A sombra do vento
Carlos Ruiz Zafón
Ainda me lembro daquele amanhecer em que meu pai me levou pela primeira vez para visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos. Despontavam os primeiros dias de verão de 1945 e andávamos nas ruas de uma Barcelona aprisionada sob um céu cinzento, com um sol de vapor que se derramava na Rambla de Santa Mônica como uma grinalda de cobre líquido.
– Daniel, o que você vai ver hoje não pode contar a ninguém – advertiu meu pai. – Nem ao seu amigo Tomás. A ninguém.
– Nem a mamãe? – perguntei, em voz baixa.
Meu pai deu um suspiro, amparado naquele sorriso triste que o perseguia como uma sombra pela vida.
– Claro que sim – respondeu, cabisbaixo. – Com ela não temos segredo. A ela você pode contar tudo.
[...]
Fonte: Zafón, C. R. 2007 [2001]. A sombra do vento. RJ, Objetiva.
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