25 março 2014

Transformações sociais e sexualidade

Marilena Chaui

Resta-nos uma última referência: a relação entre repressão sexual e a divisão social das classes, referência feita esparsamente no decorrer deste livro e que foi estudada por Rose Marie Muraro, num livro intitulado Sexualidade da mulher brasileira – Corpo e classe social no Brasil.
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Rose Marie Muraro trabalha ainda com a hipótese da diferença entre o mundo urbano e o rural. Assim, apesar das diferenças e semelhanças de classe no imaginário sexual, a divisão campo-cidade parece assumir um papel importante e a autora escreve: “Em suma, em relação à sexualidade, vê-se uma grande diferença entre o mundo rural e o urbano (que irá acentuar-se mais ainda nas classes médias): a queda real da supremacia masculina, o abalo do dispositivo familiar e do casamento como ideologia e representação, mas permanece sempre a clivagem entre homens e mulheres. Cai muito também no meio urbano a desvalorização da mulher após a menopausa, que é muito alta no campo, mais entre as mulheres do que [entre] os próprios homens. É interessante notar que a proibição do aborto, embora diminuindo na classe operária, é a que permanece como uma distância menor em relação ao campesinato”.

A idéia geral do livro de Muraro é a de transformações sociais globais com relação à sexualidade, em decorrência das transformações econômicas e sociais do país – queda do tabu da virgindade, do casamento como saída natural para a sexualidade, maior aceitação do homossexualismo, da masturbação, dos anticoncepcionais. O carro-chefe dessa mudança ideológica é a classe média urbana liberal e intelectualizada, mais próxima dos padrões dos países chamados desenvolvidos.
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Fonte: Chaui, M. 1984. Repressão sexual. SP, Brasiliense.

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