Como e por que a eleição presidencial deve ser resolvida em 2 de outubro
Faltam três semanas e meia para as eleições gerais de 2022. As disputas este ano envolvem tanto o executivo como o legislativo. No primeiro caso, estamos a falar da presidência da República e dos governos estaduais. No segundo, estamos a falar das assembleias legislativas e do Congresso Nacional (um terço das cadeiras do Senado e todas as cadeiras da Câmara dos Deputados). Neste artigo, vou me debruçar um pouco sobre as eleições presidenciais.
1. PESQUISAS DE OPINIÃO.
Vários institutos de pesquisa estão a operar no país e pesquisas de opinião sobre temas políticos são divulgadas com alguma regularidade. Há bastante tempo. Nem todas as pesquisas que vêm a público, claro, são dignas de nota e atenção. Não só pela temática, mas porque nem todas elas são igualmente rigorosas e confiáveis.
Pesquisas presenciais, por exemplo, são mais confiáveis do que as pesquisas remotas, feitas por telefone. Assim como amostras grandes (e.g., 20-50 mil entrevistados) tendem a gerar resultados bem mais confiáveis do que as amostras pequenas (e.g., 2-5 mil entrevistados). (No contexto deste artigo, o valor de uma pesquisa de opinião nada tem a ver com simpatias ou preferências individuais, mas sim com a adoção por parte do pesquisador de medidas que impeçam, evitem ou ao menos dificultem a produção de resultados tendenciosos ou distorcidos. Passar o dia conversando com os clientes de uma mercearia ou de um supermercado e daí inferir quais seriam as preferências eleitorais da população de uma cidade não é um exemplo de metodologia consistente e apropriada.)
2. PESQUISAS PRESIDENCIAIS.
Os resultados de uma série de pesquisas presidenciais (todas com base em entrevistas presenciais) foram integrados e divulgados ontem (5/9) em alguns veículos da mídia (e.g., aqui).
Essa série, realizada pelo Ipec, cobriu todas as 27 unidades da federação. Os resultados foram originalmente divulgados, estado por estado, no período entre 22/8 e 3/9. (É um intervalo relativamente longo durante o qual podem ter ocorrido oscilações.) Cabe observar também o tamanho da amostra. Foram ouvidos entre 800 e 1.504 eleitores, a depender do estado (ver a figura que acompanha este artigo). Somando tudo, a pesquisa ouviu um total de 25.616 eleitores.
Sei de gente que trabalha com pesquisas de opinião pública, mas eu mesmo não sou estudioso do assunto. Nem estou habituado a acompanhar de perto as pesquisas presidenciais que vêm sendo divulgadas quase que semanalmente. Feito o alerta, devo dizer que, de todas as que eu examinei até aqui, nenhuma me pareceu reunir uma amostra tão expressiva. (Basta dizer que a maioria das pesquisas nacionais que estão a ser divulgadas trabalham com amostras bem menores, algo como 2 ou 3 mil entrevistados.)
3. CANDIDATOS E DESEMPENHOS.
Cerca de duas dezenas de candidatos manifestaram interesse em participar da corrida presidencial. Desde a pré-campanha, porém, iniciada meses atrás, vários deles desistiram e saíram da disputa. Entre os que desistiram, teve gente que submergiu, teve gente que ingressou na campanha de outro candidato.
Desde o inicio da corrida, as pesquisas presidenciais têm apontado para uma distribuição bastante desigual dos votos – ou, por enquanto, das preferências. Os dois primeiros colocados, por exemplo, sempre reuniram mais de 50% das preferências. E foi assim que iniciamos o ano de 2022: Dois candidatos (doravante referidos como A e B) destacados na liderança, seguidos lá atrás por uma turma (doravante referida como Outros) de fôlego bem mais curto.
4. A SÉRIE DE PESQUISAS DO IPEC (22/8-3/9).
Chegamos assim às vésperas das eleições. Em linhas gerais (ver a figura que acompanha este artigo), eis um resumo dos resultados da série de pesquisas do Ipec:
(1) – No plano nacional, os candidatos A e B somam hoje 76,5% das preferências. As médias estaduais variam entre 69% (DF) e 89% (TO).
(2) – No plano nacional, os outros candidatos somam hoje pouco mais de 12% das preferências. As médias estaduais variam entre 6% (TO) e 18% (DF).
(3) – Por fim, eleitores indecisos e votos inválidos (brancos ou nulos) chegam a 11,4%. As médias estaduais variam entre 6% (PI) e 14% (MG e SP).
(4) – Considerando apenas os votos válidos, a corrida está a ser liderada pelo candidato A, com uma média geral de 47,74% [1]. As médias estaduais variam entre 16% (RR) e 69% (PI).
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5. É POSSÍVEL RESOLVER NO PRIMEIRO TURNO?
Sim, é possível. Mais do que isso: A julgar apenas pelos números, sem entrar aqui nos meandros da argumentação política, é bem provável que a eleição venha a ser resolvida no primeiro turno, em 2/10.
No que segue, apresento como isso pode vir a ocorrer. Antes, porém, devo ressaltar o seguinte: nos três cenários descritos a seguir, presumo que (i) os candidatos A e B não irão perder nenhum dos votos que têm hoje; e (ii) o percentual de eleitores que pretendem anular seu voto também permanecerá inalterado.
Vejamos então os três cenários.
(1) – Cenário 1. No dia da eleição, 33% dos atuais eleitores indecisos (um em cada três) decidem votar no candidato A [2]. Este alcançaria 49,6% dos votos válidos, mas não seria eleito em primeiro turno.
(2) – Cenário 2. 20% (um em cada cinco) dos eleitores que hoje votariam em candidatos do pelotão de trás (Outros) decidem mudar o seu voto para o candidato A. Este alcançaria algo como 50,3%, e seria eleito em primeiro turno.
(3) – Cenário 3. 33% dos atuais indecisos mais 20% dos eleitores que hoje votariam em candidatos do pelotão de trás decidem votar no candidato A. Este alcançaria algo como 52,2%, e seria eleito em primeiro turno.
6. CODA.
Assim como toda experimentação científica é precedida por algum tipo de pressuposto teórico (certo ou errado, não vem ao caso), simulações e cenários são feitos para orientar a ação prática, quer estejamos a falar de incêndios florestais, epidemias ou eleições.
NOTAS.
[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.
[1] Vale ressaltar que, pelas regras atuais, a eleição estará resolvida em primeiro turno se o primeiro colocado obtiver sozinho mais votos do que a soma de todos os demais candidatos.
[2] Fui conservador e, antes de efetuar esse cálculo, fiz uma conta preliminar, presumindo que, no dia da eleição, haverá entre os indecisos a mesma parcela de votos nulos que houve entre os entrevistados.
6. CODA.
Assim como toda experimentação científica é precedida por algum tipo de pressuposto teórico (certo ou errado, não vem ao caso), simulações e cenários são feitos para orientar a ação prática, quer estejamos a falar de incêndios florestais, epidemias ou eleições.
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NOTAS.
[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.
[1] Vale ressaltar que, pelas regras atuais, a eleição estará resolvida em primeiro turno se o primeiro colocado obtiver sozinho mais votos do que a soma de todos os demais candidatos.
[2] Fui conservador e, antes de efetuar esse cálculo, fiz uma conta preliminar, presumindo que, no dia da eleição, haverá entre os indecisos a mesma parcela de votos nulos que houve entre os entrevistados.
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