04 junho 2016

Exaltação febril e fascínio

Eric Blom

Certo dia, um desconhecido emaciado, todo de cinza, apresentou-se na residência de Mozart para encomendar a composição de um réquiem. Este seria buscado em data combinada e pago a preço generoso, sob a condição de o compositor não falar com ninguém a respeito da encomenda nem das condições que lhe haviam sido impostas. A transação, na realidade, foi muito simples. O visitante era administrador de certo nobre, o conde Franz von Walsegg, um diletante em música, que gostaria de legar ao mundo uma grande obra como se fosse sua; mas, privado da invenção e da habilidade necessárias, teve a ideia de comprá-la já pronta de um mestre consagrado... Mas para Mozart, que provavelmente nem de longe estava bem naquele momento, e pode ter se encontrado em estado febril quando o estranho apareceu, o incidente pareceu carregado das mais sinistras implicações. Ele o deixou em estado de depressão aguda, assim como com a sensação de mau agouro. Mozart pôs-se a trabalhar no réquiem com uma atitude mental na qual, a julgar pela música, uma espécie de exaltação febril e fascínio ficavam em primeiro plano.

Fonte: Solman, J. 1991. Mozartiana: dois séculos de notas, citações e anedotas sobre Wolfgang Amadeus Mozart. RJ, Nova Fronteira.

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