As sete pragas da universidade brasileira
Rogério Cézar de Cerqueira Leite
O primeiro grande mal da
universidade brasileira é o regime de tempo parcial. De acordo com este regime
o professor tem a obrigação de se dedicar 12 horas por semana à universidade.
Como consequência, duas situações diferentes ocorrem frequentemente: a) aquela
do professor-caixeiro-viajante que, desnutrido física e intelectualmente, ganha
seu pão itinerantemente, em diferentes cidades às vezes, sem tempo de se
atualizar e de se dedicar, minimamente que seja, à pesquisa e à reflexão;
verdadeiros Zumbis, vomitando conhecimentos obsoletos e, frequentemente,
errôneos ou viciados; b) a segunda situação, também bastante frequente, é a do
professor diletante: advogados, médicos e engenheiros, motivados quase sempre
por uma simplória vaidade, nas horas vagas, são ‘professores universitários’.
[...]
A segunda grande praga da
universidade brasileira é a vitalicidade de cargos e o resultante imobilismo.
Devemos hoje reconhecer, e mesmo os mais fanáticos adversários da cátedra
vitalícia, que este era o menor dos males. Maior mal é o aprendiz vitalício e a
consequente incompetência vitalícia. Hoje, por força de lei, ingressa o jovem
recém-formado no serviço público por concurso, adquirindo, na prática, direitos
vitalícios. [...]
A terceira desgraça da
universidade brasileira advém de seu isolacionismo. Isolacionismo este gerado
pela mediocridade e consequente insegurança. Inicia-se com a própria legislação
do funcionalismo público que impede o acesso a estrangeiros. [...]
O quarto grande
infortúnio da universidade brasileira é a burocracia. A burocracia é como
certas doenças intestinais que, uma vez instaladas, são praticamente
impossíveis de serem rechaçadas. Sobrevivem incipientemente, despercebidamente,
por longos períodos de tempo, à espreita de um eventual enfraquecimento do
organismo. [...]
A quinta desdita que
assola a universidade brasileira é uma tendência à compartimentalização. Quando
se eliminou a cátedra vitalícia, pensou-se que se resolveria este problema.
Entretanto, inesperadamente, muitos departamentos se transformaram em cátedras
intumescidas.
[...]
A sexta desventura de que
sofre de maneira crescente a universidade brasileira é a falta de autonomia.
Não foram necessárias as ‘regrinhas’ do Ministério da Educação para ‘fazer’ as
universidades de Harvard e Oxford. É realmente absurdo pretender-se que os
mesmo preceitos sejam aplicáveis às universidades ideais para o estado do Acre
e para São Paulo.
[...]
A sétima e última praga da
universidade brasileira é o gigantismo. É um mal recente no Brasil e
compartilhado com outros países. A Universidade de Buenos Aires tem 230 mil
estudantes, mas não é uma universidade; é um conjunto de escolas superiores,
algumas das quais atingindo internamente certas características universitárias.
[...]
Estas são as sete pragas
de natureza institucional da universidade brasileira. Como doenças cada uma
reforça-se nas outras. Dificilmente erradicar-se-á uma sem se atuar sobre as
demais. E como doenças devem ser tratadas com presteza, antes que seja tarde
demais.
1 Comentários:
existe as sete pragas revisitadas.
Postar um comentário
<< Home