À morte de uma corça
António Manuel Couto Viana
Dois olhos verdes,
subitamente,
Galgam a noite.
Nenhum capim ou pedra
onde o animal se acoite:
Olha-me frente a frente.
O seu doirado corpo,
esguio, erecto,
É um frémito de medo.
E outra vez sou menino,
ante o brinquedo
Belo e secreto.
Porque é que o antigo
instinto agora em mim descubro?
Porque me vem à tona a
brava natureza?
– A alegria de possuir
tanta beleza
Num estampido rubro.
Alguém (fui eu?),
terrível como um deus,
Soltou a morte dos seus
muros de aço.
E a corça tombou,
abrindo, ao espaço,
Gestos brancos de adeus.
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