25 julho 2014

A ciência não é uma serva da prática

Isaac Levi

Devemos imaginar o cientista como alguém muito diferente de um elaborador de regras. Diversamente do que se dá com o homem de ação, o cientista preocupa-se não com o que devemos fazer, mas com o que devemos acreditar. Seu propósito é o de fazer predições verdadeiras; descrever passado e presente, de maneira tão acurada quanto possível; e explicar o que prediz e descreve em termos de leis e teorias gerais. Buscando a verdade, o cientista deve afastar seus preconceitos pessoais. Mesmo seus pontos de vista morais e os interesses da sociedade ou grupo a que serve não devem influenciar suas conclusões.

Diversamente de um elaborador de normas, espera-se que o cientista mantenha neutralidade em questões de valor. Isso não que dizer que ele deva ser temperamentalmente frio. Nem implica deva ele evitar posições morais no determinar problemas que selecionará para exame. Mas, escolhido o problema, a neutralidade frente ao valor exige que ele determine qual das respostas possíveis é correta com base na evidência de que dispõe e independentemente de suas convicções éticas.
[...]

O erro da concepção de ciência como conselheira está em sustentar que seu único objetivo é o de oferecer as probabilidades para que delas faça uso quem vai deliberar; o erro do behaviorismo está em admitir que o cientista é um homem a quem competem as decisões. A ciência não é uma serva da prática nem se identifica à prática. Ela tem seus próprios objetivos. Não obstante, na busca da verdade, o cientista obtém, como espécie de subproduto de seus esforços, informações que a pessoa a quem cabe deliberar, seja ela um chefe de Estado, um industrial ou mesmo um homem comum, só pode ignorar em detrimento próprio.

Fonte: Morgenbesser, S. org. 1979. Filosofia da ciência. SP, Cultrix.

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