Morte e ressurreição
Morri sexta-feira passada
Como tinha prometido
A promessa era de mais nada
O ressuscitar é-me permitido.
Não me matei nem me mataram:
Tecnicamente fui suicidado –
Os deuses contra mim voltaram
Meu aparelho de ataque frustrado.
Se ao morto for dado se mostrar
Vou aparecer
Não dando nada o ar
De quem se deixou morrer.
Apareço em carne e osso embora morto
Falo e ajo como sempre fiz
No tom de voz mais absorto
Que tanto comigo condiz.
Então, casualmente
Encontrarei quem me suicidou e, embora tente, ver-se-á:
Não posso mais ser morto embora o tente
Sua visão me ressuscitará.
Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1986.
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