27 agosto 2011

Almanaque

Gil de Carvalho

Nascemos por aqui.
De patas vermelhas
Vigiando o mar.
Guardam-no soldados
E uma guarita, mítica.

Tivéssemos chegado
À praia da primeira
Vez e ouvido teríamos
Os cicios de neve brunida.
Um pormenor certamente
Do nosso apego ao tempo.

Sobre cancelas, embrumadas,
A maquinaria, a pique
Cambaleia sobre a espuma.
Segue-a uma cegonha,
Depois outra.
O Negro Mar.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1998.

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