Um triste badalar, como num campanário
Amadeu Amaral
Um triste badalar, como
num campanário
silente badalando os
sinos por finados,
há no olhar, em que dorme
um torpor funerário,
dessa que reza, olhos no
céu, joelhos dobrados.
Olhos, que eu adorei
cheios de álacre e vário
luzir, – hoje da cor do
lírio roxo orlados,
tristes como os de Cristo
a subir o Calvário
entre a chufa do povo e a
lança dos soldados...
Olhar que tanta vez em
voluptuosa rede
me prendeu, me arrastou,
acariciante e fero,
coriscando paixões,
arquejando de sede,
e que me lembra agora um
silencioso lago,
por cujas águas paira um
manso reverbero
de roxo pôr-de-sol
martirizado e vago...
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