Nasce o dia e já morre
Anderson Braga Horta
Nasce o dia e já morre. Vem a noite
e o dia foi vazio. Um decassílabo
tenta encher o bornal do ser omisso,
retroativo flui, e se dissolve.
Mas, então, que fazer para ser homem?
Amar, ganhar o pão, compor poesia?
– Amar, se é mesmo amor, e não egoísmo.
Ganhar o pão, porque é preciso; e, agora
que o pão é ganho, porfiar ainda:
que seja o pão, como o ar, líquido e certo,
que não dependa o pão de nossos filhos
e o dia foi vazio. Um decassílabo
tenta encher o bornal do ser omisso,
retroativo flui, e se dissolve.
Mas, então, que fazer para ser homem?
Amar, ganhar o pão, compor poesia?
– Amar, se é mesmo amor, e não egoísmo.
Ganhar o pão, porque é preciso; e, agora
que o pão é ganho, porfiar ainda:
que seja o pão, como o ar, líquido e certo,
que não dependa o pão de nossos filhos
do trabalho animal que nos domina.
E, enfim, fazer poesia, que é poesia
quanto se faz de espírito liberto.
Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1983.
E, enfim, fazer poesia, que é poesia
quanto se faz de espírito liberto.
Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1983.
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