31 março 2022

Átomo e atomismo

Luciana Zaterka

Embora os termos ‘átomo’ e ‘atomismo’ tenham sido preservados ao longo da história, por mais de 25 séculos, eles possuem acepções e conotações completamente distintas. E não poderia ser diferente! Afinal, a visão de natureza e a perspectiva de ciência dos atomistas antigos é completamente diferente da dos modernos. E mesmo entre esses notamos diferenças significativas. E isso para não falarmos das novidades científicas que ocorreram nos séculos XIX e XX. Quando os átomos finalmente ‘ganharem’ um status científico, eles perderão sua propriedade essencial que lhes deu o próprio nome, qual seja, a indivisibilidade. Experimentos, como os de J. J. Thompson (1856-1940) e E. Rutherford (1871-1937), revelaram que tais partículas são constituídas, na verdade, de uma estrutura complexa. Além disso, com a teoria quântica, os cientistas mostraram que os átomos possuem uma natureza dual: agem ora como matéria, ora como onda. Enfim, percebemos que uma mesma palavra, um mesmo vocábulo ganha, ao longo da história, significados completamente distintos. Este é o caso do que ocorreu com o termo atomismo.

Fonte: Silva, C. C., org. 2006. Estudos de história e filosofia das ciências. SP, Editora Livraria da Física.

29 março 2022

O anacoreta adormecido


Joseph-Marie Vien (1716-1809). Anachorète endormi. 1751.

Fonte da foto: Wikipedia.

27 março 2022

Realidade virtual

Paul Virilio

A gênese da realidade virtual ou daquilo que chamados de ‘ciberespaço’, é o simulador de voo. Muito rapidamente, com as possibilidades de digitalização da imagem, fomos levados a poupar a realidade, substituindo-a por uma simulação. Na base disso estava a força aérea norte-americana. Mas, antes do simulador de voo, já havia a necessidade de simular o espaço nos ateliês de arquitetura. Assim, na base da realidade virtual, encontra-se o Architecture Machine Group de Nicolas Negroponte, do MIT: os arquitetos que têm necessidade de maquetes, de uma prefiguração do espaço construído, têm utilizado a informática e o projeto assistido por computador para simular espaços. Portanto, desde o início, a realidade virtual é acionada para prefigurar, de um lado, um voo para o aviador e, de outro lado, um espaço para o arquiteto, para o construtor. Trata-se de utilizar as propriedades da informática para gerar por computador – por uma esfera, no caso do simulador de voo – um espaço que não existe, mas que poderia existir – virtual significa o que não está em ação, mas que pode estar, que tem a potência para estar. A simulação de voo foi desenvolvida por preocupações econômicas – para ser credenciado como piloto, é preciso voar um certo número de horas e, para economizar voo real, utilizou-se a realidade virtual. Dessa forma, pilotos têm conseguido se credenciar após haver realizado um certo número de voos reais e um certo número de voo virtuais utilizando simuladores. Trata-se de gerar um espaço no qual o piloto ou o arquiteto circula, isto é, em que a imagem se torna um ambiente no qual o indivíduo pode se mover, utilizar as propriedades da perspectiva etc. Se formos mais adiante, as recentes tecnologias dos ciberespaços que utilizam o videocapacete – mas que podem também utilizar um espaço especializado sem videocapacete – são tecnologias em que se podem deslocar objetos: não vemos simplesmente um espaço volumétrico virtual, podemos também agir sobre esse espaço deslocando objetos e, para ir ainda mais adiante, com a televirtualidade, podemos realizar o encontro de indivíduos em um cômodo virtual, onde venham se reunir, onde o espectro digitalizado do interlocutor venha a nosso encontro, estando nós também digitalizados para ele em sua cabine de chamada. É o equivalente de uma cabine telefônica onde, em lugar de escutar o som, vemos o espectro digitalizado de nosso interlocutor. Portanto, a realidade virtual encontra-se, assim, transferida para o domínio de uma ótica chamada eletro-ótica. Com efeito, existem dois tipos de ótica – uma ótica geométrica, a da transparência do vidro, do ar ou da água etc. e, doravante, uma eletro-ótica: o vídeo, a digitalização do sinal visual e sonoro. Portanto, essa realidade virtual procede dos desenvolvimentos bastante sofisticados da eletro-ótica, da possibilidade de ver não mais apenas à distância no espaço real – como meus óculos ou o telescópio, que me permitem ver mais longe –, mas também por um procedimento que capta não raios de luz, mas ondas: o sinal transmitido instantaneamente – ou quase – tem as mesmas propriedades óticas dos óculos que permitem ver mais claro ou do telescópio de Galileu, que permitiu ver mais longe.

Fonte: Virilio, P. 1996 [1995]. In: Noël, E., org. As ciências da forma hoje. Campinas, Papirus.

25 março 2022

As taxas de crescimento estão a cair, mas a suspensão das medidas de proteção pode ser um tiro no pé

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 14 e 20/3, os valores ficaram em 0,1238% (casos) e 0,0463% (mortes). Ambos caíram em relação à semana anterior. É uma boa notícia, sem dúvida. A questão que se impõe é: Trata-se de (mais uma) queda episódica e passageira ou estaríamos de fato a descer a ladeira da crise? A resposta não é óbvia nem fácil. Afinal, a suspensão precipitada das medidas de proteção pode alterar tudo de novo. Isso porque, mesmo que a campanha de vacinação siga inalterada, a suspensão só favorece a circulação, a proliferação e a evolução do vírus.

*

1. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.

Ontem (20/3), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 13.218 casos e 103 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 29.630.484 casos e 657.205 mortes.

Na semana encerrada ontem (14-20/3), foram registrados 261.708 novos casos – uma queda de 18% em relação à semana anterior (6-13/3: 319.763). É a menor soma semanal desde a primeira semana de janeiro (3-9/1).

Entre 14 e 20/3, infelizmente, foram registradas 2.127 mortes – uma queda de 28% em relação ao que foi anotado na semana anterior (6-13/3: 2.935). É a menor soma semanal desde a terceira semana de janeiro (17-23/1).

2. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima ajudam a descrever a situação. Todavia, para monitorar o ritmo e o rumo da pandemia [1], sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Ambas tornaram a cair (ver a figura que acompanha este artigo).

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,1565% (7-13/3) para 0,1238% (14-20/3) – é o menor valor desde a última semana de dezembro (27/12-2/1) [2, 3].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,0642% (7-13/3) para 0,0463% (14-20/3) – é o menor valor desde a segunda semana de janeiro (10-16/1).

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FIGURA. Comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 12/9/2021 e 20/3/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Note que alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso.

*

3. CODA.

As médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) tornaram a cair (ver a figura que acompanha este artigo).

É uma boa notícia, sem dúvida [4]. A questão que se impõe é: Trata-se de (mais uma) queda episódica e passageira ou estaríamos de fato a descer a ladeira da crise?

A resposta não é óbvia nem fácil. Afinal, a suspensão precipitada das medidas de proteção pode alterar tudo de novo. Isso porque, mesmo que a campanha de vacinação siga inalterada, a suspensão só favorece a circulação, a proliferação e a evolução do vírus.

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[2] Entre 27/12/2021 e 20/3/2022 (para as semanas anteriores, ver aqui), as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1), 0,7576% (24-30/1), 0,6544% (31/1-6/2), 0,5022% (7-13/2), 0,3744% (14-20/2), 0,2812% (21-27/2), 0,1389% (28/2-6/3), 0,1565% (7-13/3) e 0,1238% (14-20/3); e (2) mortes: 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1), 0,0859% (24-30/1), 0,1212% (31/1-6/2), 0,1388% (7-13/2), 0,1320% (14-20/2), 0,1071% (21-27/2), 0,0661% (28/2-6/3), 0,0642% (7-13/3) e 0,0463% (14-20/3).

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver referências citadas na nota 1.

[4] Cabe ressaltar que o ritmo da vacinação caiu muito ao longo dos últimos meses. Levamos 34 dias (24/8-27/9) para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 21/3, este percentual está ainda em 84%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

* * *

23 março 2022

A luta pela existência

G. F. Gause

Vimos a seleção natural colocada em seu Sterbebett, e, subsequentemente, revivida novamente em tempo recente com extraordinário grau de vigor. Não pode haver dúvida de que a velha ideia tem grande valor de sobrevivência.

Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Excerto de livro originalmente publicado em 1934.

20 março 2022

Conferência de Estocolmo

Wanderbilt Duarte de Barros

Nós participamos da elaboração do relatório que o Brasil apresentou na Conferência. Na delegação oficial estava o José Cândido de Melo Carvalho, que foi um grande conservacionista brasileiro, e na representação não governamental, o Alceo Magnanini. O Brasil teve uma presença muito negativa em Estocolmo: o governo dizia que a necessidade era tão grande que [proteger] o ambiente era prejudicar o Brasil que poluir era necessário para desenvolver o país.

Fonte: Magnanini, A. In: Urban, T. 1998. Saudade do matão. Curitiba, Editora UFPR, FBPN & Fundação MacArthur.

18 março 2022

O estreito de Bósforo


Louis-François Cassas (1756-1827). Vue du Bosphore à Constantinople, un palais au premier plan. s/d.

Fonte da foto: Wikipedia.

16 março 2022

Uma criatura

Machado de Assis

Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira do abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.

Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.

Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.

Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.

Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.

Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto,
E é nesse destruir que as suas forças dobra.

Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.

Fonte (versos 1-9): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª ed. BH, Editora Bernardo Álvares. Publicado m livro em 1880.

13 março 2022

A metrópole moderna

Hans Blumenfeld

O aparecimento de uma forma fundamentalmente nova de estabelecimento humano é um fato extremamente raro na história da humanidade. Em pelo menos 5.000 anos, todas as civilizações têm sido caracterizadas predominantemente por dois tipos bem marcados de estabelecimentos: a vila rural e a cidade. Até bem recentemente a grande maioria da população viveu em vilas. Elas não apenas produziam sua própria matéria-prima – alimento, combustível e tecidos – como também manufaturavam e forneciam os serviços necessários. As cidades eram habitadas por apenas uma pequena minoria da população, geralmente menos de 20%. Essa minoria era a elite dirigente – os líderes religiosos, políticos, militares e comerciais – e o setor de trabalhadores, artesãos e profissionais que a servia. Do trabalho dos camponeses, a elite obtinha sua subsistência e poder, obrigando-os a pagar impostos. Esse sistema prevaleceu até o fim do século XVIII, e sua filosofia foi bem expressa pelos fisiocratas dessa época, entre os quais se encontrava Thomas Jefferson.

A revolução industrial modificou drasticamente a distribuição da população entre vilas e cidades. Justus Moeser, da Alemanha, contemporâneo de Jefferson, previu desde o início da revolução o que estava por vir; ele observou que “a distribuição especializada do trabalho força os trabalhadores a viver em grandes cidades”. Com o aumento da especialização teria de ocorrer um estreitamente da cooperação entre as especialidades, tanto dentro das oficinas e fábricas como entre elas. A divisão do trabalho e o aumento da produtividade tornaram possível a concentração humana em cidades, e a cooperação do trabalho tornou-se necessária, uma vez que o novo sistema exigia a proximidade de trabalhadores de diversas especialidades e de diversos estabelecimentos, forçados a intercambiar bens e serviços.

Fonte: Blumenfeld, H. 1977 [1967]. In: Vários. Cidades: A urbanização da humanidade. RJ, Zahar.

12 março 2022

185 meses no ar

F. Ponce de León

Neste sábado, 12/3, o Poesia Contra a Guerra completa 15 anos e cinco meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘15 anos e quatro meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Cezio Pereira, Fernando V. Agarez, Hans Aebli, Kamau Brathwaite, Joe Kamiya, Paulo Benzzoni e Peter Calow. Além de outros nomes que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Achille-Etna Michallon, Hubert Robert e Pierre-Henri de Valenciennes.

10 março 2022

Sistemas vivos

Peter Calow

Sistemas vivos são em geral separados de sistemas não vivos pelo modo como evitam as consequências da segunda lei da termodinâmica. A base para a persistência deles, a despeito das forças entrópicas do mundo, é a separação de um programa de instruções (genoma), termodinamicamente estável e protegido, em relação a uma parte funcional, metaestável e ativa (o fenótipo). Componentes fenotípicos danificados podem assim ser substituídos de acordo com as instruções genéticas e, quando isso falha, o sistema orgânico como um todo pode ser reproduzido a partir de cópias replicadas do genoma. O sucesso de tal processo depende da propriedade-chave da reciprocidade, a qual se manifesta pelo fluxo unidirecional de informações desde o genoma até o fenótipo e pelo controle da expressão do genoma em cada célula por meio de um sistema de conversão, não por meio da entrada de informação nova e detalhada.

Fonte (tradução livre): Calow, P. 1978. Life cycles. Londres, Chapman.

08 março 2022

O atelier do pintor


Hubert Robert (1733-1808). L’atelier du peintre. 1760.

Fonte da foto: Wikipedia.

07 março 2022

Em trajetórias declinantes, as taxas de crescimento estão agora em 0,1389% (casos) e 0,0661% (mortes)

Felipe A. P. L. Costa [*].

RESUMO. – Este artigo atualiza os valores das taxas de crescimento (casos e mortes) publicados em artigo anterior (aqui). Entre 28/2 e 6/3, os valores ficaram em 0,1389% (casos) e 0,0661% (mortes). A taxa de casos caiu pela quinta semana consecutiva e a de mortes, pela terceira.

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1. O RITMO DA PANDEMIA NO PAÍS.

No domingo (6/3), de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, foram registrados em todo o país mais 15.961 casos e 216 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 29.049.013 casos e 652.143 mortes.

Na semana encerrada no domingo (28/2-6/3), foram registrados 280.909 novos casos – uma queda de 50% em relação à semana anterior (21-27/2: 559.892).

Entre 28/2 e 6/3, infelizmente, foram registradas 3.009 mortes – uma queda de 38% em relação ao que foi anotado na semana anterior (21-27/2: 4.848). É a terceira queda consecutiva.

2. TAXAS DE CRESCIMENTO.

Os percentuais e os números absolutos referidos acima ajudam a descrever a situação. Todavia, para monitorar o ritmo e o rumo da pandemia [1], sigo a usar as taxas de crescimento no número de casos e de mortes. Ambas agora estão a declinar (ver a figura que acompanha este artigo).

Vejamos os resultados mais recentes.

A taxa de crescimento no número de casos caiu de 0,2812% (21-27/2) para 0,1389% (28/2-6/3) – é a sexta queda consecutiva [2, 3].

A taxa de crescimento no número de mortes, por sua vez, caiu de 0,1071% (21-27/2) para 0,0661% (28/3-6/3) – é a terceira queda consecutiva.

*


FIGURA. O comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 6/6/2021 e 6/3/2022. (Para resultados anteriores, ver aqui.) Alguns pares de pontos são coincidentes ou quase isso. A elipse e a seta associada (em azul escuro) chamam a atenção para a queda na taxa de mortes observada nas últimas quatro semanas.

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3. CODA.

As médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) seguem em trajetórias declinantes. A taxa de casos caiu pela quinta semana consecutiva e a de mortes, pela terceira (ver a figura que acompanha este artigo).

São notícias auspiciosas.

Todavia, a questão com a qual a sociedade brasileira precisa lidar continua de pé, a saber: como assegurar que as taxas permaneçam em trajetórias declinantes? Ouso dizer que a resposta é relativamente simples e óbvia. E não custa repetir aqui o que já tive chance de escrever antes [4]: (1) ampliar a cobertura vacinal; e (2) manter de pé as medidas preventivas, notadamente o uso de máscara em espaços públicos e a cobrança do passaporte vacinal.

*

NOTAS.

[*] Há uma campanha de comercialização em curso envolvendo os livros do autor – ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes. Para mais informações ou para adquirir (por via postal) os quatro volumes (ou algum volume específico), faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento. Para detalhes e discussões a respeito do comportamento da pandemia desde março de 2020, tanto em escala mundial como nacional, ver qualquer um dos três primeiros volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado, vols. 1-5 (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

[2] Entre 21/12/2021 e 6/3/2022 (para as semanas anteriores, ver aqui), as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,0345% (27/12-2/1), 0,1472% (3-9/1), 0,2997% (10-16/1), 0,6359% (17-23/1), 0,7576% (24-30/1), 0,6544% (31/1-6/2), 0,5022% (7-13/2), 0,3744% (14-20/2), 0,2812% (21-27/2) e 0,1389% (28/2-6/3); e (2) mortes: 0,0151% (27/12-2/1), 0,0196% (3-9/1), 0,0245% (10-16/1), 0,0471% (17-23/1), 0,0859% (24-30/1), 0,1212% (31/1-6/2), 0,1388% (7-13/2), 0,1320% (14-20/2), 0,1071% (21-27/2) e 0,0661% (28/2-6/3).

[3] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver referências citadas na nota 1.

[4] Cabe ressaltar que o ritmo da vacinação caiu muito ao longo dos últimos meses. Levamos 34 dias (24/8-27/9) para ir de 60% a 70% da população com ao menos uma dose da vacina. (Hoje, 7/3, este percentual ainda está em 83%.) Antes disso, porém, levamos 25 dias (9/7-3/8) para ir de 40% a 50% e apenas 21 dias (3-24/8) para ir de 50% a 60%. Sobre os percentuais, ver ‘Coronavirus (COVID-19) Vaccinations’ (Our World in Data, Oxford, Inglaterra).

Como escrevi em ocasiões anteriores, uma saída rápida para a crise (minimizando o número de novos casos e, sobretudo, o de mortes) dependeria de dois fatores: (i) a adoção de medidas efetivas de proteção e confinamento; e (ii) uma massiva e acelerada campanha de vacinação.

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05 março 2022

Faltasse-me a infância e quase tudo me faltava

José Jorge Letria

Faltasse-me a infância e quase tudo me faltava
até o pequeno sol pintado a lápis de cera
sobre o papel pardo das contas do mês.
Assento o cotovelo sobre o parapeito da janela
e os rostos que vejo desfilar têm a idade
das minhas lembranças mais longínquas, alguns
envelheceram como as árvores e as colchas
das camas onde tanto amor foi adiado, outros
conservaram a frescura efémera de uma pétala
atrás de um vidro dentro da memória. São rostos
dilacerados pelo sonho e pela espera. Tornaram-se
perversos a ver o tempo passar por eles
sem deles se compadecer, como os pássaros
que levam na bagagem imaterial do voo
a sede de agosto para a outra metade do mundo.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1991.

02 março 2022

Ritmo alfa

Joe Kamiya

Todos os seres humanos – da infância até a velhice, a qualquer hora do dia, acordados ou dormindo – revelam atividade elétrica cerebral. Há um ritmo específico, visto em todos os adultos e jovens (desde a adolescência), que é chamado de ritmo alfa, notado especialmente na parte posterior da cabeça, cobrindo o córtex cerebral. Esse ritmo se caracteriza por uma frequência especial, em torno de oito a doze ciclos por segundo e tem a característica adicional de aumentar e diminuir, o tempo todo. Ele mostra-se particularmente forte quando a pessoa fecha os olhos e entra num estado mental mais relaxado. Desde que se mantenham acordadas e estejam num quarto escuro, com os olhos fechados, muitas pessoas apresentarão esse ritmo. Nem todos têm ritmo alfa, mas a maioria revela ter. O ponto que estou abordando agora é que esse ritmo pode aumentar e diminuir durante um período de tempo. E a questão que nos colocou em dúvida foi realmente a seguinte: se os indivíduos poderiam ser treinados para discernir entre características de consciência associadas a estes aumentos e diminuições.

Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.

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