03 maio 2015

Palavras que rebentam, aflorando

Nuno Guimarães

Palavras que rebentam, aflorando
a pedra, a solidão, deslizam, vagas,
gramaticais, roendo inconformadas
as arestas, o atrito, puras. quando

nos líquidos, no éter, na distância,
diluem-se e morrem acabadas.
não nos corpos, nas rugas, nas arcadas:
combatem, rumorosas, cal e cântico.

é difícil atarem corpo e vida
aos que vivem e morrem subjacentes
subjazendo, talhados para mina.

mas despertadas, bem ou mal medidas,
rebentam em ogiva, funcionais
chamas supostamente adormecidas.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1970.

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