28 setembro 2019

Evolução em carne e osso


Diferentemente do que se passa em outras áreas da ciência, experimentos conduzidos tão somente em laboratório não esgotam a investigação da dinâmica evolutiva. Veja o que ocorre em áreas como paleontologiaecologia e genética de populações, três dos pilares da biologia evolutiva, onde o trabalho de campo é insubstituível – afinal, é lá que a evolução ocorre.

Datam ainda do século 19 as primeiras iniciativas visando investigar a seleção em carne e osso. Muitos estudos de campo, no entanto, tiveram início em décadas recentes. No que segue, veremos dois exemplos [1].

A tempestade e os pardais

Um esforço pioneiro visando flagrar e medir a seleção natural em ação foi o caso de um incidente envolvendo pardais (Passer domesticus).

Em 1/2/1898, após uma forte tempestade de neve, chuva e granizo, o biólogo estadunidense Hermon Carey Bumpus (1862-1943) encontrou muitos pardais caídos no chão. Ele recolheu o que pôde, levando as aves para o seu laboratório, na Universidade Brown, em Providence (Rhode Island, EUA).

Das 136 aves recolhidas (49 fêmeas adultas e 87 machos, dos quais 59 eram adultos e 28, jovens), 64 morreram (28 fêmeas e 36 machos, sendo 24 adultos e 12 jovens) e 72 se recuperaram. Ele se viu então diante de dois grupos, os sobreviventes e os mortos.

Supondo que poderia extrair do episódio alguma lição valiosa, Bumpus fez o que Galton fazia: efetuou medições. Mediu cuidadosamente nove itens de cada uma das 136 aves – peso, comprimento total, extensão da asa, comprimento do bico, da cabeça, do fêmur, da tíbia, da quilha e largura do crânio.

Comparou as médias dos dois grupos, concluindo que os sobreviventes tendiam a ser ligeiramente menores e mais leves. Concluiu também que havia um número excessivo de extremos entre os mortos – aves muito grandes ou muito pequenas. Ao fim do trabalho, Bumpus (1899, p. 219; tradução livre) sentenciou [2]:

O processo de eliminação seletiva é mais severo com os indivíduos extremamente variáveis, não importando em que direção as variações venham a ocorrer.

Os tentilhões das Galápagos

Situado nas proximidades da linha do equador, a uns 960 km a oeste da costa do continente sul-americano, Galápagos é um arquipélago de ilhas vulcânicas relativamente jovens. Nos 37 dias (19 em terra) em que esteve lá, Darwin visitou quatro das 16 ilhas principais. Colecionou amostras e fez registros sobre plantas e animais que encontrou [3].

Embora tenha reunido ao longo da viagem uma respeitável coleção (fósseis, plantas, aves, insetos etc.), o jovem Darwin cometeu os seus deslizes. Em Galápagos, especificamente, ele deixou de coletar boas amostras de espécies afins (e.g., tartarugas e tentilhões) vivendo em ilhas distintas. Tais amostras, como ele se daria conta depois, poderiam atestar dois fenômenos:

(1Segregação espacial – embora o arquipélago como um todo abrigue várias espécies de determinados grupos zoológicos (e.g., aves, lagartos, tartarugas), cada ilha tende a abrigar representantes exclusivos de cada grupo; e

(2Segregação de hábitos – espécies afins (e.g., tentilhões) que vivem na mesma ilha tendem a explorar recursos diferentes.

De volta à Inglaterra, Darwin encaminhou partes de sua coleção a vários especialistas. As peles de aves foram examinadas por John Gould (1804-1881). O ornitólogo inglês identificou nove espécies de tentilhões (em quatro gêneros, GeospizaCactospizaCamarhynchus e Certhidea). Outras cinco (e mais dois gêneros, Platyspiza e Pinaroloxias) seriam identificadas posteriormente.

Essas 14 espécies de tentilhões (13 encontradas em Galápagos e uma, na Ilha do Coco, território da Costa Rica, ao norte do arquipélago) formam uma linhagem monofilética (leia-se todas elas descendem de um mesmo ancestral comum), talvez de uma única população colonizadora. Os colonizadores vieram da América do Sul ou Central, alcançando o arquipélago há pouco mais de 1,5 milhão de anos.

Os tentilhões já foram estudados por diversos cientistas, incluindo o biólogo inglês David [Lambert] Lack (1910-1973), autor do clássico Darwin’s finches (Cambridge University Press, 1947).

Lack foi o primeiro a mostrar que os tentilhões que vivem em Galápagos, ao contrário do que até então se imaginava, não hibridizam livremente entre si. E o mais importante: ele obteve evidências de segregação e deslocamento de caracteres: (1) tentilhões cujos bicos são parecidos (forma e tamanho) não são encontradas vivendo em uma mesma ilha; e (2) duas ou mais espécies de tentilhões cujos bicos são similares em alopatria, exibem diferenças notáveis quando são encontradas em uma mesma ilha.

A partir da década de 1970, os tentilhões foram adotados como objeto de pesquisa pelos biólogos ingleses Peter e Rosemary Grant (ambos nascidos em 1936) [4]. Ainda em andamento, o trabalho de campo deles é uma empreitada impressionante: um minucioso estudo de longa duração sobre a dinâmica evolutiva.

O grau de detalhamento que o casal Grant conseguiu estabelecer não tem precedente. Faz pensar no programa de pesquisa personalizada iniciado pela zoóloga inglesa Jane Goodall (nascida em 1934), em 1962, com a ressalva de que as aves em Galápagos são bem mais numerosas do que os chimpanzés de Gombe.

Todos ou quase todos os adultos das populações monitoradas (em especial na ilha de Dafne Maior [33 ha]) já foram capturados e receberam anéis de identificação nas pernas. Os pesquisadores têm registros detalhados a respeito da vida de cada indivíduo, de sorte que é possível saber quem é filho de quem ou quem é pai ou mãe de quem; o peso do corpo de cada um, em diferentes estações do ano; quem se alimenta disso ou daquilo; e assim por diante.

Uma parte significativa dos registros já foi processada, tendo sido apresentada e discutida em livros e artigos científicos. Algumas dessas publicações são exemplos notáveis do estudo da evolução em carne e osso: como as interações ecológicas – notadamente a competição (intra e interespecífica) por itens alimentares (sementes) – estão a guiar a dinâmica evolutiva dessas aves. E o mais impressionante: resultados significativos foram obtidos em um intervalo de tempo de apenas alguns anos. Perfeitamente acessível, portanto, aos observadores humanos.

A obra dos Grant é um marco. E eu penso que ela pode (e deve) servir de exemplo e inspiração aos nossos jovens estudantes.

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Notas

Artigo extraído e adaptado do livro O que é darwinismo (2019). (A versão impressa contém referências bibliográficas.) Para detalhes e informações adicionais sobre o livro, inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato com o autor pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Dois outros exemplos são apresentados e discutidos no livro.

[2] Bumpus – 1899. In: Biological lectures delivered at the Marine Biological Laboratory of Wood’s Holl 6: 209-26 – alude aos pardais de porte extremo (os menores e os maiores). Os dados e as conclusões dele já foram analisados e discutidos por outros autores.

[3] Darwin esteve em San Cristóbal, Floreana, Isabela e Santiago (em inglês, Chatham, Charles, Albemarle e James). Entre ilhas, ilhotas e rochedos, são ao menos 121 unidades (13 com mais de 1.000 ha). A idade varia; as ilhas mais antigas podem ter emergido há 3-4 milhões de anos. Em 1964, parte do arquipélago, que é território equatoriano, passou a abrigar uma estação de pesquisa.

[4] O casal fez carreira na Universidade de Princeton (EUA), razão pela qual eles às vezes são erradamente identificados como estadunidenses.

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26 setembro 2019

Chuva prazenteira


Chove!
E chove desde a manhã.
É alvissareiro. Pois ainda não havia chovido assim este mês.
Setembro. É quando as chuvas chegam após a estiagem do verão.

Chuvas...
Acalmam a terra.
Abraçam as montanhas.
Embelezam o meu dia.

24 setembro 2019

¿De qué se ocupa la biología?

Christopher Longuet-Higgins

Podemo resumir esta línea de pensamiento de la siguiente manera: los organismos son ‘orgánicos’ en el sentido de que se organizan ellos mismos y organizan su medio ambiente en relación con ellos. Organización, en este sentido activo, es la ejecución de un programa. De la misma manera que un programa consiste el la evaluación de una série de funciones matemáticas, la vida de un organismo consiste en la realización de sus distintas funciones biológicas. Si, tal como yo creo, la física y la química son conceptualmente inadecuadas para proporcionar una estructura teórica a la biología, ello se debe al hecho de que estas disciplinas carecen del concepto de función, y, consiguientemente, del concepto de organización. En cierta manera, las ideas de estructura y función son completamentarias en el sentido que Bohr asigna a esta palabra; un reloj non es meramente una distribución bastante curiosa de la materia; es un mecanismo para dar la hora. Esta deficiencia conceptual de la física y de la química non es compartida, sin embargo, por las ciencias de la ingeniería. No será extraño, por tanto, que corresponda a los ingenieros, y en particular a los especialistas en computación, dejar oír en más de una ocasión su voz autorizada en orden a la formulación de la biología teórica.

Fonte: Waddington, C. H., ed. 1976 [1968-70]. Hacia una biología teórica. Madri, Alianza.

22 setembro 2019

Os galgos


Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918). Os galgos. 1911.

Fonte da foto: Wikipedia.

20 setembro 2019

La evolución de la dominancia

Philip M. Sheppard

Hasta aqui hemos hablado de la dominancia como si se tratara de la propriedad de un nuevo gen mutante, respecto al tipo normal, determinado al formarse por mutación. Sin embargo, está claro que la dominancia ha de ser atributo de un fenotipo y no del gen propiamente dicho. Esto es evidente si se tiene presente que en muchos ejemplos de polimorfimo estable, con heteocigoto en ventaja sobre ambos homocigotos, dicho heterocigoto no se distingue por su aspecto de uno de los homocigotos. Es decir, existe una dominancia absoluta en cuanto al aspecto visual. Sin embargo, de extenderse dicha dominancia a todos los caracteres que el gen controla, el heterocigoto sería idéntico al homocigoto y, por consiguiente, no podría estar en ventaja, sino que tendría el mismo valor selectivo. Pese al hecho de que la dominancia se refiere a un atributo de un carácter y no de um gen, a menudo resulta conveniente llamar dominante a un alelomorfo o simplesmente recesivo por razones de brevedad. Esto es lo que he hecho a veces, si bien habrá que tener en cuenta que se trata de una notación abreviada en la cual se indica que uno o varios efectos del mutante son dominantes o recesivos, afirmación no absolutamente cierta por lo que se refiere a los demás caracteres no analizados.

Fonte: Sheppard, P. M. 1973 [1967]. Selección natural y herencia. Barcelona, Labor.

18 setembro 2019

Sobre a vida e obra de Charles Darwin


Filho de Robert Waring Darwin (1766-1848) e Susannah Wedgwood (1765-1817) – ele um médico, ela uma dona de casa –, Charles Robert Darwin nasceu em Shrewsbury, no centro-oeste da Inglaterra, em 12/2/1809.

Foi o penúltimo em uma família de seis irmãos (todos atingiram a maturidade): Marianne (1798-1858), Caroline (1800-1888), Susan (1803-1866), Erasmus (1804-1881), ele e Emily (1810-1866).

Aos 16 anos, seguindo uma tradição familiar do tempo de seu avô paterno, Darwin foi enviado a Edimburgo (Escócia), onde deveria estudar para se tornar médico. Acompanhado de Erasmus, chegou à cidade em outubro de 1825. (Seu irmão estudava medicina em Cambridge, na Inglaterra.)

Apreciou muito a atmosfera cosmopolita e a agitação da Atenas do Norte. As aulas que tinha de assistir, no entanto, eram tediosas, quando não um verdadeiro martírio. Nas palavras de Desmond & Moore (1995, p. 47; grafia original) [1]:

O desencanto de Charles foi acelerado por seus estudos clínicos. Ele caminhou pelas alas da Enfermaria Real, perto da faculdade, e o que viu o perturbou. Charles compartilhava com seu pai o horror pelo sangue, mas, ao contrário do Doutor, nunca perseverou para superar essa hipersensibilidade. Suas duas visitas a salas de operação reviraram seu estômago, reforçando seu medo mórbido de sangue humano. Ali o corte era sangrento e rápido; nos dias da cirurgia heróica, antes do anestésico, a velocidade era essencial para reduzir o trauma do paciente, sempre enfaixado e berrando. Mãos imundas agarravam serras imundas, talhando e cortando rapidamente, o sangue correndo para baldes de serragem. Os estudantes acotovelavam-se todos em torno, na atmosfera tensa e vaporosa, lutando por uma olhada. Durante uma operação particularmente difícil em uma criança, Charles finalmente fugiu da sala, incapaz de assistir e determinado a nunca mais entrar em uma sala de operações. Aquela visão assombrou-o pelo resto da vida.

Em março de 1827, abandonou Edimburgo de vez – sem concluir o curso. Passou alguns meses viajando – conheceu Londres e Paris. Voltou para casa. Ficou decidido que ele iria estudar na Universidade de Cambridge – se não queria ser médico, que fosse ao menos um membro da igreja.

Chegou a Cambridge em janeiro de 1828. Além das disciplinas obrigatórias, assistia a aulas de história natural (e.g., botânica e geologia). Já era um naturalista amador, mas influenciado pelas aulas de John S. [Stevens] Henslow (1796-1861), um professor “agradável e de boa índole”, de quem se tornou pupilo e companhia assídua, passou a se interessar pelo assunto mais seriamente.

Concluiu os exames finais em janeiro de 1831 – nunca chegou a ser um aluno brilhante, apenas tomava o cuidado de não ser reprovado. Na época, não tinha grandes ambições em torno de uma carreira acadêmica. Na verdade, o jovem Darwin não parecia saber muito bem o que queria da vida...

Assim, com o diploma na mão, a sua perspectiva mais promissora era assumir uma paróquia em alguma cidade do interior.

Foi então que recebeu uma carta de Henslow.

Isso foi em agosto de 1831.

Seu antigo mentor instigava-o agora a aceitar uma vaga (não remunerada) em um navio hidrográfico que estava prestes a zarpar – a previsão inicial era que a viagem durasse uns dois anos. Gostou e acatou a sugestão. Mas o Doutor – o pai dele – foi contra, alegando que aquilo era “mais uma evidência da preocupação do filho em se divertir sem rumos”. Os tios intercederam e o Doutor não só consentiu com a viagem como deu algum dinheiro ao filho.

A presença de alguém como Darwin a bordo – não propriamente como naturalista, mas sim como uma espécie de interlocutor e ajudante letrado – era uma reivindicação do comandante, o jovem oficial militar e meteorologista Robert FitzRoy (1805-1865) [2].

A viagem do Beagle

A viagem de Charles Darwin ao redor do mundo é um episódio famoso e bem conhecido na história da ciência, embora o relato às vezes contenha imprecisões.

Algumas delas: o HMS Beagle (HMS é a sigla em inglês para a expressão ‘Navio de Sua Majestade’) não era um navio de pesquisa científica; Darwin não participou da expedição com o propósito de encontrar evidências a favor de sua teoria evolutiva (ele sequer voltou para casa com uma teoria evolutiva na cabeça); a passagem pelas ilhas Galápagos foi uma experiência marcante (sobretudo pelo que aconteceria depois), mas ele não teve nenhum lampejo revolucionário durante as cinco semanas que passou no arquipélago; suas ocupações científicas durante a expedição tiveram mais a ver com geologia do que com biologia.

A viagem teve início em Plymouth, cidade portuária no sul da Inglaterra, de onde o Beagle zarpou em 27/12/1831, atracando de volta em 2/10/1836. O alvo principal da expedição era a América do Sul (3/4 de um total de 58 meses foram passados aqui), sobretudo Argentina e Chile. Atracou em terras brasileiras: na vinda, esteve em Fernando de Noronha (20/2/1832) e nas cidades de Salvador (28/2 a 18/3/1832) e Rio de Janeiro (3/4 a 5/7/1832); na volta, esteve em Salvador (1 a 6/8/1836) e, por razões de avaria, em Recife (12 a 19/8/1836). Foi a segunda das três viagens que o navio faria antes de ser aposentado pela Marinha britânica, em 1843.

Na maior parte do tempo, Darwin esteve ocupado com problemas geológicos, como a questão do soerguimento dos continentes e o afundamento do assoalho oceânico. O navio tinha uma pequena biblioteca e ele contava também com a correspondência que chegava da Inglaterra. Levou ainda alguns livros – e.g., o volume 1 de Principles of geology (John Murray, 1830), de Charles Lyell, com quem mais tarde estabeleceria uma amizade duradoura.

A leitura dessa obra – sugestão de Henslow – teve um papel decisivo em sua formação. O volume se converteria não só em livro de cabeceira como também em referência-chave a iluminar muitas das observações que fez durante a viagem. Recebeu o segundo volume em Montevidéu, em novembro de 1832.

Antes de chegar às Galápagos, em setembro de 1835, Darwin esteve pouco envolvido com problemas biológicos. Uma das exceções foi a questão da origem e formação dos atóis. Como muitos geólogos da época, sua preocupação era coletar e identificar materiais de amostra, incluindo restos fósseis. Coletava espécimes, claro, mas as questões biológicas só assumiriam a primazia após ele perceber a relevância e as interconexões entre alguns dos seus achados. E essa reviravolta só ocorreria mais tarde, já na Inglaterra, anos depois de sua breve estada em Galápagos.

Durante a viagem, preencheu cadernos com notas, efetuou escavações e colecionou amostras. Havia se preparado para isso, tendo embarcado caixas e caixas com equipamentos – desde jarros de vidro e conservantes químicos para acondicionar espécimes até instrumentos de dissecação e aparelhos de precisão. Presenciou erupções vulcânicas e, enquanto esteve no Chile, testemunhou os efeitos devastadores de um abalo sísmico. Esta última experiência, exemplo dramático da lição que estava a aprender com Lyell – “a superfície do planeta muda!” –, mexeu muito com ele [3].

Quando embarcou, o jovem Darwin era um confiante defensor do fixismo (leia-se: crença segundo a qual cada espécie foi criada em separado e, desde então, permaneceu mais ou menos inalterada). No plano pessoal, era um sujeito fervorosamente religioso.

A viagem chacoalhou com os seus credos científicos. As mudanças, no entanto, não se deram bruscamente nem todas de uma só vez. Novas ideias foram amadurecendo aos poucos, tanto durante como após a viagem. Os princípios que cultivou ao longo da vida foram o resultado de inúmeras leituras, conversas e correspondências. Conduziu pesquisas e experimentos em sua própria casa [4].

Embora nunca mais viesse a participar de qualquer excursão ou viagem científica, manteve o senso crítico e um apurado senso de observação. Anos mais tarde, ele escreveria na autobiografia (Darwin 1958, p. 28; tradução livre) [5]:

A viagem do Beagle foi de longe o acontecimento mais importante na minha vida e determinou toda a minha carreira [...]. Sempre achei que devo à viagem o primeiro e real treinamento ou educação do meu intelecto; fui levado a me debruçar atentamente sobre vários ramos da história natural e, assim, o meu senso de observação foi aprimorado, embora sempre tenha sido bem desenvolvido.

De volta à Inglaterra

Em outubro de 1836, já em casa, Darwin começou a organizar as anotações que havia feito durante a viagem. Converteu parte delas em um livro respeitável, Journal and remarks (The voyage of the Beagle), publicado em 1839.

Em março de 1837, ele passou a fazer anotações sobre a transmutação das espécies, um costume que resultaria nos cadernos da transmutação. Sua pretensão era converter todas essas anotações em uma ampla e detalhada teoria da evolução – empreendimento ao qual ele deu o título de Seleção natural.

Em setembro de 1838, para “se distrair”, leu Um ensaio sobre o princípio da população, do clérigo e estudioso inglês Thomas Robert Malthus (1766-1834) [6]. Embora não concordasse com todos os pontos de vista defendidos pelo autor, a análise demográfica contida no livro foi uma grande inspiração para Darwin, influenciando-o de modo decisivo.

Segundo Malthus, a população de um país tende a crescer mais rapidamente do que a base de recursos da qual ela se alimenta. Tal descompasso implicaria em fome, miséria e conflitos, e ajudaria a explicar a sucessão de surtos que caracterizam a história humana: períodos de crescimento populacional são sucedidos por episódios durante os quais algum surto de mortalidade elevada ceifa a vida de uma parcela expressiva da população. A duração e a intensidade dessas crises seriam proporcionais ao descompasso entre o tamanho da população e a base de recursos.

Não havia motivos para restringir a análise malthusiana às populações humanas. Afinal, a multiplicação é um fenômeno universal. Generalizando, então, poderíamos dizer que o crescimento de toda e qualquer população é constantemente inibido por forças restritivas. O aparente equilíbrio da natureza – a estabilidade numérica das populações – ocultaria assim um entrechoque entre duas grandes forças: a produção de muitos novos indivíduos e a destruição de quase todos eles. O que varia são as fontes de destruição (e.g., escassez alimentar, inimigos naturais etc.).

Em 1842, Darwin escreveu um primeiro esboço completo a lápis. Em 37 páginas, reuniu pela primeira vez a miríade de temas e questões em torno dos quais vinha trabalhando tão insistentemente. Reescreveu esse esboço mais de uma vez. Em meados de 1844, o esboço havia se convertido em um ensaio com 189 páginas. Encaminhou o manuscrito para um copista; no final de setembro, recebeu o material de volta, ocupando agora 231 páginas. Em seguida, a cópia foi enviada ao jovem botânico Joseph Dalton Hooker (1817-1911), já então um dos seus interlocutores mais íntimos.

Vestígios da criação

Em outubro de 1844, Londres foi sacudida por uma grande novidade: o livro Vestiges of the natural history of creation (J Churchill, 1844), publicado anonimamente. Foi um sucesso e tanto, edição atrás de edição. O autor era o geólogo e editor escocês Robert Chambers (1802-1871); sua identidade, no entanto, só seria revelada postumamente, na 12ª edição (1884).

Hooker gostou do livro, mas Darwin não o via com bons olhos – a geologia e, sobretudo, a zoologia ali contidas lhe pareciam particularmente ruins. Com as reedições, o livro foi sendo remendado; erros e mal-entendidos foram suprimidos; o texto foi ficando mais sério e o impacto cultural foi se ampliando. O próprio autor, entretanto, o via como uma mera extravagância, preferindo permanecer no anonimato.

Aos olhos de Darwin, o anonimato era mais uma demonstração de que, dado o conturbado contexto cultural e político da época, ele próprio deveria ter mais cuidado na divulgação de suas ideias evolucionistas.

O seu Journal and remarks (1839) foi um sucesso e Darwin continuou escrevendo e publicando com regularidade – entre 1842 e 1854, por exemplo, ele publicaria sete livros: The structure and distribution of coral reefs (1842), Geological observations on the volcanic islands visited during the voyage of H. M. S. Beagle (1844), Geological observations on South America (1846) e mais os quatro volumes de sua monografia sobre as cracas (1851-1854).

A carta que veio da Indonésia

Em 1858, transcorridas duas décadas desde que começara a colocar no papel suas ideias sobre a transmutação, Darwin ainda estava a mexer no manuscrito de Seleção natural. Correções, acréscimos, remoções, novos exemplos – o trabalho parecia não ter fim.

Tudo mudou depois de 18 de junho...

Foi nesse dia que o veterano naturalista, em meio a graves problemas familiares, recebeu uma correspondência (uma carta acompanhada de um manuscrito) vinda das ilhas Molucas (atual Indonésia). O remetente era Wallace. O texto foi escrito na ilha indonésia de Halmahera (outrora Gilolo), em fevereiro de 1858, e enviado a Darwin da ilha vizinha de Ternate, no mês seguinte [7].

O jovem naturalista pedia a Darwin que lesse o manuscrito e, caso visse nele algum valor, que o encaminhasse a Lyell, visando uma possível publicação.

Darwin levou um choque com o que leu: o ensaio de Wallace continha uma descrição bastante familiar de suas próprias ideias a respeito da evolução por seleção natural. A coincidência o deixou apavorado – afinal, qualquer um que lesse o manuscrito que ele acabara de receber e, em seguida, visse os seus escritos sobre o mesmo assunto, bem poderia acusá-lo de plágio. (Os dois, a rigor, partiram de pressupostos algo distintos e produziram modelos um pouco diferentes. Wallace, por exemplo, via a seleção mais como um processo de tudo ou nada – dadas as circunstâncias, os indivíduos são aptos ou inaptos. Para Darwin, no entanto, trata-se de algo relativo, fruto, sobretudo, de interações intraespecíficas – dadas as circunstâncias, alguns indivíduos são mais ou menos aptos que os outros.)

Diante da ameaça de ver “ruir” o “trabalho de [sua] vida”, Darwin pediu ajuda a seus dois interlocutores mais próximos, Hooker e Lyell. Os dois conheciam os seus escritos. (Em 1855, tendo lido um artigo de Wallace, Lyell chamou a atenção de Darwin, sugerindo a ele que publicasse logo um resumo de suas ideias a respeito da seleção natural, antes que algum outro autor publicasse algo parecido,  de modo a assegurar sua precedência...)

Pois foram Lyell e Hooker que propuseram a divulgação de uma nota conjunta. Diante do ocorrido, esta talvez representasse a saída de emergência mais diplomática. O fato foi que Wallace não chegou a ser previamente consultado – não havia tempo! –, uma decisão que ainda hoje dá pano para manga...

A nota a ser lida da Linnean Society deveria conter um esboço da teoria formulada independentemente por Darwin e Wallace, além de algum documento que indicasse a precedência dos escritos do primeiro.  E assim foi feito.

Visto em retrospecto, o episódio despertou tão pouca atenção na época que, ao resumir as atividades promovidas naquela temporada, o presidente da Linnean Society chegou a comentar que nenhuma “grande descoberta, dessas que revolucionam a ciência” havia sido apresentada. O impacto e a repercussão das ideias ali contidas só seriam ouvidos no ano seguinte, quando Darwin finalmente publicou Sobre a origem das espécies – versão abreviada e simplificada de Seleção natural, o qual permaneceria para sempre como um empreendimento inacabado.

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Notas

Artigo extraído e adaptado do livro O que é darwinismo (2019). (A versão impressa contém referências bibliográficas.) Para detalhes e informações adicionais sobre o livro, inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato com o autor pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] Desmond, A & Moore, J. 1995 [1991]. Darwin – A vida de um evolucionista atormentado. SP, Geração.

[2] O comandante anterior, Pringle Stokes (1793-1828), tentou se matar. Em pleno estreito de Magalhães (sul da Argentina), após dois anos de viagem (1826-8) e diante das desoladoras condições do inverno, um deprimido Stokes atirou contra a própria cabeça. Mas ele sobreviveu ao tiro, vindo a falecer de tétano, 12 dias depois. FitzRoy temia que algo assim viesse a ocorrer com ele, motivo pelo qual queria companhia – alguém com quem pudesse conversar de igual para igual. Anos depois da viagem, um deprimido e desiludido FitzRoy terminaria mesmo cometendo suicídio.

[3] Ele estava perto da cidade de Valdívia. Era 20/2/1835.

[4] Charles e Emma se casaram em 29/1/1839. Entre 1839 e 1842, o casal morou em Londres, em uma casa alugada – a Cabana da Arara (Macaw Cottage), expressão que Darwin criou em alusão às cores berrantes das paredes e da mobília. (O edifício não existe mais.) Lá nasceram os dois primeiros filhos. Em setembro de 1842, a família foi morar em uma propriedade rural no vilarejo de Dowde, a cerca de 20 km do centro de Londres. Lá tiveram mais oito filhos e lá viveram o restante de suas vidas juntos. Nas palavras de Stefoff (Charles Darwin: A revolução da evolução. Companhia das Letras. 2007 [1996], p. 58-60; grafia original):

Em 1842 Darwin comprou uma propriedade no povoado rural de Dowde chamada Down House, situada no condado de Kent, nos arredores de Londres. Darwin adorou essa nova casa, onde vivia cercado de árvores e flores em vez de ruas e fuligem. Adaptou uma sala espaçosa em gabinete e começou a abarrotá-la de livros, anotações sobre trabalhos em andamento e pilhas de correspondência. A casa era grande o suficiente para abrigar uma equipe de criados e a família crescente de Darwin. Em 1856, ele e Emma já tinham dez filhos: Willian, Anne (Annie), Mary, Henrietta (Etty), George, Elizabeth (Bessy), Francis, Leonard, Horace e Charles. Mary e Charles morreram ainda bebês; Annie morreu aos dez anos após uma doença grave, uma tragédia que perseguiu Darwin para sempre.
A vida em Down House logo engendrou em uma rotina tranquila que Darwin seguiu, com poucas exceções, pelo resto da vida. Ele começava o dia com uma caminhada por Sandwalk, a alameda de areia que ele mandara fazer ao redor de um bosque no terreno da propriedade. Depois do desjejum, escrevia em seu gabinete das 8h à 9h30, em seguida lia a correspondência do dia. Às 10h30 voltava a trabalhar por cerca de uma hora, antes de dar mais uma volta em Sandwalk. A essa hora, às vezes, tomava uma ducha fria, que acreditava fazer bem à sua saúde.
Depois da refeição do meio-dia, ele lia jornal e escrevia cartas na sala de estar. Às 3 da tarde, repousava no quarto por uma hora. Emma frequentemente lia romances para ele em voz alta nesses momentos. À tardinha, Darwin fazia outra caminhada e trabalhava por mais uma hora. Quando seus filhos eram pequenos, ele costumava fazer pausas imprevistas para brincar com eles no jardim.
Depois de uma leve refeição à noite, gostava de jogar partidas de gamão com Emma. (O cuidado com que ele fazia o registro dos resultados dos jogos reflete sua paixão por colidir e registrar dados: em 1876 ele informou a seu amigo Asa Gray, botânico americano, que vencera 2795 partidas, e Emma, 2490.) Depois de ler um livro científico durante uma ou duas horas, Darwin deitava-se às 10h30.

[5] Darwin, F, ed. 1958 [1892]. The autobiography of Charles Darwin and selected lettersNY, Dover.
Embora tenha reunido ao longo da viagem uma respeitável coleção (fósseis, plantas, aves, insetos etc.), o jovem Darwin cometeu os seus deslizes. Em Galápagos, especificamente, ele deixou de coletar boas amostras de espécies afins (e.g., tartarugas e tentilhões) vivendo em ilhas distintas.

[6] Malthus, T. 1798. An essay on the principle of populationLondon, J Johnson. A 1ª edição (1798), a rigor, foi publicada anonimamente. Uma 2ª edição, bem modificada e já com o nome do autor, apareceria em 1803. Outras quatro edições seriam publicadas, em 1806, 1807, 1817 e 1826.

[7] Há quem questione se a carta de Wallace chegou alguns dias antes ou se teria mesmo chegado às mãos de Darwin em 18/6/1858. Mas tal desconfiança tem sido criticada. A opinião predominante entre os estudiosos é a de que a primazia em torno da teoria evolutiva caberia mesmo a Darwin. O qual, de resto, nada teria feito para sabotar o papel e a importância da obra e da participação de Wallace.

***

16 setembro 2019

Sou água

Telma Regina

Sou água ligeira que escorre nas pedras
sem limo deixar.
Sou água, sou espuma que das alturas despenca
como pétalas de flores encantando olhares
que se esparrama a brincar
nos grandes remansos com outras águas
que escorrem sem limo deixar.
Sou água que escorre
nos desfiladeiros das serras
nos imprevistos dos rios
na apoteose da pororoca
e nas ondas serenas e bravias do mar,
que nas areias das praias vai descansar,
já esquecida que sou água ligeira
que escorre nas pedras sem limo deixar.

Fonte: Regina, T. 2018. Vivências poéticas. Juiz de Fora, Gryphon.

15 setembro 2019

Doze anos e onze meses no ar

F. Ponce de León

Na última quinta-feira, 12/9, o Poesia contra a guerra completou 12 anos e onze meses no ar.

Desde o balanço anterior – ‘Doze anos e dez meses no ar’ – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: C. U. M. Smith, Frederick R. Whatley, Iván Izquierdo, Jean M. Whatley, Maria do Carmo Caixeta e Wilson Pereira. Além de outros que já haviam sido publicados antes.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Félix Bernardelli, Georgina de Albuquerque e John Sloan.

06 setembro 2019

Crianças mimadas no reino das samambaias floridas


A edição de segunda-feira (2/9) do programa Roda Viva (TV Cultura) deu (e tem dado) o que falar. Sobretudo por conta do comportamento vexatório dos jornalistas encarregados de entrevistar Glenn Greenwald (The Intercept Brasil), o convidado daquele dia.

Não assisti. Mas uma coisa me parece óbvia: A despeito do viés ideológico, o baixo nível dos profissionais brasileiros é notável e espantoso. Vale para os jornalistas – GG sozinho faz o que uma redação inteira não faz –, mas vale também para qualquer outra área de atuação.

Veja os médicos cubanos, cada um dos quais sendo capaz de fazer o que 10 médicos brasileiros não fazem. Veja os físicos russos, cada um dos quais a resolver problemas que 20 físicos brasileiros não resolvem. E veja os escritores portugueses, cada um dos quais a escrever o que 30 escritores brasileiros não escrevem. E a lista prossegue…

O problema não é de hoje. Boa parte disso, eu arriscaria dizer, tem a ver com o baixo nível e a apatia de nossas universidades. (E estou aqui a me referir às nossas ‘melhores universidades públicas’. Pois as faculdades e universidades particulares, com uma ou duas exceções, são meras arapucas e deveriam estar fechadas, a bem da saúde pública.)

A distância entre as samambaias (Pindorama) e as árvores (Gringolândia) é grande. Mas nada é tão ruim que não possa piorar: Sem mudanças políticas profundas, a distância entre o centro e a periferia (assim como a distância entre ricos e pobres) só tende a aumentar. Para quem não está familiarizado com a apatia de nossa vida acadêmica, deixo aqui uma provocação.

Considere a densidade intelectual que se experimenta na Universidade da Califórnia (EUA). Embora talvez seja a maior ou uma das maiores universidades do mundo, com seus múltiplos campi (Berkeley, Davis, Los Angeles, San Diego, São Francisco etc.), trata-se apenas de uma entre dezenas de grandes instituições acadêmicas existentes na Gringolândia.

Pois a balbúrdia que se promove na Universidade da Califórnia é bem superior à balbúrdia que todas as universidades brasileiras juntas são capazes de oferecer. Mas não se iluda: A distância entre nós e eles não tem a ver só com diferenças orçamentárias. Tem a ver, antes de tudo, com diferenças de estilo e propósito: Enquanto por lá a água ferve, por aqui ela permanece estagnada. E água estagnada costuma apodrecer.

De resto, somos muito mais provincianos e infantis do que eles [1]. (Não é só Jair Bolsonaro que é uma cópia de segunda mão de um bufão estrangeiro…)

Sem uma vida intelectual dinâmica e vigorosa, nós estamos condenados a continuar vivendo como crianças mimadas. Pois não foi justamente isso que o Roda Vida da última segunda-feira ofereceu aos seus telespectadores: Um adulto – mal e exageramente maquiado – em meio a um bando de crianças mimadas e analfabetas?

Pois, então. Trata-se de um genuíno retrato da sociedade impossível (como diria Jorge de Lima [1893-1953]) em que vivemos – O reino das samambaias floridas.

*

Notas

[*] O autor está a lançar O que é darwinismo (2019). Para detalhes e informações adicionais sobre o livro, inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato com o autor pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] A idiotia e a infantilização da vida pública não são, evidentemente, privilégios da sociedade brasileira. Para algumas considerações a respeito do problema, veja a entrevista com a filósofa estadunidense Susan Neiman (nascida em 1955) no vídeo a seguir: (https://www.youtube.com/watch?v=JeNQVJ781ig). (Legendas podem ser acionadas.) Neiman é autora, entre outros, de O mal no pensamento moderno (Difel, 2003) e Why grow up? (2015).

*

05 setembro 2019

Passará ele?


[Atiliano] Félix Bernardelli (1862-1908). Passará ele? 1894.

Fonte da foto: Wikipedia.

03 setembro 2019

O pequeno protegido

Wilson Pereira

O que eu trouxe
da infância comigo
está em mim
quase vencido.

Como um herói
desfeito em palavras
guardei pouco
para ser vivido.

Mas não me disse bem,
pois pouco me sei;
o que sôo é mais
o que de mim inventei.

Na verdade o menino
não cresceu comigo:
minha mãe o tem em si,
pequeno e protegido.

Fonte (estrofes, 1, 3 [parte] e 4): Horta, A. B. 2003. Sob o signo da poesia. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1988.

01 setembro 2019

Estátuas


Que linha secreta
o vento desenhou
ao longo do perfil
tão breve das estátuas?

Talvez seja a imagem
das nuvens que ficam
suspensas na memória
como lentas palavras

Ou a força esquecida
que chega nos corpos,
para entregar à fronte
o seu peso imóvel.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1959.

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