Vagalume
Jorge Faleiros
Debalde e fatuamente o pobre vagalume
julgando-se condor, somente por ter asa,
procura voar no céu, na pretensão que o abrasa,
cravados no infinito os dois olhos de lume.
Embora pirilampo, estrela se presume,
talvez porque possua as pupilas de brasa;
mas nasceu para estar nalguma poça rasa,
chafurdado na lama, em sórdido cardume.
Mas pode ser feliz nesse viver ignoto,
Mas pode ser feliz nesse viver ignoto,
luzindo no paul, pousando nalgum loto,
e fascinando as rãs com seu brilho cambiante,
que para ser feliz basta um olhar que, certo,
em cada estagnação enxergue um céu aberto
e em cada grão de areia, uma estrela brilhante.
Fonte: Lenko, K. & Papavero, N. 1979. Insetos no folclore. SP, Conselho Estadual de Artes e Ciências
Humanas. Poema publicado em livro em 1925. (Agradeço a Kátia Bento e a Cleusa
Costa.)
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