06 setembro 2022

Como e por que a eleição presidencial deve ser resolvida em 2 de outubro


Faltam três semanas e meia para as eleições gerais de 2022. As disputas este ano envolvem tanto o executivo como o legislativo. No primeiro caso, estamos a falar da presidência da República e dos governos estaduais. No segundo, estamos a falar das assembleias legislativas e do Congresso Nacional (um terço das cadeiras do Senado e todas as cadeiras da Câmara dos Deputados). Neste artigo, vou me debruçar um pouco sobre as eleições presidenciais.

1. PESQUISAS DE OPINIÃO.

Vários institutos de pesquisa estão a operar no país e pesquisas de opinião sobre temas políticos são divulgadas com alguma regularidade. Há bastante tempo. Nem todas as pesquisas que vêm a público, claro, são dignas de nota e atenção. Não só pela temática, mas porque nem todas elas são igualmente rigorosas e confiáveis.

Pesquisas presenciais, por exemplo, são mais confiáveis do que as pesquisas remotas, feitas por telefone. Assim como amostras grandes (e.g., 20-50 mil entrevistados) tendem a gerar resultados bem mais confiáveis do que as amostras pequenas (e.g., 2-5 mil entrevistados). (No contexto deste artigo, o valor de uma pesquisa de opinião nada tem a ver com simpatias ou preferências individuais, mas sim com a adoção por parte do pesquisador de medidas que impeçam, evitem ou ao menos dificultem a produção de resultados tendenciosos ou distorcidos. Passar o dia conversando com os clientes de uma mercearia ou de um supermercado e daí inferir quais seriam as preferências eleitorais da população de uma cidade não é um exemplo de metodologia consistente e apropriada.)

2. PESQUISAS PRESIDENCIAIS.

Os resultados de uma série de pesquisas presidenciais (todas com base em entrevistas presenciais) foram integrados e divulgados ontem (5/9) em alguns veículos da mídia (e.g., aqui).

Essa série, realizada pelo Ipec, cobriu todas as 27 unidades da federação. Os resultados foram originalmente divulgados, estado por estado, no período entre 22/8 e 3/9. (É um intervalo relativamente longo durante o qual podem ter ocorrido oscilações.) Cabe observar também o tamanho da amostra. Foram ouvidos entre 800 e 1.504 eleitores, a depender do estado (ver a figura que acompanha este artigo). Somando tudo, a pesquisa ouviu um total de 25.616 eleitores.

Sei de gente que trabalha com pesquisas de opinião pública, mas eu mesmo não sou estudioso do assunto. Nem estou habituado a acompanhar de perto as pesquisas presidenciais que vêm sendo divulgadas quase que semanalmente. Feito o alerta, devo dizer que, de todas as que eu examinei até aqui, nenhuma me pareceu reunir uma amostra tão expressiva. (Basta dizer que a maioria das pesquisas nacionais que estão a ser divulgadas trabalham com amostras bem menores, algo como 2 ou 3 mil entrevistados.)

3. CANDIDATOS E DESEMPENHOS.

Cerca de duas dezenas de candidatos manifestaram interesse em participar da corrida presidencial. Desde a pré-campanha, porém, iniciada meses atrás, vários deles desistiram e saíram da disputa. Entre os que desistiram, teve gente que submergiu, teve gente que ingressou na campanha de outro candidato.

Desde o inicio da corrida, as pesquisas presidenciais têm apontado para uma distribuição bastante desigual dos votos – ou, por enquanto, das preferências. Os dois primeiros colocados, por exemplo, sempre reuniram mais de 50% das preferências. E foi assim que iniciamos o ano de 2022: Dois candidatos (doravante referidos como A e B) destacados na liderança, seguidos lá atrás por uma turma (doravante referida como Outros) de fôlego bem mais curto.

4. A SÉRIE DE PESQUISAS DO IPEC (22/8-3/9).

Chegamos assim às vésperas das eleições. Em linhas gerais (ver a figura que acompanha este artigo), eis um resumo dos resultados da série de pesquisas do Ipec:

(1) – No plano nacional, os candidatos A e B somam hoje 76,5% das preferências. As médias estaduais variam entre 69% (DF) e 89% (TO).

(2) – No plano nacional, os outros candidatos somam hoje pouco mais de 12% das preferências. As médias estaduais variam entre 6% (TO) e 18% (DF).

(3) – Por fim, eleitores indecisos e votos inválidos (brancos ou nulos) chegam a 11,4%. As médias estaduais variam entre 6% (PI) e 14% (MG e SP).

(4) – Considerando apenas os votos válidos, a corrida está a ser liderada pelo candidato A, com uma média geral de 47,74% [1]. As médias estaduais variam entre 16% (RR) e 69% (PI).

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FIGURA. Os resultados da série de pesquisas estaduais divulgadas pelo Ipec (22/8-3/9). A primeira coluna lista os estados (em ordem alfabética das siglas), as cores identificam estados de uma mesma região geográfica. As cinco colunas seguintes indicam (i) as proporções de entrevistados que disseram preferir os candidatos A, B ou algum outro (Outros); (ii) os que disseram que pretendem anular o voto ou votar em branco (Nulo); e (iii) os que não souberam ou não quiseram responder (Indecisos). A última coluna (n) indica o número de entrevistados em cada estado. Nas colunas A e B, os números em vermelho indicam o candidato que está na frente, em cada estado. Quando não há indicação, é porque há empate técnico, de acordo com os critérios do Ipec. Nas colunas Nulos e Indecisos, a tarja cinza indica aqueles casos em que a soma de eleitores indecisos e votos inválidos é superior à de eleitores que pretendem votar em outros candidatos (Outros).

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5. É POSSÍVEL RESOLVER NO PRIMEIRO TURNO?

Sim, é possível. Mais do que isso: A julgar apenas pelos números, sem entrar aqui nos meandros da argumentação política, é bem provável que a eleição venha a ser resolvida no primeiro turno, em 2/10.

No que segue, apresento como isso pode vir a ocorrer. Antes, porém, devo ressaltar o seguinte: nos três cenários descritos a seguir, presumo que (i) os candidatos A e B não irão perder nenhum dos votos que têm hoje; e (ii) o percentual de eleitores que pretendem anular seu voto também permanecerá inalterado.

Vejamos então os três cenários.

(1) – Cenário 1. No dia da eleição, 33% dos atuais eleitores indecisos (um em cada três) decidem votar no candidato A [2]. Este alcançaria 49,6% dos votos válidos, mas não seria eleito em primeiro turno.

(2) – Cenário 2. 20% (um em cada cinco) dos eleitores que hoje votariam em candidatos do pelotão de trás (Outros) decidem mudar o seu voto para o candidato A. Este alcançaria algo como 50,3%, e seria eleito em primeiro turno.

(3) – Cenário 3. 33% dos atuais indecisos mais 20% dos eleitores que hoje votariam em candidatos do pelotão de trás decidem votar no candidato A. Este alcançaria algo como 52,2%, e seria eleito em primeiro turno.

6. CODA.

Assim como toda experimentação científica é precedida por algum tipo de pressuposto teórico (certo ou errado, não vem ao caso), simulações e cenários são feitos para orientar a ação prática, quer estejamos a falar de incêndios florestais, epidemias ou eleições.

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NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Vale ressaltar que, pelas regras atuais, a eleição estará resolvida em primeiro turno se o primeiro colocado obtiver sozinho mais votos do que a soma de todos os demais candidatos.

[2] Fui conservador e, antes de efetuar esse cálculo, fiz uma conta preliminar, presumindo que, no dia da eleição, haverá entre os indecisos a mesma parcela de votos nulos que houve entre os entrevistados.

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