Mendes e o toureio redondo
Antonio Roberval Miketen
Ceder seda por seda,
milímetro a milímetro,
o tecido de pétalas
às agulhas mais finas.
Tecer, tecer, tecer.
Tecer o touro em rosa,
sem ceder o terreno
exato ao matador.
Na lisura da seda,
num corte de vislumbre,
deslizar na muleta
a pureza do lume.
Reter na sorte o touro,
dar a veia nos dedos,
trazendo o couro ao corpo
sem o corte do medo.
Na figura da agulha,
mesmo que o sangue gele,
reter a rosa escura
na pétala da pele.
No toureio redondo,
verter-se em sangue e sal,
tecendo-se na rosa
de vermelho fatal.
Milímetro a milímetro,
ceder, ceder, ceder.
Ceder até ao limite
de sentir-se morrer.
Fonte: Horta, A. B. 2003. Sob o signo da poesia. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1987.
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