Jeff em Veneza, morte em Varanasi
Geoff Dyer
Numa tarde de junho de 2003, quando, por um breve instante, a invasão do Iraque parecia não ter sido tão má ideia afinal, Jeffrey Atman saiu de seu apartamento para dar uma volta. Teve de deixar o apartamento porque agora que o alívio pelo quadro geral tinha se esgotado – alívio porque Saddam não tinha voltado suas armas de destruição em massa inexistentes para Londres e o mundo não tinha mergulhado numa conflagração –, a miríade de irritações e frustrações de seu quadro particular estava de volta com força de vingança. O trabalho da manhã tinha sido uma merda. Precisava escrever um ‘artigo-cabeça’ de mil e duzentas palavras (que devia exigir zero de pensamento da parte do leitor e pouco mais que isso do escritor, mas que, mesmo assim, de alguma forma, estava além de suas forças), porém chegara a um tal grau de tédio que passara meia hora olhando para o e-mail de uma única linha a ser enviado ao editor que encomendara o texto:
“Simplesmente não consigo mais fazer essa merda. Abs J.A.”
A tela oferecia uma alternativa simples: Enviar ou Deletar. Simples assim. Clicar Enviar, e fim da história. Clicar Deletar, e ele estaria de volta ao ponto de partida. [...]
Fonte: Dyer, G. 2010. Jeff em Veneza, morte em Varanasi. RJ, Intrínseca.
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