As vacas tresmalhadas
Alexandre O’Neill
As vacas tresmalhadas pelo asfalto
da cidade, fazem fugir quem passa.
Amarelo... Vermelho! Uma atravessa.
É apanhada, seco, dá um salto,
desentranha um mugido e, abatida,
põe nos olhos mansíssimos a vida.
Que pascigo escolheste, amável bicho?
Se não fora o olhar, já eras lixo.
Vaca malhada tresmalhada, vaca
de leite em sangue, atormentado nó
pulsando no asfalto, agora saca
dos misérrimos bofes o seu muuuu
derradeiro. Já sem dor ou protesto,
é da cidade a vaca mais um resto.
Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1969.
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