Licenciaturas: educadores versus pesquisadores
Jorge Nagle
Antes de tudo, um retrato
sintético de como a questão vem sendo tratada no país.
A Licenciatura inicia-se
entre nós com a fórmula 3 + 1. Este é o esquema tradicional e por mais que se
tente fazer alguma coisa diferente, não se conseguiu, ainda, alterar esse
esquema: primeiro, os alunos assistem aulas nas chamadas disciplinas de
conteúdo; depois, interrompe-se ou não esta formação e passa-se a ministrar
algumas aulas de disciplinas de natureza pedagógica. A experiência vem
demonstrando que essa maneira de formar o professor vem fracassando no decorrer
do tempo. É bom lembrar que, no caso, justapõem-se dois universos de
conhecimento – de um lado, disciplinas de conteúdo e, de outro, matérias
pedagógicas e de tal forma que umas nada têm a ver com as outras. São dois
universos separados, entre os quais, até hoje, não se conseguiu um mínimo de
articulação, por mais esforço que tenha sido empregado. Essa é a primeira
alternativa, a mais comum ou tradicional.
A segunda, em que se
pensou, foi a seguinte: primeiro se faz o bacharelado, depois quem tiver interessado
em ser professor fará o curso de licenciatura. Mas a experiência nesse sentido
no Brasil tem sido extremamente pequena. Talvez este seja um esquema melhor do que
o anterior. Mas o significado de melhor só pode ser julgado pela análise da programação
estabelecida. A licenciatura, nesse modelo, teria um pouco mais de liberdade
para desenvolver-se; não estaria tão sufocada dentro de um horário em que a
disputa sempre acabou favorecendo os docentes das disciplinas de conteúdo.
O terceiro esquema em que
se tem pensado leva em conta que uma coisa é o curso de bacharelado do começo
ao fim e outra coisa é o curso de licenciatura, também do começo ao fim. Então,
o curso de licenciatura seria qualitativamente diferente do curso de
bacharelado; qualitativamente, porque as matérias de conteúdo expressariam,
desde o começo, a preocupação com o ensino. Isto significa que um grande
ajustamento seria feito nelas para atender às exigências das escolas onde o
professor exerceria suas funções (no caso, ou escolas de 1º e 2º graus). Este é
o esquema que se tentou usar em alguns países. Parece que não chega a ser um
bom esquema, porque, além de formar separadamente duas categorias de
profissionais (bacharel e licenciado), parte-se da suposição de que a
licenciatura é um curso mais fácil ou mais simples. É preciso afirmar que a
formação do professor é algo tão complicado que não vale a pena diminuir, nele,
a força das disciplinas de conteúdo.
[...]
Fonte: Nagle, J. 1986. As unidades universitárias e suas licenciaturas: educadores x pesquisadores. In: Catani, D. B. et al., orgs. Universidade, escola e
formação de professores. SP, Brasiliense.
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