O gosto do nada
Morno espírito, outrora afeito à luta,
A esperança que um dia instigou teu ardor,
Não quer mais cavalgar-te! E dorme sem pudor,
Velho cavalo a quem mesmo a planície é abrupta.
Dorme, meu coração! E em sonolência bruta!
Espírito vencido! ao velho salteador
Não tem mais gosto o amor, nem tampouco a disputa;
Voz da flauta ou clarim ora ninguém escuta!
Prazeres, não tenteis quem é tédio e torpor!
A adorável Primavera já perdeu seu odor!
Engole o tempo enfim a vida diminuta,
Tal como a um corpo rijo a neve só brancor.
Eu vejo do alto o globo curvo a se compor,
E não procuro mais o abrigo de uma gruta!
Leva-me contigo, avalanche que enluta!
Fonte: Baudelaire, C. 2006. As flores do mal. SP, Martin Claret. Poema publicado em livro em 1857.
1 Comentários:
Parece que os tempos do fim estão chegando... têm trazido a varios blogs esse gosto de nada...
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