A bordo do Beagle
Richard Keynes
21.
O Beagle ancorou no porto de Valdívia a 8 de janeiro; na manhã
seguinte Charles subiu o rio até a calma cidadezinha, cujas casas eram inteiramente
construídas com tábuas de alerce. Como Chiloé, a região cobria-se inteiramente
de florestas, embora possuísse menos coníferas escuras e, portanto, tivesse a
aparência mais clara. Uma espécie de bambu com cerca de seis metros de
comprimento fornecia as longas e aguçadas chusas,
ou lanças usadas pelos índios araucanos que, mais ao norte, lutavam contra o
general Rosas na Argentina. Mas as 26 tribos que viviam em torno de Valdívia
eram de reducidos e cristianos subordinados aos residentes
espanhóis, e os caciques de várias
delas recebiam pensões de 30 dólares ao ano para permanecer quietos. O frade do
distrito disse que eles respeitavam a religião católica, mas não gostavam muito
de ir à missa e resistiam à cerimônia de casamento – talvez porque a posição
mais desejada fosse ser uma das 10 mulheres do cacique e, por turnos, morar com ele durante uma semana. As
macieiras haviam se adaptado bem à região, produzindo cidra e um álcool mais
forte; lamentavelmente a embriaguez era o principal pecado entre os índios.
A população da cidade era
sobretudo espanhola, e na quinzena em que o Beagle
passou ali, a alegria na embarcação cresceu muito. Um dia, o prefeito levou um
barco cheio de senhoras para visitar o navio; por causa do mau tempo, elas
foram obrigadas a passar a noite a bordo. Como compensação, organizou-se um
baile, a que compareceu com muito gosto quase toda a tripulação. Charles
observou que “todos declararam que as signoritas
são encantadoras e, o que é mais surpreendente, elas não se esqueceram de como
corar, arte atualmente esquecida em Chiloé”.
[...]
Fonte: Keynes, R. 2004. Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do
Beagle. RJ, Jorge Zahar.
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