10 outubro 2012

A história dos seringais

Mauro Barbosa de Almeida & Cristina Scheibe Wolff

O rio Juruá era visitado desde 1813 por comerciantes que o subiam em busca de escravos índios, de salsaparrilha e de ovos de tartaruga. Em 1850, eles atingiam a boca do rio Tarauacá, e já começavam a comprar borracha, cujas aplicações se multiplicavam, embora seu emprego fosse prejudicado por uma característica: ela se tornava quebradiça a temperaturas baixas e pegajosa com o calor.

A procura da borracha aumentou mesmo assim, sem parar, a partir de 1850, e em 1863 esse ouro negro já representava um terço do valor das exportações da região. Em 1870, Goodyear inventou a vulcanização, permitindo que a borracha natural resistisse a temperaturas extremas. Foi quando ela começou a ser usada em grande escala, em pneus de bicicletas e posteriormente nos de carros, e a procura disparou, iniciando o chamado boom da borracha. [...]

Desde 1912, a borracha plantada na Malásia, a partir de sementes contrabandeadas da Amazônia com o patrocínio de Kew Gardens (Inglaterra), derrubou o preço do produto no mercado internacional. A produtividade nas plantações coloniais asiáticas, controladas por capitais ingleses, holandeses e franceses, estava entre 1 e 2 toneladas anuais por seringueiro e por hectare de plantação, enquanto a média amazônica se limitava a 400 kg por seringueiro (embora seringueiros muito produtivos, em boas regiões como o rio Tejo, pudessem passar da marca da tonelada), em 400 hectares de floresta natural. Enquanto a Amazônia nunca passou das 42 mil toneladas atingidas em 1912, a Ásia já produzia 100 mil toneladas em 1915, passando de 1 milhão de toneladas nas décadas seguintes. Além disso, sempre fora um problema controlar o trabalho e fiscalizar a produção dos seringueiros espalhados pelas distâncias da floresta; nas plantações coloniais asiáticas porém o trabalho, sustentado quando necessário pela importação de coolies, era abundante e submetido a leis que regulavam as relações de trabalho com uma dura legislação criminal.

As firmas de Belém e Manaus foram à falência. De 1912 a 1932, a produção do Acre caiu de 12 mil toneladas para 3 mil toneladas, enquanto o preço caía de 26 mil réis para 4 mil réis. A empresa Melo & Cia., com sede em Belém do Pará, foi à bancarrota em 1918. Seus seringais, que incluíam quase todo o atual município de Marechal Thaumaturgo, passaram para a casa Nicolaus & Cia., sediada em Belém, que permaneceu atuando como casa aviadora até 1936, quando também faliu.
[...]

Fonte: Cunha, M. C. & Almeida, M. B., orgs. 2002. Enciclopédia da floresta. SP, Companhia das Letras.

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