21 setembro 2015

Um triste badalar, como num campanário

Amadeu Amaral

Um triste badalar, como num campanário
silente badalando os sinos por finados,
há no olhar, em que dorme um torpor funerário,
dessa que reza, olhos no céu, joelhos dobrados.

Olhos, que eu adorei cheios de álacre e vário
luzir, – hoje da cor do lírio roxo orlados,
tristes como os de Cristo a subir o Calvário
entre a chufa do povo e a lança dos soldados...

Olhar que tanta vez em voluptuosa rede
me prendeu, me arrastou, acariciante e fero,
coriscando paixões, arquejando de sede,

e que me lembra agora um silencioso lago,
por cujas águas paira um manso reverbero
de roxo pôr-de-sol martirizado e vago...

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema – referido às vezes como ‘Soneto roxo’ – publicado em livro em 1899.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker