31 outubro 2008

Os meninos morcegos

Sérgio Capparelli

Os meninos
Da Vila Sossego
Viraram morcego.

Pernas para cima
Cabeças para o ar.

Passa um mosquito
Inhac
Outro mosquito,
Inhac

Pernas para cima
Cabeças para o ar.

Os meninos
Da Vila Sossego
Viraram Morcego.

Fingem que dormem
Estão acesos

Se pensa que passa,
Melhor não passar

Inhac, inhac.

Fonte: edição No. 106 (setembro de 2000) da revista Ciência Hoje das Crianças. Poema originalmente publicado em 1999.

30 outubro 2008

História natural dos ricos

Richard Conniff

1.
[...]
Em A teoria da classe ociosa, Thorstein Veblen [...] descreveu o comportamento dos ricos basicamente em termos do consumo ostensivo. No entanto, sob muitos aspectos, o consumo não ostensivo é mais intrigante. Quase todos os pavões, por exemplo, têm uma plumagem extravagantemente ostensiva na cauda, a qual mantêm ereta e agitam para atrair a atenção amorosa das fêmeas. Estas não são nada indiferentes às questões do tamanho e do vigor; tais qualidades, assim como a fortuna para os ricos, são o preço do ingresso. Além disso, as fêmeas prestam rigorosa atenção a alguns detalhes inconspícuos, como o brilho e a simetria das penas. Quando um macho perde apenas cinco das cerca de 150 penas de sua cauda, as fêmeas mais exigentes tendem a evitar seu campo de dança.

Entre os ricos, do mesmo modo, os sinais inconspícuos são uma espécie de linguagem particular, de nuanças extremamente delicadas na subespécie. Uma mulher que faça parte do clube, por exemplo, pode usar o que parece ser uma blusa marrom comum. Somente seus pares serão capazes de reconhecê-lo como uma peça de seda da grife Yves St. Laurent, mais cara, digamos, do que uma capa de chuva Chanel. Similarmente, em sua casa na Itália, Sirio Maccioni, dono do elegante restaurante Le Cirque, em Nova York, dirige um despretensioso Lancia. Mas os membros do clube sabem, pelo ronronar gutural do motor, que na verdade há uma Ferrari sob a carroceria. A família Agnelli, cuja empresa fabrica os Lancias e as Ferraris, começou a produzir essa Ferrari disfarçada na década de 1980, quando a política de esquerda tornou imprudente exibir a riqueza de maneira muito explícita.
[...]

Fonte: Conniff, R. 2004. História natural dos ricos. RJ, Jorge Zahar.

29 outubro 2008

A uma passante pós-baudelairiana

Carlito Azevedo

Sobre esta pele branca
um calígrafo oriental
teria gravado
sua escrita luminosa
– sem esquecer entanto
a boca: um ícone em rubro
tornando mais fogo
o céu de outubro

tornando mais água
a minha sede
sede de dilúvio –

Talvez este poeta afogado
nas ondas de algum danúbio imaginário
dissesse que seus olhos são
duas machadinhas de jade
escavando o constelário noturno
(a partir do que comporia
duzentas odes cromáticas)

mas eu que venero mais que o ouro-verde raríssimo
o marfim em alta-alvura
de teu andar em desmesura sobre
uma passarela de relâmpagos súbitos
sei que tua pele pálida de papel
pede palavras de luz

Algum mozárabe ou andaluz decerto
te dedicaria um concerto
para guitarras mouriscas
e cimitarras suicidas

Mas eu te dedico quando passas
me fazendo fremir

(entre tantos circunstantes, raptores fugidios)

este tiroteio de silêncios
esta salva de arrepios.

Fonte: Moriconi, I. 2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema originalmente publicado em 1991.

28 outubro 2008

Ninfas e sátiro


William [Adolphe] Bouguereau (1825-1905). Les Nymphes et le Satyre. 1873.

Fonte da foto: Art Renewal Center.

26 outubro 2008

Mistérios de um fósforo

Augusto dos Anjos

Pego de um fósforo. Olho-o. Olho-o ainda. Risco-o
Depois. E o que depois fica e depois
Resta é um ou, por outra, é mais de um, são dois
Túmulos dentro de um carvão promíscuo.

Dois são, porque um, certo, é do sonho assíduo
Que a individual psiquê humana tece e
O outro é o do sonho altruístico da espécie
Que é o substractum dos sonhos do indivíduo!

E exclamo, ébrio, a esvaziar báquicos odres:
– “Cinza, síntese má da podridão,
“Miniatura alegórica do chão,
“Onde os ventres maternos ficam podres;

“Na tua clandestina e erma alma vasta,
“Onde nenhuma lâmpada se acende,
“Meu raciocínio sôfrego surpreende
“Todas as formas da matéria gasta!”

Raciocinar! Aziaga contingência!
Ser quadrúpede! Andar de quatro pés
É mais do que ser Cristo e ser Moisés
Porque é ser animal sem ter consciência!

Bêbedo, os beiços na ânfora ínfima, harto,
Mergulho, e na ínfima ânfora, harto, sinto
O amargor específico do absinto
E o cheiro animalíssimo do parto!

E afogo mentalmente os olhos fundos
Na amorfia da cítula inicial,
De onde, por epigênesis geral,
Todos os organismos são oriundos.

Presto, irrupto, através ovóide e hialino
Vidro, aparece, amorfo e lúrido, ante
Minha massa encefálica minguante
Todo o gênero humano intra-uterino!

É o caos da ávita víscera avarenta
– Mucosa nojentíssima de pus,
A nutrir diariamente os fetos nus
Pelas vilosidades da placenta! –

Certo, o arquitetural e íntegro aspecto
Do mundo o mesmo ainda é, que, ora, o que nele
Morre, sou eu, sois vós, é todo aquele
Que vem de um ventre inchado, ínfimo e infecto!

É a flor dos genealógicos abismos
– Zooplasma pequeníssimo e plebeu,
De onde o desprotegido homem nasceu
Para a fatalidade dos tropismos. –

Depois, é o céu abscôndito do Nada,
É este ato extraordinário de morrer
Que há de, na última hebdômada, atender
Ao pedido da célula cansada!

Um dia restará, na terra instável,
De minha antropocêntrica matéria
Numa côncava xícara funérea
Uma colher de cinza miserável!

Abro na treva os olhos quase cegos.
Que mão sinistra e desgraçada encheu
Os olhos tristes que meu Pai me deu
De alfinetes, de agulhas e de pregos?!

Pesam sobre o meu corpo oitenta arráteis!
Dentro um dínamo déspota, sozinho,
Sob a morfologia de um moinho,
Move todos os meus nervos vibráteis.

Então, do meu espírito, em segredo,
Se escapa, dentre as tênebras, muito alto,
Na síntese acrobática de um salto,
O espectro angulosíssimo do Medo!

Em cismas filosóficas me perco
E, vejo, como nunca outro homem viu,
Na anfigonia que me produziu
Noniliões de moléculas de esterco.

Vida, mônada vil, cósmico zero,
Migalha de albumina semifluida,
Que fez a boca mística do druida
E a língua revoltada de Lutero;

Teus gineceus prolíficos envolvem
Cinza fetal!... Basta um fósforo só
Para mostrar a incógnita de pó,
Em que todos os seres se resolvem!

Ah! Maldito o conúbio incestuoso
Dessas afinidades eletivas,
De onde quimicamente tu derivas,
Na aclamação simbiótica do gozo!

O enterro de minha última neurona
Desfila... E eis-me outro fósforo a riscar
E esse acidente químico vulgar
Extraordinariamente me impressiona!

Mas minha crise artrítica não tarda.
Adeus! Que eu vejo enfim, com a alma vencida,
Na abjecção embriológica da vida
O futuro de cinza que me aguarda!

Fonte: Anjos, A. 2004. Eu e outras poesias, 46ª edição. RJ, Bertrand. A primeira edição do livro foi publicada em 1912.

25 outubro 2008

A origem das espécies

Charles Darwin

4.
[...]
Muitos escritores têm compreendido mal, ou criticado mal, a expressão seleção natural. Alguns têm mesmo pensado que a seleção natural traz a variabilidade, visto que abrange somente a conservação das variações por acaso produzidas, quando são vantajosas ao indivíduo nas condições de vida em que se encontra. Ninguém protesta contra os agricultores, quando falam dos poderosos efeitos da seleção realizada pelo homem; ora, neste caso é indispensável que a natureza produza, a princípio, diferenças individuais que o homem escolhe para um determinado fim. Outros pretenderam que o termo seleção envolva uma escolha consciente por parte dos animais que se modificam, e inferiu-se mesmo que, não desfrutando as plantas de qualquer vontade, a seleção natural não se lhes aplica. No sentido literal da palavra, não há dúvida de que a expressão seleção natural seja expressão errada; todavia, quem tem criticado os químicos, quando [eles] se servem do termo afinidade eletiva falando dos diferentes elementos? Contudo, não se pode dizer, estritamente falando, que o ácido escolhesse a liga com a qual de preferência se combina. Diz-se que falo da seleção natural assim como de uma potência ativa ou divina; mas quem critica um autor quando este fala de atração ou gravitação regulando o movimento dos planetas? Todos sabem o que [significam], o que exprimem, estas expressões metafóricas necessárias à clareza da discussão. É difícil evitar personificar o termo natureza; por natureza entendo somente a ação combinada e os resultados complexos de um grande número de leis naturais; e, por leis, a série de acontecimentos que temos aceito. No fim de algum tempo ser-nos-ão familiares estes termos e deixaremos de lado estas críticas inúteis.
[...]

Fonte: Darwin, C. 1979 [1859]. A origem das espécies. SP, Hemus.

23 outubro 2008

Abril florescia

Antonio Machado

Abril florescia
Na paisagem mansa.
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas
Do balcão fronteiro
Vi as irmãs sentadas.
A menor cosia,
A maior fiava...
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas,
A mais pequenina,
Risonha e rosada,
De agulha suspensa,
Sentiu que eu a olhava.
A maior seguia,
Silenciosa e pálida,
O fuso na roca,
Que o fio enroscava.
Abril florescia
Na paisagem mansa.

Numa tarde clara
A maior chorava,
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas,
Ante o branco linho
Que na roca fiava.
– Que tens? perguntei-lhe.
Silenciosa e pálida,
Indicou o vestido
Que a irmã começara:
Na túnica negra
A agulha brilhava;
Sobre o véu luzia
A agulha de prata.
Apontou a tarde
De abril que sonhava:
Naquele momento
Os sinos dobravam.
E na tarde clara
Me ensinou suas lágrimas...
Abril florescia
Na paisagem mansa.

Noutro abril alegre,
Noutra tarde clara,
O balcão florido
Solitário estava...
Nem a pequenina,
Risonha e rosada,
Tampouco a irmã triste,
Silenciosa e pálida,
Nem a negra túnica,
Nem a touca branca...

Apenas no fuso
O linho girava
Por mão invisível;
E na obscura sala
A lua do límpido
Espelho brilhava...
Entre os jasmineiros
E as roseiras brancas
Do balcão florido,
Minha imagem dava
Na lua do espelho,
Que longe sonhava...
Abril florescia
Na paisagem mansa.

Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira. Poema originalmente publicado em 1903.

22 outubro 2008

500 miles

Hedy West

If you miss the train I’m on, you will know that I am gone
You can hear the whistle blow a hundred miles
A hundred miles, a hundred miles, a hundred miles, a hundred miles
You can hear the whistle blow a hundred miles

Lord I’m one, Lord I’m two, Lord I’m three, Lord I’m four
Lord I’m 500 miles from my home.
500 miles, 500 miles, 500 miles, 500 miles
Lord I’m five hundred miles from my home

Not a shirt on my back, not a penny to my name
Lord I can’t go a-home this a-way
This a-away, this a-way, this a-way, this a-way
Lord I can’t go a-home this a-way

If you miss the train I’m on, you will know that I am gone
You can hear the whistle blow a hundred miles

Fonte: álbum The best of Peter, Paul and Mary: ten years together (1970), de Peter, Paul and Mary. Canção originalmente gravada em 1961.

21 outubro 2008

Educação dos filhos do rei


Lawrence Alma-Tadema (1836-1912). The education of the children of Clovis. 1861.

Fonte da foto: Art Renewal Center.

20 outubro 2008

Densidade populacional e patologia social

John B. Calhoun

Na célebre tese de Thomas Malthus, o vício e a miséria impõem o limite natural básico sobre o crescimento das populações. Os estudiosos do assunto têm dado a maior atenção à miséria, isto é, à voracidade, à doença e à reserva de alimentos como forças que operam para ajustar o tamanho de uma população a seu ambiente. E o vício? Pondo de lado a carga moral deste mundo, quais os efeitos do comportamento social de uma espécie no crescimento da população e da densidade da população no comportamento social?
[...]

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Companhia Editora Nacional & Edusp. Artigo originalmente publicado em 1962.

19 outubro 2008

Se acaso aqui topares, caminhante

Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha

Se acaso aqui topares, caminhante,
Meu frio corpo já cadáver feito,
Leva piedoso com sentido aspeito
Esta nova ao esposo aflito, errante...

Diz-lhe como de ferro penetrante
Me viste por fiel cravado o peito,
Lacerado, insepulto, e já sujeito
O tronco feio ao corvo altivolante:

Que dum monstro inumano, lhe declara,
A mão cruel me trata desta sorte;
Porém que alívio busque à dor amara.

Lembrando-se que teve uma consorte,
Que por honra da fé que lhe jurara,
À mancha conjugal prefere a morte.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 2, 2ª edição. SP, Cultrix & Edusp. Poema – com a dedicatória ‘À mameluca Maria Bárbara, mulher de um soldado, cruelmente assassinada no caminho da Fonte do Marco, perto desta cidade de Belém, porque preferiu à morte à mancha de infiel ao seu esposo’ – originalmente publicado em 1850.

18 outubro 2008

Soneto de Arvers

Bastos Tigre

Guardo um segredo n’alma e um mistério na vida,
Imorredouro amor que irrompeu de momento.
Se o mal é sem remédio, a queixa é descabida
E a que me fez o mal, nunca ouviu meu lamento.

Por ela já passei – sombra despercebida,
E ao meu lado a sentir, no meu isolamento!
Ao termo chegarei dessa terrena lida,
E não ouso pedir, e receber não tento.

Quanto a ela, apesar da doçura e carinho
Com que Deus a dotou, seguirá seu caminho,
Sem ouvir que a acompanha um murmúrio de amor...

E, fiel ao seu dever que austeramente zela,
Ela dirá, lendo os meus versos plenos dela:
– “O soneto de Arvers tem mais um tradutor!”

Fonte: Martins, W. 1979. História da inteligência brasileira, vol. 7. SP, Cultrix & Edusp. Versão publicada em 1921; o poema original de Félix Arvers foi publicado em 1833.

17 outubro 2008

Ruínas

Faria Neves Sobrinho

Ruínas de um templo: pórticos fendidos,
Muros por terra, pedras amontoadas
Sobre outras pedras, mármores partidos,
Altares nus, colunas derrocadas.

Sobre os velhos escombros denegridos,
– Polvos – as heras, verdes e esgalhadas,
Entrelaçam tentáculos torcidos,
Braços recurvos, caudas enroscadas.

Minh’alma é um templo em ruínas: desabaram,
Foram por terra as ilusões e os sonhos...
E, hoje, sobre os destroços que ficaram,

Na agonia dos males sem remédio,
A enlaçá-los, contorcem-se os medonhos,
Formidáveis tentáculos do tédio.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em 1911.

16 outubro 2008

Cinqüenta mil visitas

F. Ponce de León

No meio do expediente de ontem, quarta-feira, o Poesia contra a guerra superou a marca das 50 mil visitas. Do balanço numérico anterior – ver “Quarenta mil visitas”, em 23/6 – até ontem (15/10) ocorreram em média cerca de 87 visitas/dia. O recorde positivo de visitantes únicos em um só dia permanece em 185, alcançado em 4/6.

15 outubro 2008

Garota com bandolim


Jules Joseph Lefebvre (1836-1911). Jeune femme à la mandoline. 1870.

Fonte da foto: Art Renewal Center.

14 outubro 2008

A uns certos poetas

Múcio Teixeira

Ó tísicos Romeus! ó corações doentes.
Que ficais, ao luar, cismando horas inteiras;
Ó magros menestréis, tristes como os poentes
E estéreis como o seio anêmico das freiras!...

Profetas ideais, fantásticos videntes,
Que andais pelos bordéis, dormindo nas cadeiras...
Por que tanto chorais? – sofreis de dor de dentes?
Deixaram-vos sem roupa as vossas lavadeiras?

Aves do madrigal, canários sem gaiola,
Que andais, como um mendigo, a suplicar a esmola
De um bravo à insipidez dalgum recitativo...

Atirai para um canto as vossas elegias;
Deixai de plagiar o morto Jeremias;
Imitai Baudelaire, que mesmo morto é vivo.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em livro em 1880.

12 outubro 2008

Aniversário de dois anos

F. Ponce de León

Neste domingo, 12/10, o Poesia contra a guerra completa dois anos no ar. Ao fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue indicava que 49.618 visitas haviam sido registradas.

Nos últimos 12 meses, foram ao ar 328 postagens (incluindo esta), trazendo textos de 196 novos autores, além de outros que já haviam sido publicados no primeiro ano – ver Aniversário de um ano. Eis a lista completa desses 196 autores:

Adelaide Crapsey, Adolfo Casais Monteiro, Adriano Espíndola, Affonso Ávila, Al Berto, Albert Einstein, Alberto de Lacerda, Alda Lara, Álvaro de Campos, Ana Hatherly, Ana Maria Machado, Ana Paula Tavares, Ângelo Lima, António Barahona da Fonseca, Antônio Girão Barroso, António Maria Lisboa, António Nobre, António Ramos Rosa, Archibald MacLeish, Armando Freitas Filho, Artur Azevedo, Arturo Carrera, Arturo Torres Rioseco, Auguste de Saint-Hilaire, Augusto Frederico Schmidt e Augusto Meyer;

Bandeira Tribuzi, Barry Commoner, Basílio da Gama, Bento Teixeira e Bocage;

Carlos Nejar, Carole King, Cassiano Ricardo, Charles B. Heiser Jr., Christina Rossetti e Cruz e Souza;

D. H. Lawrence, Da Costa e Silva, Daniel Defoe, Daniel J. Kevles, Dantas Motta, Dante Milano, David Ehrenfeld, David Mourão-Ferreira, Desmond Morris, Dolores Duran, Dom Dinis, Domitila Barrios de Chungara, Dora Ferreira da Silva e Douglas J. Futuyma;

E. E. Cummings, Edmund Wilson, Eduardo Alves da Costa, Egito Gonçalves, Elliot Aronson, Elizabeth Barrett Browning, Emílio de Meneses, Emílio Moura, Eörs Szathmáry e Eugénio de Andrade;

Fausto Wolff, Felipe D’Oliveira, Fiama Hesse Pais Brandão, Flávio Aguiar, Fontoura Xavier, Francesco Cavalli-Sforza, Francisco Alvim, Francisco Otaviano, Franz Kafka e Friedrich Hölderlin;

Gabriel García Márquez, Gabriela Mistral, Gastão Cruz, Gerardo Mello Mourão, Gerome Ragni, Gilka Machado, Glauco Mattoso e Guimarães Passos;

Hans Eysenck, Heitor Ferraz Mello, Helder Macedo, Helena Cronin, Herberto Helder, Hermes Fontes, Hipócrates e Horst Rieck;

Iacyr Anderson Freitas, Ivan Junqueira e Ivani Kotait;

J. R. R. Tolkien, Jack Cohen, Jack London, Jacob Grimm, Jacyntho Lins Brandão, James Rado, Jane Goodall, Jean Piaget, Jean Ziegler, Joan, Joan Roughgarden, Joaquim Cardozo, John E. Young, John Maynard Smith, John R. Searle, Jorge Carrera Andrade, José Asunción Silva, José Blanc de Portugal, José Carlos Capinan, José Craveirinha, José Tolentino Mendonça, Juan Malpartida, Juan Ramón Jiménez e Junqueira Freire;

Kai Hermann, Karl Popper e Konrad Lorenz;

L. Frank Baum, Langston Hughes, Laurindo Rabelo, Lêdo Ivo, Leon Tolstói, Leon Trotsky, Leonard Barden, Lou Reed, Luca Cavalli-Sforza, Luciano Cânfora, Luís Forjaz Trigueiros, Luiz Tatit, Luiza Neto Jorge e Lygia Bojunga;

Manoel de Barros, Manuel Gutiérrez Nájera, Manuel Ulacia, Marcia Lee Anderson, Marciano Vasques, Maria Alberta Menéres, Maria Ângela Alvim, Maria Anna Acciaioli Tamagnini, Maria Teresa Horta, Marian S. Dawkins, Mariano Brull, Mario Bunge, Mário de Andrade, Mário Faustino, Marly de Oliveira, Martin Codax, Mauro Mota, Michael Eysenck e Michael Goulding;

Natália Correia, Natalie Angier, Natalie Rogers, Neil Young, Nicanor Miranda e Nuno Júdice;

Pablo Antonio Cuadra, Pedro Tamen e Peter Sinfield;

Raul de Carvalho, Raúl Zurita, Ribeiro Couto, Richard Feynman, Roald Dahl, Robert Creeley, Robert Jay Lifton, Robert E. Ricklefs, Robert Goodland, Roberto Domeneck, Roberto Echavarren, Roberto Piva, Rodrigo Garcia Lopes, Roger Lewin, Rogério Andrade Barbosa, Rosana Rios, Rui Knopfli e Ruy Belo;

Sá de Miranda, Salette Tavares, Sebastião da Gama, Sérgio de Castro Pinto, Sherwin B. Nuland, Simon Schama, Sólon Borges dos Reis e Stephen Jay Gould;

Taís Guimarães, Tony Banks e Torquato Neto;

Vera Pedrosa, Vicente de Carvalho e Victor Manuel Mendiola;

Wilhelm Grimm, William Blake, William Golding, William H. Calvin e Woody Guthrie.

Cabe ainda registrar que, no mesmo período, foram publicadas imagens de obras de 58 pintores, a saber: Adriaen van Utrecht, Albert Bierstadt, Alfred Sisley, Angélico, Annibale Carracci, Arkady Rylov e Artemisia Gentileschi; Berthe Morisot; Camille Pissarro, Canaletto, Candido Portinari e Charles Gleyre; Dominique Ingres; Édouard Vuillard; Ferdinand Hodler, Francis Picabia, Frans Hals e Frédéric Bazille; Georg Heinrich Croll, Georges de La Tour, Georgia O’Keeffe, Giotto, Guercino e Gustave Courbet; Henri de Toulouse-Lautrec; Isaac Levitan; Jacob Lawrence, James McNeill Whistler, Jan Steen, Jasper Johns, Jean-Baptiste-Siméon Chardin, Jean-Michel Basquiat, John Constable, John James Audubon, John Singer Sargent, José Ferraz de Almeida Junior, Josefa de Óbidos, Joseph Wright of Derby e Judith Leyster; M. C. Escher, Martin Johnson Heade, Mary Cassatt, Masaccio, Max Ernst, Mikhail Vrubel e Mstislav Dobuzhinsky; Nicolas Poussin, Norman Rockwell e Nuno Gonçalves; Quentin Massys; Roelant Savery e Rogier van der Weyden; Thomas Gainsborough; Vasily Surikov; William Holman Hunt, William Orpen, William Turner e Winslow Homer.

11 outubro 2008

Último canto do cisne

Laurindo Rabelo

Quando eu morrer, não chorem minha morte,
Entreguem o meu corpo à sepultura;
Pobre, sem pompas, sejam-lhe a mortalha
Os andrajos que deu-me a desventura.

Não mintam ao sepulcro apresentando
Um rico funeral d’aspecto nobre:
Como agora a zombar me dizem vivo,
Digam-me também morto – aí vai um pobre!

De amigos hipócritas não quero
Públicas provas de afeição fingida;
Deixem-me morto só, como deixaram-me
Lutar contra a má sorte toda a vida.

Outros prantos não quero, que não sejam
Esse pranto de fel amargurado
De minha companheira de infortúnios,
Que me adora apesar de desgraçado.

O pranto, açucena de minh’alma,
Do coração sincero, d’alma sã,
De um anjo que também sente meus males,
De uma virgem que adoro como irmã.

Tenho um jovem amigo, também quero
Que junte em minha Essa os prantos seus
Aos de um pobre ancião que perfilhou-me
Quando a filha entregou-me aos pés de Deus

Dos meus todos eu sei que terei preces,
Saudades, lágrimas também;
Que não tenho a lembrança de ofendê-los
E sei quanta amizade eles me têm.

E tranqüilo, meu Deus, a vós me entrego,
Pecador de mil culpas carregado:
Mas os prantos dos meus perdão vos pedem,
E o muito que também tenho chorado.

Fonte (estrofes 1, 3, 4 e 8): Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 2, 2ª edição. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em 1867.

10 outubro 2008

Germinal

Emílio de Meneses

Passou. A vida é assim: é o temporal que chega,
Ruge, esbraveja e passa, ecoando, serra a serra,
No furioso raivar de indômita refrega
Que as montanhas abala e os troncos desenterra.

Mas o pranto, afinal, que essa cólera encerra
Tomba: é a chuva que cai e que a planície rega;
E a cada gota, ali, cada germe se apega
Fecundando, a minar, toda a alagada terra.

Também o coração do convulsivo aperto
Da dor e das paixões, das angústias supremas,
Sente-se livre, após, a um grande choro aberto.

Alma! já que não é mister que ansiosa gemas,
Alma! fecunda enfim nas lágrimas que verto,
Possas tu germinar e florescer em Poemas!...

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em 1901.

09 outubro 2008

Descrição do Recife de Pernambuco

Bento Teixeira

Pela a parte do Sul, onde a pequena
Ursa se vê de guardas rodeada,
Onde o Céu luminoso mais serena
Tem sua influição, e temperada;
Junto da Nova Lusitânia ordena
A natureza, mãe bem atentada,
Um porto tão quieto e tão seguro,
Que pela as curvas Naus serve de muro.

É este porto tal, por estar posta
Uma cinta de pedra, inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa,
Onde quebra Netuno a fúria esquiva.
Entre a praia e pedra descomposta,
O estanhado elemento se deriva,
Com tanta mansidão, que uma fateixa
Basta ter à fatal Argos aneixa.

Em o meio desta obra alpestre, e dura,
Uma boca rompeu o Mar inchado,
Que, na língua dos bárbaros escura,
Pernambuco de todos é chamado.
De Para’na que é Mar; Puca, rotura,
Feita com fúria desse Mar salgado,
Que sem no derivar cometer míngua,
Cova do Mar se chama em nossa língua.

Para entrada da barra, à parte esquerda,
Está uma lajem grande e espaçosa,
Que de Piratas fora total perda,
Se uma torre tivera suntuosa.
Mas quem por seus serviços bons não herda
Desgosta de fazer cousa lustrosa,
Que a condição do Rei que não é franco
O vassalo faz ser nas obras manco.

Fonte (estrofes 1, 2 e parte da 4): Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 1, 3ª edição. SP, Cultrix & Edusp. O trecho acima corresponde às estrofes 17-20 de um poema, ‘Prosopopéia’, originalmente publicado em 1601.

08 outubro 2008

Orquídeas e beija-flor


Martin Johnson Heade (1819-1904). Orchids and hummingbird. 1875-83.

Fonte da foto: The Artchive.

07 outubro 2008

Nevrose

Fontoura Xavier

Nessa tristeza mórbida, secreta,
Que te afugenta as sombras do repouso,
Eu vejo a hipocondria, a febre infecta
– Florescências do pântano do gozo.

Por uma noite de luar repleta,
Eu, contudo, quisera, fervoroso,
Sentir pulsar esta paixão discreta
No bronze do teu seio tormentoso.

Depois... morrer! beijando como o pária
Na liça da peleja sanguinária
A montanha de lodo em que se cose!

És o perfume negro, a flor do pasmo,
Que no silêncio morno do marasmo
Faz-me sonhar os estos da nevrose!...

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em 1876.

06 outubro 2008

Morrer... dormir

Francisco Otaviano

Morrer... dormir... não mais! Termina a vida,
E com ela terminam nossas dores;
Um punhado de terra, algumas flores,
E, às vezes, uma lágrima fingida!

Sim! minha morte não será sentida;
Não deixo amigos, e nem tive amores!
Ou, se os tive, mostraram-se traidores,
– Algozes vis de uma alma consumida.

Tudo é podre no mundo! Que me importa
Que ele amanhã se esboroe e que desabe,
Se a natureza para mim é morta!

É tempo já que o meu exílio acabe...
Vem, pois, ó Morte, ao Nada me transporta!
Morrer... dormir... talvez sonhar... quem sabe?

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 2, 2ª edição. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em 1881.

05 outubro 2008

A primeira pedra

Hermes Fontes

– Corpo que se encontrou abandonado de alma,
corpo que se não pôde à ação do ar decompor –
uma pedra é uma vaga imóvel... É uma calma
recordação do mar de que foi leito a estrada,
uma vaga do mar dos Tempos, retardada,
que por aí ficou sem sentidos, parada,
adormecida por um íntimo torpor.

É a Impossibilidade esculturada. Dorme.
Secou-lhe o sangue, e não consegue apodrecer.
Vive? É possível. Morre? É provável. Conforme
a Vida e a Morte... A pedra é um ponto de partida.
É o princípio da Morte, é o princípio da Vida...
É um gesto contrariado, é uma força contida,
É o Ser que adormeceu em caminho do Ser...

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em 1913.

História da inteligência brasileira

F. Ponce de León

No próximo domingo, dia 12/10, o Poesia contra a guerra completará dois anos de atividade. Ao longo da semana, como um modo de comemorar a data e – espero – contemplar os visitantes do blogue, pretendo publicar aqui poemas e textos encontrados nos volumes da coleção História da inteligência brasileira (7 vols., 1977-1978, Cultrix & Edusp), de Wilson Martins, uma obra que faz jus à expressão “marco da literatura”.

04 outubro 2008

O fosso de Babel

Jacyntho Lins Brandão

1.
Quinta-feira, doze de julho. Isso ficou registrado na minha cabeça de um jeito tão forte que nunca esqueci. Recebi a caixa de papelão, com as quatro bordas da tampa entrelaçadas. Pesava muito. De fora, já dava para perceber que estava repleta de papéis. Logo dentro um bilhete, preso na corda de um dos pacotes: Prof. J... Talvez isso lhe interesse. A....

Passei a noite lendo a esmo a papelada. Na pilha amarrada, em que estava preso o bilhete de A..., havia um romance. Fiquei surpreso e fascinado, tanto que varei a madrugada e perdi a hora, ao amanhecer, de ir para a escola. Tive de inventar uma desculpa, que não estava me sentindo bem. Alguma verdade nisso. Eu nem dormido tinha.
[...]

Brandão, J. L. 1997. O fosso de Babel. RJ, Nova Fronteira.

03 outubro 2008

Eu, pecador...

Guimarães Passos

Nas tuas horas de arrependimento,
Pensando em mim, o próprio amor maldizes,
E, revolvendo o peito nas raízes,
Falas, até, nas grades de um convento.

Do gozo tiras o maior tormento,
Das dores tiras as mais negras crises.
Nos dias em que somos mais felizes,
Eu leio tudo no teu pensamento.

Tu vês o inferno quando eu vejo a aurora,
E nos teus olhos, onde a dor se imprime,
Deus me acena, formosa pecadora.

Bradas ao céu de medo, e aos céus eu brado:
Tu – pedindo perdão para o teu crime,
Eu – pedindo que aumente o teu pecado.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema originalmente publicado em 1901.

02 outubro 2008

A sorte do tolo


Georges de La Tour (1593-1652). La diseuse de bonne aventure. 1635.

Fonte da foto: Wikipedia.

01 outubro 2008

Julgavas, então, que a poesia era um discurso

António Franco Alexandre

Julgavas, então, que a poesia era um discurso
de palavras em sentido? Sei quanto a musa aprecia
glória, poder e uniforme, quanto aguarda
o cavaleiro que produz.
A vida, afinal, anda lá fora, antes da folha
ter passado a prensa;
a mais pequena árvore é verde eterna, comparada ao arbusto
que, mal tocada a haste, se desvai em fumo.

Por isso eu fico lendo as crónicas, as lendas,
o jornal, que bem ou mal, cruza as palavras com o tempo,
e contudo! quando o lábio se engana, solta
a mais aguda fífia do trombone,
e de repente o corpo sabe a gente, e então se diz: eis
a verdadeira e pura poesia! pois seria, talvez,
somente a tua mão, cobrindo a folha.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores.

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