30 setembro 2018

O hipotálamo

Richard N. Hardy

Hipotálamo é o nome dado à parte do cérebro abaixo do tálamo, que forma o assoalho e parte das paredes laterais inferiores do terceiro ventrículo [...]. A despeito de seu tamanho reduzido, é muito importante na regulação interna de funções corporais. Sua influencia sobre a glândula pituitária anterior e posterior significa que governa grande parte da atividade endócrina do corpo, alem de controlar também muitos aspectos da função nervosa [autônoma]. Tem ainda um papel importante na regulação da ingestão de alimento e água, comportamento sexual, sono e respostas emocionais, como medo e cólera. E, ainda, contém as estruturas que, em ultima analise, regulam a temperatura corporal.

Fonte: Hardy, R. N. 1981. Temperatura e vida animal. SP, EPU & Edusp.

28 setembro 2018

Manhã de inverno


James [McLauchlan] Nairn (1859-1904). Winter morning. ~1900.

Fonte da foto: Wikipedia.

26 setembro 2018

A antiguidade das interações

Stefan Cunha Ujvari

O termo ‘globalização dos microrganismos’ ganhou importância nos últimos anos. A população se deu conta de que, com a aviação, um doente pode dar a volta ao redor do mundo em período curto de tempo. Com isso, as epidemias se disseminariam pelo planeta com maior facilidade. A pneumonia asiática de 2003 partiu do Sudeste Asiático e alcançou a Europa e a América. O mundo prendeu a respiração diante do receio de uma epidemia globalizada. As manchetes dos jornais da imprensa escrita e falada não pouparam espaços para tal epidemia. Hoje, as notícias enfocam a ‘gripe aviária’. Esperamos uma nova pandemia mundial de gripe a qualquer momento. Teríamos então uma epidemia mundial semelhante à ‘gripe espanhola’ de 1918. Atualmente, a velocidade de disseminação global de uma epidemia seria surpreendente. Porém, podemos contar outra história de globalização das epidemias que vem ocorrendo há muito mais tempo e de maneira despercebida. Iniciou-se desde o nosso nascimento na África e perdura até os dias atuais. Sua velocidade lenta e progressiva depende da locomoção humana. No início caminhava a passos lentos, mas, nas últimas décadas, ganhou velocidade.

Os primeiros hominíneos ancestrais do homem moderno surgiram em algum momento há sete milhões de anos. A ciência aponta a África como local de origem desses primeiros bípedes. Separaram-se do animal ancestral que originaria a linhagem dos chimpanzés. O estudo do material genético dos micro-organismos mostra que os primeiros hominíneos não estavam sós. Vírus ancestrais do herpes labial e genital humano os acompanhavam e saltaram para as próximas espécies que surgiriam enquanto as anteriores se extinguiam. Os vírus seguiam firmes nas novas espécies emergentes. Saltaram e evoluíram nos Australophitecus, nos Homo erectusH. ergasterH. habilis e assim por diante, até chegarem ao homem moderno africano. A posição ereta e bípede, característica dos hominíneos, fez o herpes vírus presente nos genitais se isolar geograficamente dos labiais. As posteriores mutações diferenciaram geneticamente os herpes labiais e genitais encontrados hoje em dia. Cálculos realizados nas diferenças genéticas desses dois tipos de vírus herpes chegaram a uma forma inicial de vírus há oito milhões de anos, muito próxima do surgimento dos primeiros bípedes que a transportavam.

Aquele animal ancestral comum aos chimpanzés e humanos apresentava vírus herpes que também foi transferido para a linhagem originária dos chimpanzés. Hoje, esses primatas também apresentam seus herpes em lábios e genitais geneticamente semelhantes aos nossos.

Provavelmente, o papilomavírus humano (HPV) seguiu o mesmo caminho. Encontramos vírus semelhantes ao HPV em primatas, o que sugere a existência de vírus no animal ancestral comum aos homens e chimpanzés.

Os ancestrais humanos africanos adquiriram parasitos dos animais herbívoros, que começaram a caçar nas savanas africanas. Adquirimos formas iniciais de tênias. A genética mostra semelhança entre nossas tênias e as presentes em felinos, canídeos e hienas africanos. Nesse caso, não adquirimos as tênias na domesticação do porco ou gado. Já havíamos nos infectado em solo africano e as passamos aos porcos e gados posteriormente, quando os domesticamos.

Formas de bactérias causadoras de tuberculose, descobertas em Djibouti, revelam sua antiguidade genética e, provavelmente, foram precursoras da atual Mycobacterium tuberculosis. Nesse caso, a tuberculose já acometia ancestrais humanos bem antes do nosso surgimento. Acometia o Homo erectus. Acreditávamos que a M. bovis presente no gado transferiu-se aos humanos com a domesticação desses animais. Porém, essa teoria caiu por terra com a descoberta das bactérias de Djibouti, e com trabalhos que comparam a sequência genética das micobactérias e colocam a M. bovis como umas das últimas a evoluir.

Parasitos intestinais circulavam nos primeiros Homo sapiens que surgiram e eram adquiridos pela água e por alimentos contaminados.

Nascemos portando agentes infecciosos e adquirimos novos agentes ainda em solo africano. Estávamos prontos para iniciar a globalização dos microrganismos no momento de nossa partida da África para conquistar o planeta.

Fonte: Ujvari, S. C. 2008. A história da disseminação dos microrganismos. Estudos Avançados 22: 171-82.

24 setembro 2018

O poço


Amigos, silêncio.
Estou vendo o poço.

No fundo profundo eu me vejo
presente. Não é
a cacimba de estrelas. Amigos, é o poço.

Apenas o poço. A vela na lama
como um dedo de fogo.
Ânsia de afogado,
suspiros em bolhas.
O susto no sono.
A sombra descendo sobre os aposentos,
o suor nos espelhos. A sombra
abafando a criança, a sombra fugindo.
A mão pesada sobre a boca torta,
o grito parado no rosto.
O copo d’água em goles trêmulos...

Amigos, silêncio.
Eu vejo o poço.

O vento da hora morta. Os avós sorrindo,
tão meigos sorrindo. E a morte tão viva!
(Minha mãe não esperou a guerra,
não sabe notícias do mundo.
Não pergunta, não responde).

A tosse acordando os irmãos,
e eu, pela madrugada, carregado nos ombros de meu pai.

Fonte: Rivera, B. 2003. Melhores poemas de Bueno de Rivera. SP, Global. Poema publicado em livro em 1944.

22 setembro 2018

Só, com minha chama no coração

Aco Šopov

Só, permaneço, escravo do cercado verde do jardim.
Não vem ninguém: nem amigo, nem desconhecido, nem parente.
Tudo está calmo. Só o silêncio, vela, apanha e petrifica.
O ruído agitado das folhas.

A noite se abre amistosamente, como a flor ao dia.

Surge, na roseira vermelha, um broto invisível,
Desdobram-se as folhas, aparece o incêndio.
O broto cresce, estende-se, e todo o jardim está em chamas.
Mas, no momento seguinte, a roseira vermelha desaparece
E o incêndio se apaga.

Enquanto a chama vermelha procura o abrigo no meu coração
E uma árvore enorme, chamejante, aí se forma.

Só, permaneço, escravo do cercado verde do jardim.
Não vem ninguém: nem amigo, nem desconhecido, nem parente.
Só, permaneço, com minha chama no coração.
Ela me aquece mais do que as palavras dos poetas,
Perdidos no universo e no azul do céu
Procurando o mundo da beleza desconhecida e jamais superada.

A roseira vermelha, como sangue, se estende, escoando-se,
Mas esta chama no meu coração aqui permanece para sempre.

Fonte: Freire, C. 2004. Babel de poemas: uma antologia multilíngüe. Porto Alegre, L&PM.

19 setembro 2018

Flor ou inflorescência?

Marinês Eiterer

Há, na margarida, inúmeras flores muito pequenas, que crescem bem próximas, uma ao lado da outra, sobre uma mesma estrutura. Esse conjunto de flores é chamado, entre os pesquisadores, de inflorescência. Para o tipo de inflorescência particular das margaridas – pequeninas flores, que funcionam perfeitamente crescendo juntas, parecendo uma única flor –, os botânicos dão um nome especial: pseudanto (pseudo = falso; anthos = flor), ou seja, falsa flor.

Fonte: Eiterer, M. 2007. Você sabia que a margarida não é uma só flor? Ciência Hoje das Crianças 178: 17.

17 setembro 2018

Visão de são Jerônimo


Parmigianino [Girolamo Francesco Maria Mazzola] (1503-1540). Visione de san Girolamo. 1526-7.

Fonte da foto: Wikipedia.

15 setembro 2018

O que virá em seguida?

Robin M. Henig

O debate sobre o ‘gene exterminador’ é o mais recente de uma longa série de discussões a respeito dos rumos que a genética moderna está tomando. Questões sociais vêm assombrando está disciplina há muitos anos, com Cassandras invocando cenários de terror a cada nova descoberta. Hoje parece que algumas das previsões mais sombrias estão se concretizando. Basta olhar as manchetes. Homens mortos há muito tempo se tornam pais graças a espermatozoides congelados. Animais domésticos são transformados geneticamente para servir como fábricas de produtos farmacêuticos e em seguida clonados para produzir mais animais do mesmo tipo. Criancinhas são infectadas com vírus modificados, capazes de substituir genes defeituosos por outros sadios. A gigantesca enciclopédia que constitui o genoma humano é lida, um pedacinho de DNA após outro, em perfeita sequência, nos informando, com assustadora precisão, o que é ser normal.

Estes foram os resultados a que levaram as pesquisas dos pioneiros da genética, gente como Mendel e Nägeli, Correns e De Vries, Bateson e Weldon; não podemos deixar de nos perguntar o que virá em seguida.

Fonte: Henig, R. M. 2001. O monge no jardim. RJ, Rocco.

13 setembro 2018

Sonhei: de novo suspirava o vento

Gonçalves Crespo

Sonhei: de novo suspirava o vento
   Das tílias sob a cúpula odorante;
   E como outrora ouvia o juramento
      Do teu amor constante.

Que protestos de amor nesse momento!
   Mas na febre dos beijos que me deste,
   Como para gravar teu juramento
      Em meus dedos mordeste!

Dona do riso alegre, ó meu tormento!
   Dona de olhos azuis, ó minha amada!
   Já me bastava o doce juramento,
      Foi demais a dentada!

Fonte (versos 1 e 2): Ferreira, A. B. H. 2009. Novo dicionário da língua portuguesa, 4ª ed. Curitiba, Positivo. Poema publicado em livro em 1882.

12 setembro 2018

Onze anos e onze meses no ar

F. Ponce de León

Nesta quarta-feira, 12/9, o Poesia contra a guerra completa 11 anos e 11 meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘Onze anos e dez meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Jennifer C. McElwain, José Geraldo, Katherine J. Willis, Kenitiro Suguio, Lewis Wolpert, Manfred Eigen, Otto Jahn, Pai Gomes Charinho e Uko Suzuki. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Anna Elizabeth Klumpke, Cornelis van Dalem e Rosa Bonheur.

10 setembro 2018

As vacas tresmalhadas

Alexandre O’Neill

As vacas tresmalhadas pelo asfalto
da cidade, fazem fugir quem passa.
Amarelo... Vermelho! Uma atravessa.
É apanhada, seco, dá um salto,

desentranha um mugido e, abatida,
põe nos olhos mansíssimos a vida.
Que pascigo escolheste, amável bicho?
Se não fora o olhar, já eras lixo.

Vaca malhada tresmalhada, vaca
de leite em sangue, atormentado nó
pulsando no asfalto, agora saca
dos misérrimos bofes o seu muuuu

derradeiro. Já sem dor ou protesto,
é da cidade a vaca mais um resto.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1969.

08 setembro 2018

O triunfo do embrião

Lewis Wolpert

Como algo tão pequeno [...] quanto um ovo pode originar um complexo ser humano? Qual é a maquinaria capaz de transformar aquela pequena célula no conjunto de tecidos do corpo? [...]

As células são as unidades básicas do embrião em desenvolvimento. O ovo se divide e se multiplica, originando diferentes tipos de células. [...] Nossos corpos possuem cerca de 250 tipos de células diferentes. Mas o desenvolvimento é mais do que a geração de novas formas de células. [...] Por exemplo, [as células] formam estruturas como braços e pernas, cada uma das quais possui células muito parecidas. Isso requer a formação de um padrão corporal que dá à célula uma identidade posicional, para que ela possa se desenvolver do modo adequado. A formação do padrão corporal se relaciona à organização espacial – colocar músculo e osso no lugar certo, para que braços difiram de pernas [...].

É a diferença na formação do padrão corporal, e consequentemente na organização espacial, que nos distingue de outros vertebrados. Pode haver pequenas diferenças entre as nossas células de cérebro ou músculo e as deles, mas o modo como estão espacialmente organizadas é que importa. Não há, em nossos cérebros, nenhum tipo de célula que os chipanzés não possuam.

Ao longo do desenvolvimento, as células se multiplicam, mudam suas características, exercem forças, enviam e recebem sinais. Todas essas atividades estão sob controle da informação contida nos genes, presentes no DNA dos cromossomos. [...] Mas como o DNA contém instruções para fazer todas as proteínas, e cada proteína é codificada por um gene, a presença ou ausência de uma proteína numa célula dependerá de seu gene estar ligado ou desligado. Portanto, ligar e desligar genes é a característica fundamental do desenvolvimento, pois assim se controla quais proteínas são feitas e o comportamento celular resultante. Todas as células possuem a mesma informação genética recebida do ovo; portanto, as diferenças entre elas resultam de diferentes genes serem ligados e desligados.

Fonte: Wolpert, L. 1997. In: Brockman, J & Matson, K., orgs. As coisas são assim. SP, Companhia das Letras.

06 setembro 2018

Autorretrato

José Geraldo

Nasci em Niterói, em maio. O dia
Era dezoito. Vinte e quatro o ano.
Não me queixo da vida e não me engano,
Dizendo não ser isso uma utopia.

Afirmo até que a cada desengano
– E é certo que um ou outro me aparece –
Opõe-se de venturas farta messe
E vou assim vivendo em alto plano.

A incerteza, na vida, me parece
Uma constante e, em meus anseios planos,
Busco o rumo que eleva e que enobrece.

Cultivo a madrugada e a Poesia.
Eu sou taurino – adorador de Vênus –
E Aldebarã é minha Estrela-guia.

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1996.

05 setembro 2018

Paisagem com pastores


Cornelis van Dalem (c. 1530-c. 1573). Landschap met herdersCirca 1560.

Fonte da foto: Museo del Prado.

03 setembro 2018

Museus de história natural


Ao contrário do que possa parecer, nosso escasso conhecimento a respeito da biodiversidade do país não é tanto uma consequência da falta de amostras trazidas do campo – há museus brasileiros de história natural que estão literalmente abarrotados de material. Além de espaço e segurança para as coleções, faltam, isto sim, profissionais especializados em lidar com elas, a começar pelos taxonomistas e por técnicos (taxidermistas, herbaristas etc.) que cuidam desse tipo de acervo. Quer dizer, precisamos mais de gente para ‘tirar o pó’ de nossos museus do que de ‘caçadores’ a sair por aí, coletando tudo e todos em nome de uma suposta ‘prospecção da biodiversidade’ [1].

Isso não significa que coletas não sejam mais necessárias; significa apenas que precisamos cuidar melhor do material que já foi coletado. Há casos de coleções valiosíssimas, algumas com mais de 100 anos de idade, que jamais foram estudadas, simplesmente porque nunca apareceu (i.e., nunca formamos) um especialista para se debruçar sobre elas [2]. Quem visita e se encanta com as salas de exposição do maior museu brasileiro de história natural, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ), não imagina os apertos e as dificuldades que caracterizam a sua história – desde problemas na fiação elétrica e paredes com infiltração até o corte drástico na assinatura de periódicos científicos [3]. Ao que parece, foi por essas e outras que certos museus começaram a adotar procedimentos bizarros, como, por exemplo, estocar peles de aves em tonéis com conservantes líquidos, em vez de guardá-las secas e devidamente taxidermizadas (empalhadas) dentro de armários apropriados.

Tal situação, no entanto, pode ser equacionada e resolvida. Formar taxonomistas talvez seja uma das opções mais baratas dentro do quadro geral de formação de recursos humanos em ciência, embora também esteja entre as mais desprezadas. Quer dizer, não é impossível mudar toda essa situação, mas para isso não basta fazer poses diante dos holofotes da imprensa: será necessário encarar um pouco mais o trabalho duro e anônimo com a enxada.

Notas

[1] ‘Prospecção da biodiversidade’ é um daqueles chavões que povoam o imaginário dos burocratas. Mas não só deles: já li declarações de cientistas brasileiros dizendo coisas insensatas a esse respeito, do tipo “Precisamos concluir logo o inventário de nossa biodiversidade, para então descobrirmos aplicações”. A menos que se esteja pensando na biodiversidade contida em uma salada de agrião, o ‘logo’ mais ousadamente breve que conheço não deve demorar menos do que 25 anos – ver as pretensões da All Species Foundation. Para um bom exemplo do que seja de fato ‘prospecção da biodiversidade’, ver Ribeiro et al. (1999).

[2] Quando for a um museu de história natural, faça um teste: procure saber se a instituição abriga coleções científicas (cujo acesso em geral é vetado ao público); em caso afirmativo, pergunte aos curadores das coleções existentes (plantas, insetos, vertebrados etc.) qual o percentual de cada uma delas que está devidamente identificado.

[3] Cortar ou suspender a assinatura de periódicos científicos é um claro sinal do grau de miopia de nossa burocracia científica. Não me surpreenderia, porém, se tal medida estivesse sendo classificada em algum relatório como mais um exemplo de ‘alocação ótima para a formação de recursos humanos’.

Referência citada

Ribeiro, J. E. L. S. & mais 13 coautores. 1999. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. Manaus, INPA.

*

Fonte: artigo integra a 1ª edição (2003) do livro Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2014, 2ª edição).

01 setembro 2018

Si medito en tu eterna grandeza


Si medito en tu eterna grandeza,
   Buen Dios, á quien nunca veo,
Y levanto asombrada los ojos,
   Hacia el alto firmamento,
Que llenaste de mundos y mundos...
   Toda conturbada, pienso
Que soy menos que un átomo leve
   Perdido en el universo;
Nada, en fin..., y que al cabo en la nada
   Han de perderse mis restos.

   Mas si cuando el dolor y la duda
Me atormentan corro al templo,
Y á los pies de la Cruz un refugio
Busco ansiosa implorando remedio,
De Jesús el cruento martirio
   Tanto conmueve mi pecho,
   Y adivino tan dulces promesas
   En sus dolores acerbos,
   Que cual niño que reposa
   En el regazo materno,
   Después de llorar, tranquila
   Tras la expiación, espero
   Que allá donde Dios habita
   He de proseguir viviendo.

Fonte (versos 7-10): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 3. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro em 1884.

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