A matilha
Teófilo Dias
Pendente a língua rubra,
os sentidos atentos,
Inquieta, rastejando os
vestígios sangrentos,
A matilha feroz persegue
enfurecida,
Alucinadamente, a presa
malferida.
Um, afitando o olhar,
sonda a escura folhagem;
Outro consulta o vento;
outro sorve a bafagem,
O fresco, vivo odor,
cálido e penetrante,
Que na rápida fuga a
vítima arquejante
Vai deixando no ar,
pérfido e traiçoeiro;
Todos, num turbilhão
fantástico, ligeiro,
Ora, em vórtice, aqui se
agrupam, rodam, giram.
E, cheios de furor frenético,
respiram;
Ora cegos de raiva,
afastados, dispersos,
Arrojam-se a correr. Vão
por trilhos diversos,
Esbraseando o olhar,
dilatando as narinas.
Transpõem num momento os
vales e as colinas,
Sobem aos alcantis,
descem pelas encostas,
Recruzam-se febris em
direções opostas,
Té que da presa, enfim,
nos músculos cansados
Cravam, com avidez, os
dentes afiados...
Não de outro modo, –
assim meus sôfregos desejos,
Em matilha voraz de
alucinados beijos,
Percorrem-te o primor das
langorosas linhas,
As curvas juvenis, onde a
volúpia aninhas,
Frescas ondulações de
formas florescentes
Que o teu contorno
imprime às roupas eloquentes;
O dorso aveludado,
elétrico, felino,
Que poreja um vapor
aromático e fino;
O cabelo revolto em anéis
perfumados,
Em fofos turbilhões,
elásticos, pesados;
As fibras sutis dos
lindos braços brancos,
Feitos para apertar em
nervosos arrancos;
A exata correção das
azuladas veias
Que palpitam, de fogo
intumescidas, cheias...
– Tudo a matilha audaz
perlustra, corre, aspira,
Sonda, esquadrinha,
explora e anelante respira,
Até que, finalmente,
embriagada e louca,
Vai encontrar a presa – o
gozo – em tua boca.
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