Palavras que rebentam, aflorando
Nuno Guimarães
Palavras que rebentam, aflorando
a pedra, a solidão,
deslizam, vagas,
gramaticais, roendo
inconformadas
as arestas, o atrito,
puras. quando
nos líquidos, no éter, na
distância,
diluem-se e morrem
acabadas.
não nos corpos, nas
rugas, nas arcadas:
combatem, rumorosas, cal
e cântico.
é difícil atarem corpo e
vida
aos que vivem e morrem
subjacentes
subjazendo, talhados para
mina.
mas despertadas, bem ou
mal medidas,
rebentam em ogiva,
funcionais
chamas supostamente
adormecidas.
Fonte: Silva, A. C. &
Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro
em 1970.
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