13 maio 2025

Telegrafia sem fim

Salette Tavares

Onde o sonho do profundo se adormece
e as flores do enquanto me seduzem
neste vento que me paira e acontece,
o tempo do cansaço me escurece
e das estrelas instantes se conduzem
geométricas e finas linhas frias
cadentes de sonhadas geografias.
Ó meu cantar além dentro de mim
ó meu saber nos dedos o que vejo,
eu sei traçar a negação do fim
no sempre que se aquece para quem
se cria e se inventa de desejo.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1967.

12 maio 2025

18 anos e sete meses no ar

F. Ponce de León

Nesta segunda-feira, 12/5, o Poesia Contra a Guerra está a completar 18 anos e sete meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘18 anos e meio no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Alvin Toffler, Anthony Giddens, Charles Houillon, Eugène Ionesco, Gisele Yukimi Kawauchi e Luiz Eduardo Wanderley. Além de material de autores que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes artistas: John Phillip, John Singleton Copley e Thomas Musgrave Joy.

10 maio 2025

O grumete e o tubarão


John Singleton Copley (1738-1815). Watson and the Shark. 1778.

Fonte da foto: Wikipedia.

08 maio 2025

Society never advances

Ralph Waldo Emerson

Society never advances. It recedes as fast on one side as it gains on the other. It undergoes continual changes; it is barbarous, it is civilized, it is christianized, it is rich, it is scientific; but this change is not amelioration. For every thing that is given, something is taken. Society acquires new arts, and loses old instincts. What a contrast between the well-clad, reading, writing, thinking American, with a watch, a pencil, and a bill of exchange in his pocket, and the naked New Zealander, whose property is a club, a spear, a mat, and an undivided twentieth of a shed to sleep under! But compare the health of the two men, and you shall see that the white man has lost his aboriginal strength. If the traveller tell us truly, strike the savage with a broad axe, and in a day or two the flesh shall unite and heal as if you struck the blow into soft pitch, and the same blow shall send the white to his grave.

Fonte (em port.): Sagan, C. 1998 [1997]. Bilhões e bilhões. SP, Companhia das Letras. Excerto de uma obra originalmente publicada em 1841.

06 maio 2025

A voz do meu rio

Emílio Moura

Da Serra das Gerais ouço a voz de meu rio.

Que me quer o seu eco, se a memória
guarda de tudo apenas esta fímbria
entre o real e o irreal? Tudo se apaga,
terra e céu, verde e azul, tudo se apaga,
e há um fluir mais triste que se escuta
em mim, mas já sem mim.

Fonte (v. 1): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1969.

04 maio 2025

Quando a variedade temática é limitante

Anthony Giddens

É difícil separar a sociologia de [Georg] Simmel [1858-1917] dos problemas éticos e epistemológicos mais amplos em que ele se interessava. A tentativa para fundar uma ‘filosofia da vida’ nunca saiu do centro da atenção de Simmel, até mesmo nos seus escritos que são explicitamente de caráter sociológico. Por outro lado, muitos dos seus ensaios que tratavam de assuntos que se situavam aparentemente fora da Sociologia, como, por exemplo, os que se encontravam no terreno da estética, não deixavam de possuir um certo sentido sociológico: as suas obras são, muitas vezes, ricas em pontos de vista e hipóteses sociológicos. No entanto, as suas mais significantes contribuições para a Sociologia se encontram em seus dois mais importantes trabalhos: a Philosophie des Geldes (Filosofia do Dinheiro), 1900, e a Soziologie (1908). [...]

As grandes virtudes de amplidão e variedade no trabalho de Simmel são ao mesmo tempo a origem de suas limitações. Os seus escritos não possuem a mesma força acumulada das obras de Durkheim, que atacam os problemas teóricos fundamentais por meio de dados empíricos cuidadosamente alinhados. O uso que Simmel fez do método empírico é um tanto arrogante: cita exemplos sem documentos, como se a verdade fosse autoevidente, embora sempre haja repetidamente as afirmações do caráter provisório e exploratório de seu trabalho. A sua terminologia é muito indecisa e chega mesmo a ser descuidada. Torna-se claro, quando Simmel a usa, que a ‘forma’ social geralmente se aproxima da moderna noção de ‘estrutura’ social.

Fonte: Lukes, S. 1971 [1969]. Saint Simon. In: Raison, T., org. Os precursores das ciências sociais. RJ, Zahar.

02 maio 2025

Os sipúnculos

Gisele Yukimi Kawauchi

O filo
 Sipuncula (do grego, siphunculus = ‘pequeno tubo’) é um grupo de invertebrados bentônicos marinhos com 151 espécies consideradas válidas atualmente [...]. O corpo de um Sipuncula, dividido em tronco e introverte, pode ter de 3 a 400 mm de comprimento, embora a maioria varie entre 15 e 30 mm [...]. A forma do tronco pode variar de cilíndrica alongada a quase que completamente esférica, e o introverte pode ser menor, do mesmo tamanho ou até 10 vezes maior que o tronco [...].

É possível encontrar sipúnculos em qualquer ambiente ou habitat, de regiões interditais a profundidades abissais, dos polos às regiões equatoriais. Algumas espécies utilizam como abrigo conchas de moluscos, tubos de poliquetos ou carapaças de foraminíferos, enquanto outras podem ser encontradas entre fendas nas rochas ou sob elas, associadas a esponjas, algas, fios de bisso de bivalves ou raízes de fanerógamas marinhas. Existem espécies que vivem em galerias escavadas em corais, coralos ou rochas sedimentares, tais como arenito e argila, enterrados em galerias não permanentes em praias de sedimento arenoso ou lodoso, ou, ainda, em substratos peculiares como o crânio de uma baleia em decomposição [...]. Os indivíduos do grupo podem viver dispersos no substrato ou de maneira agregada, formando populações bem densas de quase 4.000 indivíduos por [metro quadrado] [...].

Fonte: Shimizu, R. M. 2016. In: Fransozo, A. & Negreiros-Fransozo, M. L., orgs. Zoologia dos invertebrados. RJ, Roca.

30 abril 2025

Um décimo de milímetro

Charles Houillon

A formação do ovo dos mamíferos está em íntima relação com a evolução do folículo de Graaf. O ovócito, que se encontra no interior dos envoltórios foliculares, só foi reconhecido como um ovo verdadeiro em 1827 por [Karl Ernst] von Baer. O ovo contém poucas substâncias de reserva; seu diâmetro é da ordem de um décímo de milímetro. Atribui-se-lhe o termo alécito preferencialmente ao de oligolécito; o ancestral dos mamíferos devia possuir, de fato, um ovo rico em vitelo. O estudo do desenvolvimento permite observar-se uma segmentação total no início, mas, a seguir, a evolução do ovo oferece o mesmo aspecto que nos sauropsídeos. Os mesmos anexos embrionários se formarão, mas serão acrescidos de uma nova formação em relação com o desenvolvimento no organismo materno: a placenta, que assegura as trocas entre a mãe e o feto, e que deriva diretamente dos anexos embrionários descritos nas aves.

Fonte: Houillon, C. 1972. Embriologia. SP, Blücher.

27 abril 2025

O turbilhão mental

Alvin Toffler

Nunca antes tantas pessoas em tantos países – mesmo pessoas educadas e supostamente sofisticadas – foram intelectualmente tão inermes, afogando-se, por assim dizer, num turbilhão de ideias conflitantes, confusas e cacofônicas. Visões em colisão umas com [as] outras abalam o nosso universo mental.

Cada dia traz alguma nova moda, alguma descoberta científica, alguma religião, algum movimento ou manifesto. O culto da natureza, a ESP (Extrasensory Perception), a medicina holística, a sociobiologia, o anarquismo, a tecnofilia, a tecnofobia, e um milhar de outras correntes e correntes cruzadas passam através da tela da consciência, cada uma com seu sacerdócio científico ou guru ‘picareta’.

Fonte: Toffler, A. 1980. A terceira onda. RJ, Record.

24 abril 2025

Eos


Thomas Musgrave Joy (1812-1866). Eos. 1843 (?).

Fonte da foto: Wikipedia.

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