01 setembro 2017

Vagalume

Jorge Faleiros

Debalde e fatuamente o pobre vagalume
julgando-se condor, somente por ter asa,
procura voar no céu, na pretensão que o abrasa,
cravados no infinito os dois olhos de lume.

Embora pirilampo, estrela se presume,
talvez porque possua as pupilas de brasa;
mas nasceu para estar nalguma poça rasa,
chafurdado na lama, em sórdido cardume.

Mas pode ser feliz nesse viver ignoto,
luzindo no paul, pousando nalgum loto,
e fascinando as rãs com seu brilho cambiante,

que para ser feliz basta um olhar que, certo,
em cada estagnação enxergue um céu aberto
e em cada grão de areia, uma estrela brilhante.

Fonte: Lenko, K. & Papavero, N. 1979. Insetos no folclore. SP, Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas. Poema publicado em livro em 1925. (Agradeço a Kátia Bento e a Cleusa Costa.)

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