A vida na copa da floresta
Donald Perry
Lá pelo meio-dia, o tempo começou a mudar. Imensas nuvens cúmulo-nimbus se aproximavam, vindas do litoral do Caribe. Pensei em ir embora, mas não podia deixar de ver os polinizadores, que provavelmente chegariam mais no fim da tarde ou mesmo durante a noite. Não se sabia, até essa ocasião, que após meados de julho era raro encontrar abelhas no dossel, mesmo havendo flores em abundância para atraí-las. Examinei o toldo de proteção contra a chuva e torci para que a rede correspondesse às minhas expectativas; então relaxei e fiz um lanche tirando de minha mochila um sanduíche de pasta de amendoim com geleia e suco de fruta.
À medida que a tempestade se aproximava, comecei a duvidar da sensatez de permanecer na árvore. A nuvem que chegava era esmagadora. Cobria uma área de muitos quilômetros quadrados e deslizava sobre as terras baixas aspirando o ar quente saturado de umidade evaporada da floresta, que subia a milhares de metros, era resfriado e condensado em gotículas.
[...]
Ao contrário da crença popular, uma chuva tropical não é quente, e meu lago arbóreo parecia um banho de gelo. Temendo que a água acumulada pudesse quebrar o galho, furei com a ponta da faca o teto de nylon, tentado drená-la. Os furos, porém, não foram suficientes para competir com a água que caía e eu não ousava aumentar o seu diâmetro porque isso poderia destruir a rede. Subi no ramo, despejei a água e reatei os cordões do toldo. Ficar de pé no vento aumentou o frio que eu sentia. Minha roupa estava ensopada, eu tremia de frio, meus dedos estavam brancos e duros. Com isto o trabalho ficava extremamente difícil e até o meu raciocínio ficou embotado.
[...]
Fonte: Perry, D. 1991 [1986]. A vida na copa da floresta. SP, Interação.
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