19 setembro 2022

A 15 dias das eleições, as taxas pararam de cair: Erro amostral ou sinal amarelo?

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza as estatísticas mundiais a respeito da pandemia divulgadas em artigo anterior (aqui). No caso específico do Brasil, o artigo também atualiza os valores das taxas de crescimento. Entre 12 e 18/9, as taxas ficaram em 0,0242% (casos) e 0,0108% (mortes). Ambas subiram ligeiramente em relação aos valores da semana anterior, interrompendo assim trajetórias declinantes que já duravam 10 (casos) e oito (mortes) semanas. Ao contrário do que imaginam alguns, a pandemia não acabou. Máscaras e vacinas seguem na ordem do dia.

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1. ESTATÍSTICAS MUNDIAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES.

Levando em conta as estatísticas obtidas no fim da tarde de ontem (18/9) [1], eis um resumo da situação mundial.

(A) – Em números absolutos, os 20 países mais afetados [2] estão a concentrar 74% dos casos (de um total de 611.928.526) e 70% das mortes (de um total de 6.526.326) [3].

(B) – Nesses 20 países, 429 milhões de indivíduos receberam alta, o que corresponde a 95% dos casos. Em escala global, 597 milhões de indivíduos já receberam alta.

(C) – Olhando apenas para as estatísticas das últimas quatro semanas, eis um resumo da situação: (i) em números absolutos, a lista segue a ser liderada pelo Japão, com 3,7 milhões de novos casos; (ii) entre os cinco primeiros da lista, estão ainda a Coreia do Sul (2,15 milhões), os Estados Unidos (2,11), a Rússia (1,29) e Taiwan (910 mil). O Brasil (305 mil) está na 9ª colocação; e (iii) a lista dos países com mais mortes segue a ser liderada pelos Estados Unidos (12,72 mil); em seguida aparecem Japão (6,86 mil), Brasil (2,84), Alemanha (2,43) e Rússia (2,41).

2. ESTATÍSTICAS BRASILEIRAS: SEMANA 12-18/9.

Ontem (18/9), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 4.984 casos e 42 mortes [4]. Teríamos chegado assim a um total de 34.587.047 casos e 685.376 mortes.

Na semana encerrada ontem (12-18/9), foram registrados 58.422 casos e 516 mortes. Ambos infelizmente subiram em relação aos números da semana anterior (5-11/9: 57.849 casos e 491 mortes).

3. O RITMO DA PANDEMIA EM TERRAS BRASILEIRAS.

Para monitorar de perto o ritmo e o rumo da pandemia, sigo a usar como guias as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Ambas subiram em relação aos valores da semana anterior, interrompendo assim trajetórias declinantes que já duravam 10 (casos) e oito (mortes) semanas.

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos subiu de 0,024% (5-11/9) para 0,0242% (12-18/9) (ver a figura que acompanha este artigo) [5].

A taxa de crescimento no número de mortes subiu de 0,0102% (5-11/9) para 0,0108% (12-18/9).

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FIGURA. O comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 18/9/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.

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4. CODA.

Após 10 semanas de queda, a taxa de casos subiu. Após oito semanas de queda, a taxa de mortes também subiu (ver a figura que acompanha este artigo).

Em ambos os casos, estamos a falar de escaladas relativamente pequenas. A ponto de algum observador levantar o dedo e dizer que poderiam ser apenas erros de amostragem. É possível.

Em situações de crise sanitária, no entanto, a precaução é quase sempre a melhor opção. No contexto atual, portanto, um observador sensato e precavido deveria ver nas interrupções de queda um sinal amarelo.

Precaução, aliás, foi uma das coisas que faltou ontem (18) ao presidente estadunidense. Em entrevista a um renomado programa de TV, Joe Biden afirmou que “the pandemic is over” (ou “a pandemia acabou”, em tradução livre) [6].

Como escrevi em artigo anterior, a crise é mundial e ainda falta chão até o fim da pandemia. Lá como aqui, máscaras e vacinas deveriam estar na ordem do dia. (Lembrando que a vacina combate a doença, mas não impede o contágio. O que pode impedir o contágio, notadamente no interior de recintos fechados, é o uso correto de máscara facial.)

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Como comentei em ocasiões anteriores, as estatísticas de casos e de mortes estão a seguir o painel Mapping 2019-nCov (Johns Hopkins University, EUA), enquanto as de altas estão a seguir o painel Worldometer: Coronavirus (Dadax, EUA).

[2] Os 20 primeiros países da lista podem ser arranjados em 9 grupos: (a) Entre 95 e 100 milhões de casos – Estados Unidos; (b) Entre 40 e 45 milhões – Índia; (c) Entre 30 e 35 milhões – França, Brasil e Alemanha; (d) Entre 20 e 25 milhões – Coreia do Sul, Reino Unido, Itália, Japão e Rússia; (e) Entre 15 e 20 milhões – Turquia; (f) Entre 12 e 15 milhões – Espanha; (g) Entre 10 e 12 milhões – Vietnã e Austrália; (h) Entre 8 e 10 milhões – Argentina e Países Baixos; e (i) Entre 6 e 8 milhões – Irã, México, Indonésia e Colômbia.

[3] Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver os volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos três primeiros volumes.

[4] Esses valores, infelizmente, são subestimativas. Explico: 15 unidades federativas (AL, AP, DF, ES, MA, MG, MT, PE, PB, PR, RJ, RN, RR, SE e TO) não divulgaram as estatísticas de domingo (18/9). Juntas, essas unidades respondem hoje por 47% dos casos e 44% das mortes registradas em todo o país. O que me leva a estimar que ao menos 4.343 casos e 33 mortes deixaram de ser informados ontem (18/9).

A situação no DF (o primeiro ou um dos primeiros a cruzar os braços aos fins de semana) continua a chamar a atenção, negativamente. Explico: O número de mortes no DF (mas não o de casos) permanece inalterado há mais de um mês. Enquanto o número de casos registrados passou de 835.156 (14/8) para 838.413.928 (18/9), o número de mortes está em 11.825 desde a semana 8-14/8. O fim das mortes por Covid-19 seria, evidentemente, uma ótima notícia. Todavia, diante do comportamento do governo do DF ao longo dos últimos dois anos e meio (e.g., o modo como tratou as medidas de proteção e combate à pandemia), não podemos deixar de levantar suspeitas diante da situação.

[5] Para conferir os valores numéricos, ver aqui (entre 27/12/2021 e 26/6/2022) e aqui (semanas anteriores).

[6] Além de precipitada, a declaração soa desrespeitosa com os próprios estadunidenses: nas últimas semanas, entre 450-500 cidadãos morreram diariamente naquele país. A entrevista foi dada a Scott Pelley, apresentador do programa 60 Minutes (ver aqui). A certa altura da conversa, o entrevistador pergunta “Sr. Presidente, é a primeira Detroit Auto Show [algo como Feira do Automóvel de Detroit] em três anos. A pandemia acabou?”. O entrevistado inicia a resposta dizendo: “A pandemia acabou [...]”. Enaltece ainda o fato de que nenhum participante do evento estaria a usar máscara. Mais adiante, repete a afirmativa de que a pandemia teria acabado. A mídia brasileira já reportou a notícia (e.g., aqui).

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