15 abril 2021

Ciência sem lágrimas

David Krech

Como um jovem dos meados dos anos 30, eu estava muito interessado em tornar-me cientista. Uma das razões era a leitura de livros populares nos quais o cientista era sempre o herói – livros como Arrowsmith e The microbe hunters. Na faculdade da Universidade de Nova Iorque descobri que, do jeito que eram ensinados, os temas da ciência exigiam uma quantidade tremenda do que me parecia uma memorização repetitiva e desinteressante, sem nenhuma ênfase sobre a função. Na biologia, enfatizava-se a anatomia; na química e na física aprendíamos a memorizar o que já havia sido descoberto.

Como pré-requisito para outra área que me interessava – a do direito – decidi frequentar uma aula de psicologia. Meu instrutor era um behaviorista fanático. Ali estava eu, um ingênuo aluno de 2° ano, aprendendo que coisas vagas como ‘comportamento humano’, ‘mundo humano’, ‘desejos’ podiam ser colocados no microscópio e estudados tão rigorosa e cientificamente como a drosófila ou a molécula do sal. E isso sem aquela quantidade enorme de memorizações, porque o behaviorismo naquele tempo (suponho que o mesmo ainda seja verdade atualmente) era uma coisa muito simplificada e, talvez, até mesmo simplória. Então, a psicologia, pensei, seria ciência sem ‘lágrimas’ – sem necessidade de decorar! Havia nela, também, uma noção muito simpática e fundamentalmente correta: que não é preciso depender do filósofo ou do teólogo para discernir sobre o comportamento humano; podemos estudar a humanidade, honesta e objetivamente. Bem, fui fisgado por isso – anzol, linha e chumbada.

Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.

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