13 maio 2021

Teus olhos

Ives Gandra Martins

Teus olhos são imensos lodaçais
No fundo dos grandes lagos,
São os musgos seculares
Dos troncos parasitados.

E o canto enferrujado
Das ferrugens de portões,
No silêncio dos jardins,
Boia, mudo, por teus olhos.

Imensos lodaçais estagnados,
Passados, repassados, trespassados,
Os séculos dos lagos,
Lagos grandes,
Ouvindo a eternidade,
Estagnados.

Os musgos seculares remontando
Enormes árvores, que o tempo encurva,
Os musgos se infiltrando,
Varando e revarando
Os troncos engrossados,
Pelas árvores.

E os teus olhos,
Cor de musgos,
Cor de imensos lodaçais,
Estagnando o lago dos meus olhos,
Parasitando o tronco de meu corpo,
Cantam o canto enferrujado
Das ferrugens dos portões.

Eis minha canção de sempre,
A canção verde marrom
Da conquista e da indolência,
Cujo som soa silente,
Por teus olhos, cor de musgos,
Cor de imensos lodaçais,

Onde adormecidas, boiam
As ferrugens dos portões.

Fonte (v. 32, 34-35): Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1995.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker