A missa do Morro dos Prazeres
Waly Salomão
Sursum corda.
Ao alto os corações.
Subir,
com toda alegoria em
cima,
subir,
subir a parada
que a lua cheia é a
hóstia consagrada na vala negra aberta,
subir,
que o foguetório anuncia
a chegada do carregamento,
subir,
querubim errante
transformista,
subir,
o incensório da
esquadrilha da fumaça-mãe,
subir,
como se inalasse a neve
do Monte Fuji,
subir,
o visgo da jaca já gruda
na pele,
subir,
salvam pipocos da chefia
do movimento,
subir,
soou a hora da elevação,
subir que o morro é
batizado
com a graça de Morro dos Prazeres
– topograficamente
situado no Rio de Janeiro.
Subir o morro
que a missa católica do
asfalto
– sem os paramentos e as
jaculatórias do latim da infância –
pouco difere de reunião
de condomínio,
sacrifício sem entusiasmós.
Fonte: Moriconi, I., org.
2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema publicado em livro em 1998.
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