25 junho 2014

Queimadas e constelações

Berta G. Ribeiro

Aqui cabe abrir um parêntese. No modo de entender dos Desâna, as épocas de derrubada, queima e plantio das roças, no rio Tiquié, são calculadas pelo aparecimento de constelações e das chuvas concomitantes, entre as quais medeiam curtas estiagens. Com efeito, as observações atmosférico-celestiais dos Desâna informam o aparecimento, ao longo do ano, de dezenove constelações. Os nomes que os índios lhes atribuem são os mesmos das chuvas que elas prenunciam. A estas precipitações correspondem fenômenos naturais, tais como: a piracema (subida de algumas espécies de peixe em desova); subida de cardumes de peixes não em desova; maturação de saúvas, térmites, gafanhotos e larvas de borboletas, de que os índios se alimentam em determinadas épocas do ano; maior concentração de rãs (localizadas pelo seu canto) e de cogumelos, também comestíveis [...].

Essas chuvas são entremeadas por verões, que duram de oito a quinze dias, e veranicos, que não excedem cinco dias sem precipitação alguma. Durante os ‘verões’, procede-se à queima de roças abertas em mata virgem e, durante os veranicos, em terreno de capoeira. São identificados, de um modo geral, segundo uma denominação idêntica à das fruteiras, cujo término de safra dos respectivos frutos coincide com essas curtas estiagens.
[...]

Fonte: Ribeiro, B. G. 1995. Os índios das águas pretas. SP, Companhia das Letras & Edusp.

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