Biritiba
Tarciso S. Filgueiras
Naquela hora da tarde, o
calor estava tão forte que não dava para ficar dentro da lojinha. Balaio era um
armarinho de uma porta só que Belmiro recebera quase como dote por ter se
casado com Divina, a filha única do seu Alves, o dono original da loja de
miudezas. Como o movimento na tarde quente era quase nulo, ele resolveu puxar
uma cadeira e se sentar na calçada para aproveitar a fresca que, de vez em
quando, corria lá fora.
Sentou-se na cadeira,
mãos atrás da cabeça, espaldar precariamente encostado na parede. Deitou a olhar
a rua, de alto a baixo. Não via nada, nada acontecia. Dava para ouvir cachorro
latindo, crianças chorando em algum lugar, mulheres ralhando com alguém, mas
ninguém nas ruas. Pachorra geral. De repente, ao olhar para os lados da praça
da igreja, viu o vulto de uma mulher que subia a rua. Andava devagar,
compassadamente. Apurou a vista e antes que seus olhos enxergassem direito, seu
coração lhe segredou que era ela. Aquele jeito de andar, certo gingado, aquela
sombrinha azul ferrete... Só podia ser ela. Sinhazinha!
[...]
Fonte: Filgueiras, T. S.
2011. Tempo de Tarumã. RJ, Outras
Letras.
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