de libertação do titã espiritual de seu cativeiro
material. “Libertação de Tolstói”... Como soa bonito! Uma variante atenuada:
assim como um animal bravio abandona o grupo, sentindo a aproximação da morte,
Tolstói, ao sentir a aproximação do fim inevitável, fugiu de Iássnaia Poliana.
Essa é também uma bonita versão pagã, publicada por Aleksandr Kuprin nos
primeiros dias após a partida.
Mas o comportamento de
Tolstói não foi o de um titã que resolveu fazer um grandioso gesto simbólico. E
muito menos o retiro de uma fera velha, porém forte. Foi o ato de um velho
fraco e doente, que sonhou ir embora durante 25 anos. Não se havia permitido,
contudo, enquanto ainda tinha forças, porque considerava isso cruel em relação
à mulher. Mas, quando as forças se esgotaram e as discórdias familiares chegaram
ao ponto mais alto de efervescência, ele não viu outra saída nem para si nem para
os que o cercavam. Foi-se embora no momento em que, fisicamente, não estava nem
um pouco preparado para isso. Quando lá fora era fim de outubro. Quando nada
estava pronto e até mesmo os mais fervorosos adeptos de sua partida, como Sacha,
não se davam conta do que significava um velho ficar perdido nesse mundo.
Justamente então, quando sua partida quase inevitavelmente significava morte
certa. Tolstói já não tinha mais forças para permanecer em Iássnaia Poliana.
[...]
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