09 julho 2011

Mitos contemporâneos

Jean-Claude Chesnais

Os maiores mitos terceiromundistas descendem diretamente dos dois mitos primordiais que acabamos de apresentar. O primeiro é o da ameaça demográfica; o segundo, o do empobrecimento do Terceiro Mundo.

A explosão demográfica ou os profetas da infelicidade

O impulso demográfico dos países pobres deu lugar a uma literatura apocalíptica. De Ehrlich ao Clube de Roma, passando por Bairoch, Dumont ou Lacoste, impera o mesmo pavor de sermos destruídos por uma maré demográfica. O aumento da população do Terceiro Mundo será um flagelo, uma das maiores causas da pobreza, ao condenar as economias ao círculo vicioso do subdesenvolvimento. A essência do subdesenvolvimento seria conhecida, segundo o jargão neomarxista, como uma ‘contradição interna’, um desajustamento entre o crescimento demográfico e a estagnação econômica.
[...]

A realidade desmentiu não somente esses falsos diagnósticos, como os prognósticos pretensiosos que os acompanham. Sobre um assunto tão complexo e vital, as afirmações simplistas e o estilo peremptório não combinam com as nuanças exigidas pela análise científica. Com efeito, o exame cuidadoso dos possíveis efeitos do crescimento demográfico sobre o bem-estar econômico só pode, em princípio, conduzir a uma conclusão de indeterminação: o jogo de crescimento demográfico é essencialmente contraditório. Ele é ao mesmo tempo positivo e negativo, porém a força dos fatores que agem num sentido ou noutro depende das circunstâncias, e sobretudo da qualidade das políticas de desenvolvimento colocadas em prática pelos governos. [...]

Fonte: Chesnais, J.-C. 1989. A vingança do Terceiro Mundo. RJ, Espaço e Tempo.

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