O bicentenário dos Estados Unidos
Laurie Garrett
1.
O grande drama do Ebola
passou quase despercebido nos EUA em 1976, mesmo no Centro de Controle de
Doenças. A nação estava preocupada com outras coisas. E a África, distante
demais para atrair a atenção dos americanos.
No seu 200º aniversário,
os Estados Unidos estavam demasiado ocupados em celebrar a data,
patrioticamente, com um comércio de souvenirs
vermelho-branco-azuis, musicais de Hollywood que reviviam os grandes momentos
da história, regatas de réplicas de caravelas antigas pelo rio East de Nova
York e com uma boa dose de ufanismo no que diz respeito ao brilhante teor da Declaração
da Independência e da Constituição. Somavam-se a essas diversões uma surpreendente
atmosfera política, em que o presidente Gerald Ford empenhava-se em vencer as
eleições nacionais tendo como adversário um político do sul praticamente
desconhecido, chamado Jimmy Carter. Um exame de consciência nacional estava em
andamento, à medida que os americanos refletiam no significado da derrota do
país no Vietnã e nos escândalos de Watergate da administração Nixon.
Mesmo se os americanos
não tivessem em 1976 uma disposição para o isolacionismo e a atenção limitada
aos problemas nacionais, ainda assim não seriam capazes de absorver os
acontecimentos de Yambuku porque tinham mais do que suficientes notícias de
doenças com que se preocupar. Afinal, 1976 foi o ano das duas mais exaustivas e
dispendiosas pesquisas da história do Serviço de Saúde Pública dos EUA, o caso
da gripe suína e a doença dos legionários.
[...]
Fonte: Garrett, L. 1995. A próxima peste. RJ, Nova Fronteira.
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home