18 junho 2023

Caçadores-coletores de Roraima

Pedro Augusto Mentz Ribeiro

Na região do cerrado, no nordeste do Estado de Roraima, precisamente nos níveis estratigráficos mais antigos da Pedra Polida e do abrigo Mauá, este na Fazenda Flexal, constatamos a presença de caçadores-coletores-pescadores. Naqueles níveis não foi registrada a presença de fragmentos de cerâmica de vasilhas, indicativo mundial de horticultura ou agricultura incipiene. Quais as provas e características desses primeiros povoadores? A resposta ao primeiro item vem através do instrumental e dos vestígios fitofaunísticos ou restos de alimentação. Batedores-trituradores, mós, moedores e pilões, em arenito ou basalto, os dois últimos polidos, são peças líticas típicas de povos coletores. Com elas fragmentavam, trituravam e moíam os grãos, sementes, frutos e raízes. Com as partes laterais das peças, por percussão, trituravam e, com as superfícies planas ou convexas, por pressão, moíam e transformavam em pó. Os batedores-trituradores são normalmente simples seixos de rio que, por sua forma elipsoidal ou circular mais ou menos esférica, e pela densidade ou peso, eram utilizados para as funções acima descritas. As mós e pilões, peças passivas, serviam de suporte, ou seja, os grãos, etc. eram colocados sobre as mesmas: nas mós a ação é por pressão, ao passo que no pilão é por percussão. Alguns implementos permanecem no tempo, sendo utilizados por grupos ceramistas, até os nossos dias: é o caso do pilão e da mó. Outros foram substituídos, tais como os batedores-trituradores e moedores, pelas mãos-de-pilão e mãos-de-mó, respectivamente. Matéria corante em laterita (vermelha) é frequente, inclusive em todos os níveis e com sinais de utilização. O lítico lascado, em quartzo, é pouco representativo ou diagnóstico. Pontas de projétil de pedra lascada foram encontradas isoladamente, em locais ignorados – apenas três exemplares, que se encontram em mãos de colecionadores.

Fonte: Ribeiro, P. A. M. 1999. In: M. C. Tenório, org. Pré-história da Terra Brasilis. RJ, Editora UFRJ.

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