Chegar aqui
É claro que tudo isto é uma chatice
Estávamos habituados a acreditar em qualquer coisa
Fosse A Terra Prometida O Dia de Amanhã ou A Esperança
Assim chamada para ser sabe-se lá o quê
Brasil ou África talvez Europa
Havia uma fé uma fezada uma saída
Havia aquela luz de que falou Jorge de Sena
Esperança era o seu nome
Uma pequena luz Não isto
A aventura partiu para outros lados
A retórica aumenta
A vida baixa
Não há lugar para a beleza
Não há tempo
Eis a cidade com seu rosto desolado
Degradação é o nome destes dias
Amigos que desgraça etc. António Nobre
Ou Camilo Pessanha Eu vi a luz
Em um país perdido
Mas agora nem essa É só chatice
E perdição
E navegamos tanto tempo
São Gabriel Santa Maria Frol de la Mar
Não há dúvida temos um passado
Talvez de mais
Talvez tanto que não deixa lugar para o futuro
Mas fomos pelo mar chegamos longe
E agora Portugal o que será de ti
Se não formos capazes de chegar
Aqui
Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1984.
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