30 abril 2024

O barqueiro anão


Ignacio Zuloaga [Zabaleta] (1870-1945). El enano Gregorio el Botero. 1908.

Fonte da foto: Wikipedia.

28 abril 2024

Epigrama contra Stálin

Óssip Mandelstam

Vivemos surdos à terra sob nossos pés,
A dez passos ninguém escuta nossos discursos.

Somente ouvimos o montanhês do Kremlin,
O criminoso e assassino de camponeses.

Seus dedos são gordos como vermes,
E as palavras, decisivas como chumbo, caem de seus lábios.

Seu bigode de barata fita de soslaio
E brilha o bico de sua bota.

Cercado de uma escória de chefetes dóceis
Diverte-se com as lisonjas desses meios-homens.

Um deles sussurra, o outro mia, choraminga um terceiro.
Ele aponta o dedo e sozinho retumba.

Forja decretos em série como ferraduras,
Uma para a virilha, outra para a fronte, a têmpora e os olhos.

Como morangos, rola na língua as execuções.
Ele gostaria de abraçá-los como grandes amigos da casa.

Fonte: Berman, M. 1986. Tudo que é sólido desmancha no ar. SP, Companhia das Letras. Poema datado de 1933.

26 abril 2024

O engenheiro, o físico, o matemático e... o incêndio

Anônimo

Um engenheiro, um físico e um matemático estavam caminhando pela rua quando viram um prédio em chamas. O incêndio estava ficando fora de controle e o chefe dos bombeiros correu até eles e pediu-lhes ajuda.

O engenheiro pediu para ver as plantas de construção do prédio, e então deu ao chefe instruções específicas – tantos litros por minuto nesta janela, tantos litros no teto – e o incêndio logo foi extinto. O chefe dos bombeiros agradeceu ao engenheiro.

Uma semana mais tarde o físico foi até o quartel dos bombeiros com um pequeno folheto intitulado Princípios gerais de combate ao fogo e sugeriu que o chefe o incorporasse ao treinamento e às operações. O chefe dos bombeiros agradeceu ao físico.

Seis meses mais tarde, o matemático entrou aos tropeções no quartel com uma pilha de trinta centímetros de altura de papéis. Com a barba por fazer e a roupa toda amassada, ele jogou a pilha sobre a mesa do chefe e anunciou triunfantemente: “Consegui!”

“O que você conseguiu?”, perguntou o chefe dos bombeiros atônito. “Provei que o fogo existe!”

Fonte: Trefil, J. 1999. Somos diferentes? RJ, Rocco. Atribuído a um estudante de pós-graduação anônimo.

24 abril 2024

Para Lívia

Vera Pedrosa

Pensar que tua avó
criou-se nessa chácara
(onde ao pé da
mangueira desenterraram uma vez
um caco)
com todos os córregos
e os brinquedos chegavam
da Europa numa mala.
Os pés de lichi o bisavô
mandara trazer da Índia
(se dizia líxia).
Faz frio no jardim
descido da mata
(flanco que ilumina e
umedece
esse cansaço de retorno).
Onde tua tia-avó
delimitava áreas
de horror e solidão.
Pensar que passavam os dias
encolhidas
(embaixo dessas árvores)
em pontos de sombra.

Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª ed. RJ, Aeroplano.

22 abril 2024

Os leões do mar

James Fenimore Cooper

– Ah! Por que os homens não se contentam com as bênçãos que a Providência deixa ao nosso alcance imediato, e têm que fazer viagens tão longas para acumular outras?

– Você gosta do seu chá, Mary Pratt, e do açúcar que põe nele, e das sedas e fitas que vejo você usar; como teria essas coisas se ninguém saísse em viagem? O chá e o açúcar, as sedas e os cetins, não crescem junto com os mariscos do Lago das Ostras...

Mary reconheceu a verdade do que foi dito, mas mudou de assunto.

Fonte: Crosby, A. W. 1993. Imperialismo ecológico. SP, Companhia das Letras. Excerto de livro originalmente publicado em 1849.

20 abril 2024

A autópsia


Enrique Simonet [Lombardo] (1866-1927). ¡Y tenía corazón! 1890.

Fonte da foto: Wikipedia.

17 abril 2024

Descendo das árvores: Clima, hábitat, nicho e as origens da humanidade

Felipe A. P. L. Costa

RESUMO. – Chimpanzés e seres humanos derivaram de um mesmo ancestral comum. Evidências fósseis e moleculares indicam que o ramo ancestral se dividiu em dois há 5-8 milhões de anos. De um lado, prosperou a linhagem que daria origem aos chimpanzés; de outro, a que daria origem aos humanos. As duas linhagens se diferenciaram e se afastaram, dando origem a múltiplas ramificações e a diferentes estilos de vida. Os ancestrais dos chimpanzés continuaram a viver em florestas fechadas, enquanto os nossos ancestrais desceram das árvores e passaram a viver em hábitats mais abertos, dominados por gramíneas e outras plantas herbáceas.

[Para ler e/ou capturar o artigo completo, clique aqui.]

15 abril 2024

Eras glaciais e interglaciais

J. O. Ayoade

Não obstante se calcule que a Terra possua cerca de 3 a 4 bilhões de anos, o estudo de climas passados (paleoclimatologia) cobre apenas mais ou menos 500-600 milhões de anos. Isto porque as evidências de climas passados só raramente são encontradas em rochas pré-cambrianas. [...]

Acredita-se que na maior parte do último bilhão de anos tenham ocorrido condições climáticas moderadamente quentes e, portanto, sem ocorrência de gelo. Este clima moderadamente quente foi interrompido por duas idades glaciais anteriores à época do Pleistoceno, do último milhão de anos. Há cerca de 300-350 milhões de [anos], geleiras continentais cobriam as atuais América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártica. [...] Anteriormente, entre cerca de 600-800 milhões de anos atrás, ocorreu glaciação na Groelândia, África, Austrália e Ásia. [...] [De 350 milhões de anos para cá], a tendência geral da temperatura tem sido descendente.

[Em suma,] [t]rês períodos de glaciação ocorreram nos últimos 600 milhões de anos, mais ou menos. Houve uma glaciação no período pré-Cambriano, durante o Permiano e, mais recentemente, durante o Pleistoceno. [...] [O] clima da Terra tem estado frio na maior parte do último milhão de anos, oscilando através de uma série de episódios glaciais e interglaciais, durante os quais as geleiras continentais avançaram e recuaram à medida que a temperatura abaixava ou se elevava.

Fonte: Ayoade, J. O. 1986 [1983]. Introdução à climatologia para os trópicos. SP, Difel.

13 abril 2024

Dois milhões e meio de anos atrás

Peter Ward

Dois milhões e meio de anos atrás. Trata-se de uma data significativa para vários ramos diferentes da ciência. Para os paleoclimatologistas, significa o princípio da grande perturbação climática que iniciou as Idades do Gelo. Para os antropólogos, ela agora marca a primeira aparição de nosso gênero e uma grande diversificação dos hominídeos. Para os geólogos, denota o fim de uma unidade de tempo geológica – a Época do Plioceno – e o início de outra, o Pleistoceno. Eu acredito que ela também marca o início da extinção moderna, o Terceiro Evento.

Fonte: Ward, P. 1997. O fim da evolução. RJ, Campus.

12 abril 2024

17 anos e meio no ar

F. Ponce de León

Nesta sexta-feira, 12/4, o Poesia Contra a Guerra está a completar 17 anos e cinco meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘17 anos e cinco meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Alberto Moravia, Detlev Ploog, Garcilaso de la Veja, James A. H. Murray, James H. Brown, John Worrall, Jorge Manrique, Margaret Masterman, Mark V. Lomolino, Nathan Glazer, Paul F. Lazarsfeld e Ziraldo. Além de material de autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes artistas: Bernardo Ferrándiz, José Moreno Carbonero e Pierre Dumont.

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