09 maio 2015

A missa do Morro dos Prazeres

Waly Salomão

Sursum corda.
Ao alto os corações.
Subir,
com toda alegoria em cima,
subir,
subir a parada
que a lua cheia é a hóstia consagrada na vala negra aberta,
subir,
que o foguetório anuncia a chegada do carregamento,
subir,
querubim errante transformista,
subir,
o incensório da esquadrilha da fumaça-mãe,
subir,
como se inalasse a neve do Monte Fuji,
subir,
o visgo da jaca já gruda na pele,
subir,
salvam pipocos da chefia do movimento,
subir,
soou a hora da elevação,
subir que o morro é batizado
com a graça de Morro dos Prazeres
– topograficamente situado no Rio de Janeiro.
Subir o morro
que a missa católica do asfalto
– sem os paramentos e as jaculatórias do latim da infância –
pouco difere de reunião de condomínio,
sacrifício sem entusiasmós.

Fonte: Moriconi, I., org. 2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema publicado em livro em 1998.

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