08 setembro 2018

O triunfo do embrião

Lewis Wolpert

Como algo tão pequeno [...] quanto um ovo pode originar um complexo ser humano? Qual é a maquinaria capaz de transformar aquela pequena célula no conjunto de tecidos do corpo? [...]

As células são as unidades básicas do embrião em desenvolvimento. O ovo se divide e se multiplica, originando diferentes tipos de células. [...] Nossos corpos possuem cerca de 250 tipos de células diferentes. Mas o desenvolvimento é mais do que a geração de novas formas de células. [...] Por exemplo, [as células] formam estruturas como braços e pernas, cada uma das quais possui células muito parecidas. Isso requer a formação de um padrão corporal que dá à célula uma identidade posicional, para que ela possa se desenvolver do modo adequado. A formação do padrão corporal se relaciona à organização espacial – colocar músculo e osso no lugar certo, para que braços difiram de pernas [...].

É a diferença na formação do padrão corporal, e consequentemente na organização espacial, que nos distingue de outros vertebrados. Pode haver pequenas diferenças entre as nossas células de cérebro ou músculo e as deles, mas o modo como estão espacialmente organizadas é que importa. Não há, em nossos cérebros, nenhum tipo de célula que os chipanzés não possuam.

Ao longo do desenvolvimento, as células se multiplicam, mudam suas características, exercem forças, enviam e recebem sinais. Todas essas atividades estão sob controle da informação contida nos genes, presentes no DNA dos cromossomos. [...] Mas como o DNA contém instruções para fazer todas as proteínas, e cada proteína é codificada por um gene, a presença ou ausência de uma proteína numa célula dependerá de seu gene estar ligado ou desligado. Portanto, ligar e desligar genes é a característica fundamental do desenvolvimento, pois assim se controla quais proteínas são feitas e o comportamento celular resultante. Todas as células possuem a mesma informação genética recebida do ovo; portanto, as diferenças entre elas resultam de diferentes genes serem ligados e desligados.

Fonte: Wolpert, L. 1997. In: Brockman, J & Matson, K., orgs. As coisas são assim. SP, Companhia das Letras.

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