Elegia a uma rua
Arturo Torres Rioseco
– Por onde foi que a
levaram?
– Por aqui, por esta rua.
– A rua está bem mudada.
– A rua é a mesma, não muda.
– Os que a levaram, acaso
Se lembrarão dessa tarde?
– Aqueles que iam com ela
Sumiram-se ao fim da
estrada.
– Mil novecentos e treze!
Chovia naquela tarde...
– Vinte anos faz que na
rua
Chuva de tempo desaba.
– Dizes que se foram
todos
Os que lhe queriam bem?
– Hoje só restam os
filhos,
Ora amigos de ninguém.
Mas este é o mesmo sol, e
estas
As mesmas cornijas e
árvores,
E nestes mesmos telhados
Cantam hoje os mesmos
pássaros.
– Sim, tudo é o mesmo, no
entanto
Minh’alma estranha o que
sente,
A rua vejo que é a mesma,
O ar porém é diferente.
A tarde era um cobre novo
Saturado de laranjas.
Chorava pelas janelas
Aquela dor de quinze
anos.
Foi por aqui que a
levaram,
Por esta rua passaram.
Fonte: Bandeira, M. 2007.
Estrela da vida inteira. RJ, Nova
Fronteira.
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