31 dezembro 2015

Oda a Salinas

Frai Luís de León

El aire se serena
y viste de hermosura y luz no usada,
Salinas, cuando suena
la música extremada,
por vuestra sabia mano gobernada.

A cuyo son divino
el alma, que en olvido está sumida,
torna a cobrar el tino
y memoria perdida
de su origen primera esclarecida.

Y como se conoce,
en suerte y pensamiento se mejora;
el oro desconoce,
que el vulgo vil adora,
la belleza caduca engañadora.

Traspasa el aire todo
hasta llegar a la más alta esfera,
y oye allí otro modo
de no perecedera
música, que es la fuente y la primera.

Ve cómo el gran maestro,
aquesta inmensa cítara aplicado,
con movimiento diestro
produce el son sagrado,
con que este eterno templo es sustentado.

Y como está compuesta
de números concordes, luego envía
consonante respuesta;
y entre ambas a porfía
se mezcla una dulcísima armonía.

Aquí la alma navega
por un mar de dulzura y finalmente
en él ansí se anega
que ningún accidente
estraño y peregrino oye y siente.

¡Oh, desmayo dichoso!
¡Oh, muerte que das vida! ¡Oh, dulce olvido!
¡Durase en tu reposo,
sin ser restituido
jamás aqueste bajo y vil sentido!

A este bien os llamo,
gloria del apolíneo sacro coro,
amigos a quien amo
sobre todo tesoro;
que todo lo visible es triste lloro.

¡Oh, suene de contino,
Salinas, vuestro son en mis oídos,
por quien al bien divino
despiertan los sentidos,
quedando a lo demás adormecidos!

Fonte (versos 4-10; 21-25): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 1. Brasília, Senado Federal. Poema – com a dedicatória ‘A Francisco de Salinas’, mas sem a estrofe 5 – publicado em livro em 1631.

29 dezembro 2015

Máquina do mundo

António Gedeão

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.

Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1961. ‘António Gedeão’ é pseudônimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho.

27 dezembro 2015

Counting small-boned bodies

Robert Bly

Let’s count the bodies over again.

If we could only make the bodies smaller,
The size of skulls,
We could make a whole plain white with skulls in the moonlight!

If we could only make the bodies smaller,
Maybe we could get
A whole year’s kill in front of us on a desk!

If we could only make the bodies smaller,
We could fit
A body into a finger-ring, for a keepsake forever.

Fonte: Pinto, J. N. 2002. Solos do silêncio, 3ª edição. SP, Geração Editorial. Poema publicado em livro em 1967. Para comentários e detalhes adicionais, ver aqui.

26 dezembro 2015

Como se fossem um teclado

Constanze Mozart

Ele escrevia música como se fossem cartas e nunca tocava um movimento antes de tê-lo terminado... Estava sempre dedilhando alguma coisa – o chapéu, a corrente do relógio, a mesa, a cadeira, como se fossem um teclado.

Fonte: Solman, J. 1991. Mozartiana: dois séculos de notas, citações e anedotas sobre Wolfgang Amadeus Mozart. RJ, Nova Fronteira.

24 dezembro 2015

Madona com menino


Carlo Crivelli (1430?-1495). Madonna con bambino in trono e donatore. 1470.

Fonte da foto: Wikipedia.

19 dezembro 2015

Poesia contra a guerra, o livro

F. Ponce de León

Na última quinta-feira (17/12), recebi da gráfica os exemplares impressos do livro Poesia contra a guerra. A publicação – em comemoração ao aniversário de 9 anos – traz uma amostra do universo literário presente neste blogue.

São 100 poemas, arranjados em três grupos, de acordo com a data de nascimento dos poetas: os nascidos antes de 1501 (10 autores, de João Soares de Paiva a Sá de Miranda); entre 1501 e 1800 (24, de Luís de Camões a Almeida Garrett) e após 1800 (66, de Correia de Almeida a Ascânio Lopes).

Além de poetas ou poemas relativamente bem conhecidos, o livro abriga algumas preciosidades que são menos familiares ao leitor brasileiro de hoje. Nesse sentido, aliás, cabe reproduzir aqui as palavras – atualíssimas, ainda que escritas no início do século passado – de Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1910, p. x-xi):

Daria por bem empregados os meus esforços, se conseguisse dois intuitos: que cada leitor, embora leia indiferente e por alto dezenas de poesias, pare comovido diante de algumas; e que pouco a pouco a opinião pública se fixe naquelas que merecem, de facto, a qualificação de obras-primas da lírica portuguesa. Até hoje o aplauso unânime dos cultos ainda não consagrou senão certos nomes de reputação universal.

Critérios

A regra de ouro do blogue sempre foi a de publicar apenas e tão somente textos (poemas, trechos de artigos etc.) extraídos de alguma obra que eu tivesse em mãos. Trocando em miúdos, não bastava querer publicar esse ou aquele texto; era necessário também ter uma testemunha material – e.g., um livro no qual o poema (ou versos dele) estivesse presente. (As únicas exceções têm sido os textos que me são enviados pelos próprios autores.)

Na preparação dessa coletânea, adotei três critérios adicionais: i) publicar apenas poemas originalmente escritos em português (ou em idioma afim, como o galego); ii) selecionar um poema de cada autor (vários autores já tiveram mais de um poema publicado); e iii) incluir apenas autores cuja obra esteja em domínio público (i.e, autores falecidos há mais de 70 anos).

Fontes

Organizar uma coletânea de poesia implica em dois níveis de escolhas: os autores e os poemas. No que diz respeito aos primeiros, tive acesso a uma variedade relativamente ampla de nomes; com relação aos últimos, porém, isso nem sempre aconteceu. Basta dizer que, no âmbito dos cem autores incluídos, dos 38 livros usados como fonte inicial, apenas 16 lidam com um autor específico, oferecendo assim uma amostra algo significativa da obra de cada um deles. Com acesso a um acervo tão restrito, não seria de estranhar que muita poesia de primeira ficasse de fora; ainda assim, no entanto, arrisco dizer que a amostra reunida no livro, além de única e, até certo ponto, representativa, inclui algumas obras-primas. Seja como for, o livro não deve ser visto como uma coletânea do tipo ‘melhores poetas’ ou ‘melhores poemas’.

Nem todas as fontes secundárias são igualmente confiáveis – às vezes, a quantidade de erros e mal-entendidos presentes é bem superior ao que poderíamos chamar de ‘acidental’ ou ‘desprezível’. Uma explicação para isso estaria no fato de elas muitas vezes deixarem as fontes primárias de lado, transcrevendo versões encontradas em outras fontes secundárias. Tentei não cometer o mesmo erro. Para isso, cotejei a versão de cada poema presente nas fontes até então usadas pelo blogue com versões encontradas em obras mais específicas, incluindo, se possível, os originais. Algumas vezes, contudo, tive de me contentar com versões presentes em trabalhos de terceiros, conforme indico em cada caso.

Alguns versos

Alguns versos presentes no livro devem ser familiares ao leitor:

            Os dias, na esperança de um só dia,
            Passava, contentando-se com vê-la
                        Luís de Camões, p. 18.

            Oh! que saudades que tenho
            Da aurora da minha vida
                        Casimiro de Abreu, p. 68.

            E a fonte, sonora e fria,
            Cantava, levando a flor
                        Vicente de Carvalho, p. 102.

            Triste, a escutar, pancada por pancada,
            A sucessividade dos segundos
                        Augusto dos Anjos, p. 128.

            Perdi-me dentro de mim
                        Mário de Sá-Carneiro, p. 133.

Certos autores, contudo, estão representados por versos menos óbvios:

            Ó cousas, todas vãs, todas mudáveis!
                        Sá de Miranda, p. 17.

            Tanto era bela no seu rosto a morte!
                        Basílio da Gama, p. 39.

            A tarde morria! Nas águas barrentas
            As sombras das margens deitavam-se longas
                        Castro Alves, p. 79.

            No ar sossegado um sino canta,
            Um sino canta no ar sombrio...
                        Olavo Bilac, p. 99.

            Sou filha da charneca erma e selvagem
                        Florbela Espanca, p. 141.

Um terceiro e mais numeroso grupo reúne autores e versos pouco familiares; entre estes, no entanto, o leitor também poderá encontrar muitas gemas preciosas. Como estas, talvez:

            Fermoso Tejo meu, quão diferente
            Te vejo e vi, me vês agora e viste
                        Francisco Rodrigues Lobo, p. 25.

            Se acaso aqui topares, caminhante,
            Meu frio corpo já cadáver feito
                        Tenreiro Aranha, p. 48.

            Não, não é louco. O espírito somente
            É que quebrou-lhe um elo da matéria
                        Junqueira Freire, p. 61.

            Os jardins, e, por entre as árvores, a gente,
            Da qual a brisa traz as vozes, confundidas
                        Alberto Torres, p. 98.

            A dor, deserto imenso,
            Branco deserto imenso,
            Resplandecente e imenso,
            Foi um deslumbramento
                        Camilo Pessanha, p. 110.

            Olhos, que eu adorei cheios de álacre e vário
            luzir, – hoje da cor do lírio roxo orlados
                        Amadeu Amaral, p. 122.

            Estrelas fulgem da noite em meio
            Lembrando círios louros a arder...
            E eu tenho a treva dentro do seio...
                        Auta de Souza, p. 123.

            Poeta fui e do áspero destino
            Senti bem cedo a mão pesada e dura
                        José Albano, p. 127.

            Os meus olhos brilharão como os da fera
            que defende a entrada de seu fojo
                        Ascânio Lopes, p. 146.

Como adquirir o livro

Por via postal (como impresso registrado, com seguro), o livro será comercializado em seis opções de pacotes, com 1, 2, 4, 10, 20 ou 40 exemplares. O preço unitário é inversamente proporcional ao tamanho do pacote, variando entre R$ 30 (pacotes com 40 exemplares) e R$ 40 (1 exemplar).

O leitor interessado em obter informações adicionais, pode entrar em contato comigo pelo endereço meiterer[arroba]hotmail.com (trocando [arroba] por @).

Referências citadas

Ponce de León, F. 2015. Poesia contra a guerra. Viçosa, Edição do Autor.
Vasconcelos, CM. 1910. As cem melhores poesias (líricas) da língua portuguesa. Lisboa, Ferreira.

17 dezembro 2015

A flor e a fonte

Vicente de Carvalho

“Deixa-me, fonte!” Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.

“Deixa-me, deixa-me, fonte!”
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...
“Não me leves para o mar”.

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

“Ai, balanços do meu galho,
“Balanços do berço meu;
“Ai, claras gotas de orvalho
“Caídas do azul do céu!...”

Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.

“Adeus, sombra das ramadas,
“Cantigas do rouxinol;
“Ai, festa das madrugadas,
“Doçuras do pôr do sol;

“Carícia das brisas leves
“Que abrem rasgões de luar...
“Fonte, fonte, não me leves,
“Não me leves para o mar!...

*

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...

Fonte (estrofes 4 e 5): Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema – então sob o título ‘Cair das folhas’ – publicado em livro em 1908.

15 dezembro 2015

Contando corpos de ossos pequenos

F. Ponce de León

Um dos fundadores da ‘American Writers Against the Vietnam War’, organização pacifista surgida em meados da década de 1960, o escritor estadunidense Robert Bly (nascido em 1926) é autor de dezenas de livros, sobretudo de poesia. Além de escritos próprios, traduziu obras de outros autores, incluindo poemas de Antonio Machado (1875-1939), Rainer Maria Rilke (1875-1926) e Pablo Neruda (1904-1973).

O universo literário de Bly, autor amplamente reconhecido e premiado em seu país (ver matéria ‘Robert Bly to receive Poetry Society of America’s Frost Medal’, de Alison Flood, publicada no The Guardian, em 13/2/2013), é, no entanto, relativamente estranho aos leitores brasileiros. Afinal, com exceção de João de Ferro: Um livro sobre homens (Campus, 1991), talvez o seu maior sucesso comercial, nenhuma outra obra sua parece ter sido publicada por aqui. (Na Wikipedia, por exemplo, não há sequer uma versão correspondente em português para o verbete ‘Robert Bly’ – ao menos não havia até esta segunda-feira, 14/12.)

Em 1967, Bly publicou The light around the body (Harper & Row), seu segundo livro de poesia, vencedor do ‘National Book Award’ daquele ano. Um dos poemas incluídos nesse livro é ‘Counting small-boned bodies’, cuja versão original é a seguinte:

Counting small-boned bodies

Robert Bly

Let’s count the bodies over again.

If we could only make the bodies smaller,
The size of skulls,
We could make a whole plain white with skulls in the moonlight!

If we could only make the bodies smaller,
Maybe we could get
A whole year’s kill in front of us on a desk!

If we could only make the bodies smaller,
We could fit
A body into a finger-ring, for a keepsake forever.

Versão em português

Ainda que o livro como um todo permaneça sem tradução, acabo de descobrir que o poema acima tem ao menos uma versão em português. Estou me referindo aqui à versão que apareceu no livro Solos do silêncio (Geração Editorial, 2002, 3ª edição; a 1ª edição é de 1996), do jornalista e poeta José Nêumanne Pinto (nascido em 1951).

Eis a tradução de José Nêumanne (2002, p. 267):

Contando corpos de ossos pequenos

Robert Bly

Vamos contar os corpos uma vez mais.

Só se pudéssemos tornar menores os corpos,
Do tamanho das caveiras,
Poderíamos fazer uma planície inteira com caveiras ao luar!

Só se pudéssemos tornar menores os corpos,
Talvez pudéssemos conseguir
O extermínio de um ano inteiro na mesa em frente a nós!

Só se pudéssemos tornar menores os corpos,
Poderíamos colocar
Um corpo numa aliança, uma lembrança para sempre.

Gostei muito do poema de Bly. Foi um achado e tanto – o verso repetido e as sucessivas ‘escalas de tamanho’ em relação às quais os corpos são comparados (no original, a whole plain, v. 4; a desk, v. 7; a finger-ring, v. 10) têm um efeito surpreendente.

Uma nova proposta de tradução

Ocorre que a tradução acima é um tanto problemática. (Desconheço se existem outras versões em português.) Certas escolhas do tradutor alteraram ou mesmo subverteram o significado original de alguns versos. Foi o que aconteceu, por exemplo, no verso 4. No original, a palavra white é usada para qualificar o aspecto geral da paisagem (a whole plain). Na versão em português, a qualificação desapareceu, reduzindo o impacto do verso e comprometendo a compreensão da obra.

Um segundo exemplo pode ser encontrado no verso que inicia os tercetos (linhas 2, 5 e 8). No original, o uso da expressão If we could only... evoca (cinicamente) uma necessidade um tanto difusa (Se ao menos...), não uma precondição imperativa (Só se...), como dá a entender a versão em português. Em ambos os casos, portanto, a tradução não corresponderia muito bem ao original.

Tentando contornar esses problemas, elaborei uma nova tradução. Eis a minha proposta:

Contando corpos de ossos pequenos

Robert Bly

Vamos contar os corpos mais uma vez.

Se pudéssemos ao menos tornar os corpos menores,
Do tamanho de crânios,
Poderíamos branquear uma planície inteira com crânios ao luar!

Se pudéssemos ao menos tornar os corpos menores,
Talvez pudéssemos colocar
A matança de um ano inteiro sobre uma escrivaninha diante de nós!

Se pudéssemos ao menos tornar os corpos menores,
Poderíamos encaixar
Um corpo em um anel, como uma eterna recordação.

O poema de Bly é – ouso dizer – um grande poema.

13 dezembro 2015

Encarei as estrelas macilentas

Afonso Celso

Encarei as estrelas macilentas
Que lívidas tremiam no espaço,
Como um bando de Impérias vinolentas
Saindo de uma orgia de devassos;

E disse: “Luminosos estilhaços
D’algum trono de fadas opulentas,
Vinde; eu quero ajuntar esses pedaços
Dispersos ao capricho das tormentas.

De vós que só restais do vasto espólio
D’algum deus que faliu farei um sólio
Que a moral de Jesus mais deslumbrante.

Onde as cortes do céu, entre mil bravos,
Rendam preitos, humildes como escravos,
Às graças infernais de minha amante”.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1879.

12 dezembro 2015

Nove anos e dois meses no ar

F. Ponce de León

Neste sábado, 12/12, o Poesia contra a guerra completou nove anos e dois meses no ar. Ao longo desse período, e até o fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue registrou 284.312 visitas.

Desde o balanço anterior – Nove anos e um mês no ar – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Artur Azevedo, Belmiro Braga, Clive Ponting, Francisco Nesi, Guimarães Passos, Heraldo Marelim Vianna, Luiz Inácio Lula da Silva e Samih Al-Qasim. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Gaston Bussière, Isaac Israëls e Rodolfo Amoedo.

10 dezembro 2015

Esfinge

Guimarães Passos

Pigmalião, o heroico estuário,
Galateia não fez com mais esmero,
Nem mesmo o próprio Donatello quero
Que o mármore encha de poder tão vário.

Divino artista em mundo imaginário
Achou n’um sonho o teu perfil austero,
E ao céu roubando ardente revérbero
Inflamou-te este corpo extraordinário.

Assombro eterno da beleza humana;
Suprema perfeição de que se ufana
A Arte, que a vida com tal arte finge!

Quantos dirão vendo-te o lábio mudo:
“Tivesses coração, terias tudo...”
Néscios! Não viram coração de esfinge.

Fonte (penúltimo verso): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª edição. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema – com a dedicatória ‘a Fausto de Barros’ – publicado em livro em 1891.

08 dezembro 2015

Passeio de burro na praia


Isaac Israëls (1865-1934). Ezeltje rijden langs het strand. ~1890-1901.

Fonte da foto: Wikipedia. Quadro do pai do pintor pode ser visto aqui.

06 dezembro 2015

Divisamos assim o adolescente

Mário Faustino

Divisamos assim o adolescente,
A rir, desnudo, em praias impolutas.
Amado por um fauno sem presente
E sem passado, eternas prostitutas
Velavam por seu sono. Assim, pendente
O rosto sobre o ombro, pelas grutas
Do tempo o contemplamos, refulgente
Segredo de uma concha sem volutas.
Infância e madureza o cortejavam,
Velhice vigilante o protegia.
E loucos e ladrões acalentavam
Seu sono suave, até que um deus fendia
O céu, buscando arrebata-lo, enquanto
Durasse ainda aquele breve encanto.

Fonte: Moriconi, I., org. 2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema publicado em livro em 1955.

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