24 março 2016

A infecção fatal do cérebro

Bernard Dixon

Certa vez, um grupo de neurologistas especulou que o crescimento do Partido Nazista foi em parte devido a uma infecção do cérebro que causava extremas perturbações psiquiátricas, inclusive violência patológica. A doença citada era encefalite letárgica e, afora qualquer papel que possa ter tido no caso de Hitler, permanece até hoje como uma das doenças mais bizarras já conhecidas.

Embora seja possível que a encefalite letárgica tenha surgido também na China, ela foi relatada pela primeira vez em Viena, durante o inverno de 1916-17, tornando-se logo uma epidemia mundial. Espalhando-se pela Europa e América, a doença imperou durante dez anos, atingindo cinco milhões de pessoas e matando meio milhão antes de desaparecer, em 1927, tão súbita e misteriosamente quanto chegara.

Até mesmo os primeiros sintomas da doença eram muito mais variáveis que a sonolência e estupor que lhe deram seu nome mais conhecido, a doença do sono. (A doença do sono africana, tripanossomíase, não tem relação alguma com a doença encefalítica.) Além de dor de cabeça e febre, as vítimas da encefalite letárgica sofriam de espasmos musculares, ataques, dificuldade na deglutição e movimentos incontroláveis dos olhos. Adolescentes e crianças eram os mais visados: alguns se tornavam psicóticos, comportando-se com uma destrutividade maníaca que, em poucos casos, redundava em assassinato. Mesmo depois de aparentemente recuperadas, muitas pessoas continuavam sendo afligidas por movimentos involuntários e comportamentos compulsivos – traços da Síndrome de Parkinson, só que muito mais extremados do que os tipicamente percebidos.
[...]

Fonte: Leigh, J. & Savold, D., orgs. 1991 [1988]. O dia em que o raio correu atrás da dona-de-casa... e outros mistérios da ciência. SP, Nobel.

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