29 junho 2018

E se morrer não for tão ruim quanto pensamos?

Jessica Brown

“A ideia da morte, o medo dela, persegue o animal humano como nenhuma outra coisa”, escreveu Ernest Becker em seu livro A negação da morte. É um medo forte o suficiente a ponto de nos fazer engolir folhas de couve, correr suados sobre uma esteira às sete da manhã de uma segunda-feira e mostrar nossos órgãos genitais a um estranho de mãos frias e jaleco branco se nós sentimos que algo está um pouco errado.

Mas o nosso fim iminente não é apenas um provedor benevolente de comportamentos saudáveis. Pesquisadores descobriram que a morte pode determinar nossos preconceitos, se doamos para a caridade ou usamos protetor solar, nosso desejo de sermos famosos, o tipo de líder em quem votamos, como nomeamos nossos filhos e até o que achamos do aleitamento materno.

E, claro, a morte nos apavora. A angústia da morte parece estar no centro de vários distúrbios de saúde mental, incluindo hipocondria, transtorno de pânico e transtornos depressivos. E temos muito medo de falar sobre isso. Uma pesquisa de 2014 da ComRes descobriu que oito em cada dez britânicos se sentem desconfortáveis ao falar sobre a morte e que apenas um terço deles redigiu um testamento.

Mas nós não deveríamos nos preocupar tanto, segundo uma pesquisa que comparou nossa percepção de como seria morrer com os relatos de pessoas diante da morte iminente. Os pesquisadores analisaram os escritos de blogueiros assíduos com câncer terminal ou esclerose lateral amiotrófica (ALS), todos falecidos ao longo do estudo, comparando-os com postagens de blogues escritas por um grupo de participantes instruídos a imaginar que teriam sido diagnosticados com câncer terminal, tendo apenas alguns meses de vida. Eles procuraram por sentimentos gerais de positividade e negatividade e por palavras que descrevessem emoções positivas e negativas, incluindo felicidade, medo e terror.

As postagens dos doentes terminais tinham consideravelmente mais palavras positivas e menos palavras negativas do que as postagens dos que imaginavam estar moribundos – e o uso de linguagem positiva aumentou à medida que eles se aproximavam da morte.

Kurt Gray, um dos pesquisadores do estudo, disse: “Imagino que isso é porque eles sabem que as coisas estão ficando mais sérias e há algum tipo de aceitação e foco no lado positivo, pois eles sabem que não lhes resta muito tempo”.

Os pesquisadores compararam também as últimas palavras e a poesia de prisioneiros no corredor da morte com as de um grupo de pessoas incumbidas de imaginar que estariam perto de enfrentar uma execução. Mais uma vez, os prisioneiros usaram menos palavras negativas. No geral, aqueles diante da morte focaram mais nos aspectos significativos da vida, incluindo família e religião.

“Falamos o tempo todo sobre quão fisicamente adaptáveis nós somos, mas nós também somos mentalmente adaptáveis. Podemos estar felizes na prisão, no hospital, assim como podemos estar felizes à beira da morte”, disse Gray.

“Morrer não é apenas parte da condição humana, mas algo central a ela. Todo mundo morre e a maioria de nós tem medo disso. Nosso estudo é importante, pois está a dizer que isto não é tão universalmente ruim quanto pensávamos que fosse”.

Mas, antes que nos precipitemos, a pesquisa levanta algumas questões. Lisa Iverach, pesquisadora da Universidade de Sydney, explicou que o estudo ressalta como os participantes podem ter sido menos negativos em razão de o mistério em torno da morte ter sido removido.

“Indivíduos diante da morte iminente tiveram mais tempo para processar a ideia da morte e de morrer e, portanto, podem ser mais receptivos à inevitabilidade da morte. Eles têm também uma ideia muito boa sobre como irão morrer, o que pode trazer alguma sensação de paz ou aceitação”.

Mas nem todos nós sabemos de antemão como ou quando iremos morrer e, portanto, perdemos quaisquer benefícios que teríamos ao desnudar a incerteza.

Havi Carel, professora de filosofia da Universidade de Bristol, concorda com os achados do estudo sobre quão adaptáveis nós somos. “Acho que nos acostumamos com a ideia de morrer, assim como nos habituamos a muitas coisas. O choque inicial ao receber um prognóstico ruim é horrível, mas depois de meses ou anos vivendo com essa notícia, o medo diminui”, disse ela.

No entanto, Carel salientou também que há uma distinção importante entre respostas positivas e o fato de considerar algo agradável, e que existem alguns eventos desagradáveis e dolorosos que nós ainda assim vemos como positivos, como é o caso do parto.

“Blogues são escritos para consumo público e eles ficam lá após a morte das pessoas. Usar blogues e poesia consegue apenas revelar as emoções que as pessoas estão dispostas a compartilhar ou tão somente criam um modelo de como elas querem ser lembradas. As pessoas realmente dizem a verdade em seus blogues? Até certo ponto, talvez, visto que essas mídias são por demais públicas”, disse Carel.

“Talvez elas estejam ‘estampando a face valente’. É impossível dizer, mas os blogues evidentemente não são o modo mais íntimo de comunicação. Teria sido melhor usar diários, conversas gravadas com entes queridos ou mesmo cartas pessoais”.

Nathan Heflick, pesquisador e professor da Universidade de Lincoln, também alerta para o risco de os resultados serem interpretados como se as pessoas moribundas vissem a morte como uma experiência inteiramente positiva. “Acho que é uma mensagem perigosa e não é uma conclusão que aparece nos dados do estudo. Ser menos negativo é diferente de dar as boas-vindas ou de almejar a morte”, disse ele.

“Pessoas temem a morte. Essas pessoas moribundas temem a morte. Elas só não temem tanto quanto os outros acham que elas deveriam”.

Se o medo da morte é, de fato, tão inevitável como o evento em si – há uma mudança que podemos fazer para ajudar. Na cultura ocidental, nós tendemos a fingir que a morte não existe, enquanto uma pesquisa mostra que a filosofia da morte do yin e yang, do leste asiático – segundo a qual não pode haver vida sem morte –, permite aos indivíduos usar a morte como um lembrete para usufruir a vida.

“Acho que o Reino Unido e os Estados Unidos são culturas que negam a morte, nas quais esta é em geral evitada como assunto”, disse Heflick.

“Quanto menos se discute abertamente algo, mais assustador ele se torna. Embora, no curto prazo, deixar de falar sobre a morte possa reduzir um pouco o desconforto, isso provavelmente torna a maioria de nós muito mais angustiada, no longo prazo”.

*

Nota

[1] O artigo original, ‘We fear death, but what if dying isn’t as bad as we think?’, foi publicado no The Guardian, em 25/6/2018. A tradução é de F. Ponce de León.

27 junho 2018

Ecce Homo


Elías García Martínez (1858-1934). Ecce Homo. ~ 1930.

Fonte da foto: Wikipedia.

25 junho 2018

Construção


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Fonte: Hollanda, C. B. 1989. Chico Buarque, letra e música, 2 v. SP, Companhia das Letras. Canção gravada em 1971.

23 junho 2018

Poema dum funcionário cansado


A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só

Fonte (verso 1-6 da terceira estrofe): Melo e Castro, E. M. 1973. O próprio poético. SP, Quíron. Poema publicado em livro em 1958.

21 junho 2018

ABL não merece Conceição Evaristo


Soube, ontem (20/6), por meio de matéria do Jornal GGN (ver aqui), que a escritora e professora universitária Maria da Conceição Evaristo de Brito (nascida em 1946) teria oficializado sua candidatura a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Para mim foi uma surpresa, embora eu ainda não tenha conseguido enxergar o lado bom da notícia.

Evaristo seria candidata à cadeira no. 7, vaga desde o falecimento do cineasta Nelson Pereira dos Santos (1928-2018). O primeiro ponto a se destacar aqui é este: diferentemente de Santos, Conceição Evaristo é uma escritora de verdade. Mas é igualmente importante dizer o seguinte: Santos não era nenhum gaiato oportunista, daqueles que prosperam pelos palácios e salões reluzentes da Colônia. (Lugares assim, sobretudo em países culturamente atrasados, atraem todo tipo de espertalhão – incluindo políticos influentes e semianalfabetos endinheirados. Em entrevista recente, por exemplo, o sr. Paulo Coelho não se furtou a dizer que, para ele, a eleição para a ABL era apenas uma conquista a mais [ver aqui]. Depois de eleito, o dublê de guru e escritor tratou de sumir. E mais: passou a se vingar de antigos desafetos, gente que outrora o criticava e que agora vinha até a sua porta, atrás de apoio e voto...)

O problema é que para manter de pé uma instituição ‘literária’, a cota de bufões precisa ser contrabalançada pela presença de um punhado de escritores de verdade, ainda que em quantidade mínima. Em meio a um elenco recheado de espertalhões, não há como negar que a ABL abriga alguns poetas e romancistas de respeito. A presença de Evaristo, no entanto, seria um trunfo e tanto (literário e político). A rigor, não seria exagero dizer que a intituição ganharia um lastro que ainda não tem (ou nunca teve). No lugar da escritora, eu não me candidataria – a ABL simplesmente não merece Conceição Evaristo.

Seja como for, espero que ela continue brindando a todos nós, leitores, com versos e beleza.

Nota

Sobre a obra da autora, ver, por exemplo, artigos em Umtigre na floresta de signos (Maza, 2010), organizado por Edimilson de Almeida Pereira.

19 junho 2018

A crise capitalista

Theotonio dos Santos

O objetivo deste primeiro seminário é discutir a crise atual do capitalismo, seu caráter e suas perspectivas, objetivando situar a atual conjuntura da América Latina dentro do seu contexto. Para esse fim, damos ênfase especial à análise da situação presente, porém estudando-a com base nos elementos gerais que permitem determinar suas características e prever a direção para a qual apontam suas tendências principais.

Qualquer discussão sobre o problema da crise capitalista possui implicações teóricas que não poderão ser desenvolvidas nesta exposição.

No entanto, devemos assinalar que existe uma corrente de pensamento, cada vez mais importante, fundamentalmente dentro do marxismo – embora também representada por pensadores não marxistas – que situa a crise atual do capitalismo dentro da teoria dos movimentos (econômicos) longos, baseada essencialmente nos trabalhos do economista russo Kondratiev. Este economista localizou, na economia mundial, um conjunto de ciclo com duração [aproximada] de 50 anos cada, nos quais o nível da produção alterna períodos de crescimento e de diminuição. Kondratiev demonstrou que esses ciclos se produzem historicamente e localizou três movimentos longos ao largo de 150 anos: sua teoria incluía, para o período em que descrevia (1920), a previsão de um período de depressão econômica, que de fato se realizou nos Estados Unidos de 1914 a 1940 e até 1945/48 na Europa. [...]

Fonte: Santos, T. 1979. In: Assmann, H. org. A Trilateral: Nova fase do capitalismo mundial. Petrópolis, Vozes.

17 junho 2018

A respigadeira


William Powell Frith (1819-1909). The little gleaner. 1850.

Fonte da foto: Wikipedia.

15 junho 2018

É no meu corpo que morreste


é no meu corpo que morreste. agora
temos o tempo todo
ao nosso lado, como
um lodo onde dormitam as

conhecidas maneiras.
algumas nuvens se aproximam, e depois
se afastam, numa duvidosa
manifestação de imperícia;

os animais falantes
atravessam corredores iluminados,
embarcam na

sossegada lembrança dos sonetos,
o leve sono que pesou no dia.
é no meu corpo que morreste, agora

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1983.

13 junho 2018

A pedra fica


Quando morremos,
é a fragilidade que morre.
A pedra fica.

12 junho 2018

Onze anos e oito meses no ar

F. Ponce de León

Nesta terça-feira, 12/6, o Poesia contra a guerra completa 11 anos e oito meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘Onze anos e sete meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Algernon Charles Swinburne, Robert Chambers, Roberto Gomes da Silva e Viriato Gaspar. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Letitia Marion Hamilton e Roderic O’Conor.

10 junho 2018

Prótase


Embora um vate canhoto
Dos loucos aumente a lista,
Seja Cisne ou gafanhoto,
Não encontra quem resista
Dos seus versos a leitura,
Que diverte, inda que é dura!
(F. X. de Novaes.)

No meu cantinho,
Encolhidinho,
Mansinho e quedo,
Banindo o medo;
Do torpe mundo,
Tão furibundo,
Em fria prosa
Fastidiosa –
O que estou vendo
Vou descrevendo.
Se de um quadrado
Fizer um ovo
N’isso dou provas
De escritor novo.

Sobre as abas sentado do Parnaso,
Pois que subir não pude ao alto cume,
Qual pobre, de um Mosteiro à Portaria,
De trovas fabriquei este volume.

Vazias de saber, e de prosápia,
Não tratam de Ariosto ou Lamartine
Nem recendem as doces ambrosias
De Lamiras famoso ou Ar[e]tine.

São rimas de tarelo, atropeladas,
Sem metro, sem cadência e sem bitola,
Que formam no papel um ziguezague,
Como os passos de rengo manquitola.

Grosseiras produções d’inculta mente,
Em horas de pachorra construídas;
Mas filhas de um bestunto que não rende
Torpe lisonja às almas fementidas.

São folhas de adurente cansanção,
Remédio para os parvos d’excelência;
Que aos arroubos cedendo da loucura,
Aspiram do poleiro alta eminência.

E podem colocar-se à retaguarda
Os venerandos sábios de influência;
Que o trovista respeita submisso,
Honra, pátria, virtude, inteligência.

Só corta, com vontade, nos malandros,
Que fazem da Nação seu Montepio;
No remisso empregado, sacripante,
No lorpa, no peralta e no vadio.

À frente parvalhões, heróis Quixotes,
Borrachudos Barões da traficância;
Quero ao templo levar do grão Sumano
Estas arcas pejadas de ignorância.

Fonte: Ferreira, S. 2017. Luiz Gama e a identidade negra na literatura. JF, Edição do autor. Poema – então sob o título de ‘Prólogo’ – publicado em livro em 1859.

08 junho 2018

Los dos ángeles


Ángel de luz, ardiendo,
¡oh, ven!, y con tu espada
incendia los abismos donde yace
mi subterráneo ángel de las nieblas.

¡Oh espadazo en las sombras!
Chispas múltiples,
clavándose en mi cuerpo,
en mis alas sin plumas, en lo que nadie ve,
vida.

Me estás quemando vivo.
Vuela ya de mí, oscuro
Luzbel de las canteras sin auroras,
de los pozos sin agua,
de las simas sin sueño,
ya carbón del espíritu,
sol, luna.

Me duelen los cabellos
y las ansias. ¡Oh, quémame!
¡Más, más, sí, sí, más! ¡Quémame!
¡Quémalo, ángel de luz, custodio mío,
tú que andabas llorando por las nubes,
tú, sin mí, tú, por mí,
ángel frío de polvo, ya sin gloria,
volcado en las tinieblas!

¡Quémalo, ángel de luz,
quémame y huye!

Fonte (estrofe 1): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 4. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1929.

07 junho 2018

O matemático, o físico, o juiz


O matemático: “2 + 2 são quatro”.

O físico: “Nas CNTP, 2 + 2 podem dar quatro”.

O juiz: “2 + 2, chefe? O que o sr. quer que dê?”.

05 junho 2018

A ponte Ouse


Letitia Marion Hamilton (1878-1964). Ouse bridge, York. 1925-31.

Fonte da foto: Art UK.

04 junho 2018

Resposta à seleção

Roberto Gomes da Silva

As bases para a estimativa do progresso genético em um programa de seleção foram estabelecidas particularmente por Dickerson & Hazel (1944), com importantes contribuições de Lush (1945).

Quando é praticada a seleção de um atributo qualquer numa população, o progresso genético a ser esperado pode ser previsto pela função linear (Wright 1969):

ΔG = bFP (m – μ),     (6.1)

onde m e μ são as médias respectivamente dos reprodutores selecionados e da população; e bFP é o coeficiente de regressão do mérito da progênie sobre a média da geração paterna.

A superioridade dos indivíduos selecionados, em relação à media da população, constitui o diferencial de seleção (Lush 1945), do qual depende estreitamente o sucesso da seleção praticada em promover o progresso da população. Se os indivíduos selecionados constituírem uma amostra aleatória da população, é claro que neste caso m → μ e, por conseguinte, praticamente nenhum progresso será obtido.

Se o caráter em questão for normalmente distribuído e se a seleção for feita com base em um limiar seletivoL (i.e., rejeição dos animais com performance abaixo do valor de L, e vice-versa), então pode-se representar a população por uma curva normal truncada no ponto L, onde p é a proporção de indivíduos à direita do ponto de truncamento, representando aqueles que foram selecionados para reprodução [...].

Suponha agora que o coeficiente bFP da equação (6.1) seja representado pelo coeficiente da herdabilidade do atributo em seleção, considerando que h2 pode ser de fato tomado como um coeficiente de regressão (Dickerson & Hazel 1944):

ΔG = h2 (m – μ).     (6.2)

Para tornar a equação (6.2) independente das unidades de medida empregadas e, portanto, mais operacional, considera-se o diferencial de seleção em termos de desvio padrão, σF, do atributo em questão. Daí vem:

ΔG = h2 (m – μ) / σF

ΔG h2 i.     (6.3)

Lush (1945) mostrou que quando o atributo em seleção é normalmente distribuído,

i = (m – μ) / σF

i = σF z / p,     (6.4)

onde z é a ordenada da curva normal no ponto de truncamento L. Desta forma, é possível construir tabelas para o diferencial de seleção de quaisquer atributos normalmente distribuídos, através do uso de tabelas usuais das ordenadas e das áreas da curva normal (encontradas, por exemplo, em Snedecor 1956). [...]

Fonte: Silva, R. G. 1982. Métodos de genética quantitativa. Ribeirão Preto, SBG.

02 junho 2018

Tolos

Poh Pin Chin

Tolos
são tolos
em qualquer
idioma,
mesmo entre
mudos.

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