Os filósofos convivem conosco
Eduardo Prado de Mendonça
Existe uma idéia corrente sobre a figura do filósofo, que o indica como um excêntrico. Em geral, pensamos no filósofo como um tipo esquisito, estranho, diferente. E esta idéia não é de hoje.
Uma das versões sobre a morte de Pitágoras relata que o famoso filósofo grego teria morrido num incêndio. O povo da localidade em que vivia Pitágoras, movido por uma série de suposições a respeito da vida estranha do mestre e seus discípulos, resolvera incendiar a sua escola, temendo que aquela vida de recolhimento em que viviam significasse, de fato, uma ameaça à cidade. Por vez, o homem prefere eliminar o que não compreende.
[...]
Poderíamos alargar por muito tempo ainda a série dos exemplos. Basta-nos, contudo, mostrar que os homens carregam consigo posições filosóficas, assumidas arbitrariamente. Assumem estas posições pelas razões mais díspares. Mas não sabem, como os filósofos, justificar racionalmente as posições assumidas. Não sabem como estas idéias podem ser defendidas, ou criticadas, e com isto podem estar, na verdade, assumindo uma posição que os afaste da realidade da existência. Não são, pois, os filósofos que se afastam da vida. Eles convivem conosco, marcando a vida humana com a sua presença constante. Os homens que julgam não afastar-se da vida, estes, por não se ocuparem da Filosofia, estes sim podem estar afastados da realidade, pois deixam, por deficiência da concepção, de viver como poderiam e deveriam viver. Vivemos diante desta presença dos filósofos, pois as suas idéias se manifestam a todos os instantes. Mas estas idéias, eles as sustentam procurando encontrar para justificá-las razões profundas. E nós? Os filósofos, através das idéias que nos legaram, acompanham a nossa vida. E nós? Será que nós poderemos também acompanhar os filósofos?
Fonte: Mendonça, E. P. 1976. O mundo precisa de filosofia, 4ª edição. RJ, Agir.
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