02 agosto 2014

A um Passarinho cantando

Gregório de Matos

Contente, alegre, ufano Passarinho
Que enchendo o bosque todo de harmonia,
Me está dizendo a tua melodia,
Que é maior tua voz, que o teu biquinho:

Como da pequenez desse corpinho
Sai tão grande tropel de vozeria?
Como cantas, se és flor de Alexandria?
Como cheiras, se és pássaro de arminho?

Simples cantas, incauto garganteias,
Sem ver que estás chamando ao homicida,
Que te segue por passos de garganta.

Não cantes mais, que a morte lisonjeias,
Esconde a voz, esconderás a vida,
Que em ti não se vê mais que a voz que canta.

Fonte: Spina, S. 1995. A poesia de Gregório de Matos. SP, Edusp.

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