Transformações sociais e sexualidade
Marilena Chaui
Resta-nos uma última
referência: a relação entre repressão sexual e a divisão social das classes,
referência feita esparsamente no decorrer deste livro e que foi estudada por
Rose Marie Muraro, num livro intitulado Sexualidade
da mulher brasileira – Corpo e classe social no Brasil.
[...]
Rose Marie Muraro
trabalha ainda com a hipótese da diferença entre o mundo urbano e o rural.
Assim, apesar das diferenças e semelhanças de classe no imaginário sexual, a
divisão campo-cidade parece assumir um papel importante e a autora escreve: “Em
suma, em relação à sexualidade, vê-se uma grande diferença entre o mundo rural
e o urbano (que irá acentuar-se mais ainda nas classes médias): a queda real da
supremacia masculina, o abalo do dispositivo familiar e do casamento como
ideologia e representação, mas permanece sempre a clivagem entre homens e
mulheres. Cai muito também no meio urbano a desvalorização da mulher após a
menopausa, que é muito alta no campo, mais entre as mulheres do que [entre] os
próprios homens. É interessante notar que a proibição do aborto, embora
diminuindo na classe operária, é a que permanece como uma distância menor em
relação ao campesinato”.
A idéia geral do livro de
Muraro é a de transformações sociais globais com relação à sexualidade, em
decorrência das transformações econômicas e sociais do país – queda do tabu da
virgindade, do casamento como saída natural para a sexualidade, maior aceitação
do homossexualismo, da masturbação, dos anticoncepcionais. O carro-chefe dessa
mudança ideológica é a classe média urbana liberal e intelectualizada, mais
próxima dos padrões dos países chamados desenvolvidos.
[...]
Fonte: Chaui, M. 1984. Repressão sexual. SP, Brasiliense.
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