21 outubro 2022

Preconceito e sectarismo

Milton Rokeach

Descobri que o modo fundamental de definir o preconceito era igualmente questionável. O caminho tradicional que os cientistas sociais têm desenvolvido para medir o preconceito é descobrir como as pessoas se sentem a respeito deste ou daquele grupo étnico ou racial, quanto as pessoas gostam de judeus, negros, mexicanos, japoneses. Quanto mais você disser que não gosta deles, mais preconceituoso você será. E, todavia, encontrei o fenômeno do preconceito entre pessoas que nunca seriam surpreendidas com alguma afirmação anti-semita, ou com alguma afirmação contra os negros; havia uma outra forma de fanatismo, que simplesmente fugia à atenção. E, por isso mesmo, conceitualizei esse fenômeno do fanatismo, não em termos de quanto você gosta ou não gosta de um grupo étnico ou racial, mas em termos de quanto você gosta de pessoas que concordam ou discordam de você, sejam elas quais forem. E gostar de alguém porque este alguém concorda com você é também uma manifestação de preconceito, porque aí existe uma sequência classificatória inerente; é o mesmo que desgostar de pessoas porque elas discordam de você. Assim, inventei este teste, a que chamei de ‘Teste de Sectarismo’, com frases como ‘Só um louco completo diria que há um Deus’ e ‘Só um louco completo diria que não há Deus’. E o que eu esperava da pessoa tolerante era que ela discordasse veementemente de ambas, a fim de qualificá-la como tolerante; se ela concordasse com uma ou outra, eu considerava uma manifestação de preconceito. Tratava-se da mesma estratégia estrutural de chegar ao preconceito, independente do seu conteúdo. Daí, é claro, passei para toda a questão de haver duas espécies de preconceito, ou uma só. [...] O que acontece se você opõe uma variável racial a uma variável de crença? Como você se sente a respeito de uma pessoa branca que é ateia e de uma pessoa negra também ateia, ou uma pessoa branca que acredita em Deus e outra negra que também acredita em Deus? Através do planejamento sistemático de estudos desse tipo, fomos capazes de começar a perguntar: Quanto a pessoa gosta de outra, baseada na similaridade de crença mais do que na similaridade racial? Isso tem levado a algumas controvérsias de pesquisa interessantes.

Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.

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